Política

FORO PRIVILEGIADO - Inquérito contra Jucá é um dos mais antigos no STF

Inquéritos levam mais de 10 anos sem desfecho no Supremo e do senador peemedebista já chegou a 14

 

 

Um grupo de 30 inquéritos sobre parlamentares com foro privilegiado no STF (Supremo Tribunal Federal) tramita há mais de seis anos sem desfecho. São os casos mais antigos no tribunal, segundo levantamento a partir de listagem fornecida pela corte. Destes, sete estão há mais de dez anos inconclusos, como é o caso contra o senador Romero Jucá.

Aberto pela Polícia Federal há quase 14 anos, o inquérito conta com uma fita cassete entregue por uma comissão de assentados da reforma agrária na qual o então prefeito de Cantá havia dito a um empreiteiro que receberia uma “comissão” de 10% sobre recursos públicos liberados e que um senador de Roraima, supostamente Jucá, também receberia um percentual por emendas destinadas ao município.

Apenas em 2016 o STF autorizou quebra de sigilo bancário. Os resultados estão sendo analisados pela PGR.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em maio, Jucá foi indagado sobre o caso de Cantá e respondeu: “Estou muito tranquilo contra qualquer investigação. Estamos numa democracia, qualquer servidor público deve ser investigado”.

OUTROS CASOS – Reportagem da Folha revelou neste último domingo, dia 6, que as 84 ações penais (em que o inquérito já foi encerrado e o acusado virou réu) hoje em andamento no STF estão, em média, há sete anos e oito meses sem solução final.

O cálculo considera a data do início da apuração, mesmo que em primeira instância, pois muitos casos são paralisados e passam ao STF por força do foro privilegiado.

Ao todo, 362 inquéritos estão em andamento no tribunal sobre políticos com foro, entre deputados federais, senadores, ministros de Estado e do TCU (Tribunal de Contas da União), segundo a lista do STF.

Entre os mais longos está o que trata de depósitos da empreiteira Mendes Júnior, feitos por um lobista, ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o crescimento patrimonial do parlamentar.

O caso foi aberto há mais de nove anos para apurar a suspeita de que a empresa pagou pensão para uma filha do senador com uma jornalista.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou denúncia só em 2013, sob as acusações de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso.

Somente no mês passado o atual ministro relator do caso, Luiz Fachin, liberou o inquérito para ser analisado em plenário. Se a denúncia for aceita, Renan se tornará réu pela primeira vez no STF.

Outro dos inquéritos mais longevos trata do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e está paralisado há quatro anos porque o STF considerou que é necessário primeiro haver uma solução sobre a discussão administrativa acerca do recolhimento de Imposto de Renda do peemedebista.

Na denúncia, a Procuradoria afirmou que, de 1997 a 2000, o parlamentar “utilizou-se indevidamente da redução da base de cálculo” do imposto. O valor então cobrado foi de R$ 2,8 milhões.

Em 2012, ao mandar paralisar o caso, o ministro Marco Aurélio ordenou também a suspensão do prazo de prescrição. Ele fez um desabafo sobre o volume de trabalho no Supremo: “É de notar que estão aguardando o exame do plenário, consoante revela o sítio do Supremo na internet, 791 processos. Sou relator de 162, o mais remoto liberado em 16 de outubro de 2000”.

Segundo Marco Aurélio, “o quadro retrata a necessidade de otimizar o tempo e conciliar celeridade e conteúdo”.

Três outros inquéritos no STF, sendo dois sobre o deputado federal Vander Loubet (PT-MS), se arrastaram por tanto tempo que a PGR já pediu o arquivamento por prescrição das eventuais penas.

OUTRO LADO – Em nota divulgada na sexta-feira, dia 4, a PGR afirmou que tribunais como o STF e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) “não foram concebidos para instruir processos desde o seu início”.

“A estrutura dessas cortes foi concebida para julgamento de recursos de processos que chegam devidamente instruídos”, informou a PGR.

“Estima-se que existam hoje cerca de 22 mil pessoas com prerrogativa de foro, o que parece um exagero. A discussão deste tema é fundamental, já que é cada vez mais forte na sociedade a ideia de que o modelo atual leva à impunidade. É preciso repensar o foro por prerrogativa de função.”

O STF informou que considera dois anos e quatro meses como o tempo médio de tramitação de uma ação penal no tribunal. O tribunal usou critérios diferentes dos adotados pela Folha para contagem do tempo.

Em manifestação no Supremo, a defesa de Renan Calheiros negou o crime de peculato, afirmou que a denúncia da PGR é “inepta” e disse que “não existe inconsistência da evolução patrimonial” do senador.

Em defesa própria no inquérito, Jader Barbalho afirmou “a regularidade dos rendimentos da atividade rural, a venda de gado”.

Fonte: Folha de São Paulo

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