Cotidiano

Falta de combustível deixa viaturas da Polícia Civil paradas em Roraima

Situação compromete serviços de investigações, entrega de intimações e cumprimento de mandados nas delegacias

Há mais de uma semana, as diligências realizadas pelas delegacias de Polícia Civil, em Roraima, estão praticamente paradas por falta de combustível. Em um dos distritos policiais da Capital, das cinco viaturas disponíveis apenas uma – com meio tanque de gasolina – estaria rodando. A situação tem comprometido os serviços de investigações, entrega de intimações e cumprimento de mandados.

O caso foi denunciado por um servidor do alto escalão da Polícia Civil, que preferiu não ser identificado por medo de represálias. Segundo ele, a Delegacia-Geral está fazendo racionamento de gasolina para as viaturas, o que tem obrigado os policiais a trabalharem apenas em serviços administrativos internos. “Fica difícil, porque não temos como atender todas as ocorrências”, disse.

A falta de combustível compromete inclusive as 24 novas viaturas, entregues no dia 27 de novembro, que deveriam atender a alta demanda nos distritos policiais. Foram entregues 14 carros sedans e dez utilitários esportivos, que deveriam ser utilizados nas diligências de ruas e setores administrativos na Capital e interior. O investimento foi de R$ 1,6 milhão, mas os veículos estão parados.

Conforme o denunciante, a situação é preocupante, pois a delegacia em que trabalha atende ocorrências graves. “Fica extremamente complicado, pois todas as diligências da Polícia Civil requerem deslocamento para preservar o local do crime. Pela ausência de meios, os serviços da Delegacia ficam parados. Caso ocorra um caso que necessite da Polícia Civil, não poderemos estar presente devido à falta de combustível”, afirmou.

Segundo o servidor, o problema ocorre porque a Delegacia-Geral da Polícia Civil não quitou a dívida junto às empresas que fornecem combustível ao órgão e, com isso, os créditos dos cartões de crédito que eram utilizados para o abastecimento das viaturas foram cortados. “Vamos resolvendo com jeitinho, pelas rebarbas que temos. O Judiciário cede um pouco de gasolina para nós e alguns delegados tiram do próprio bolso, mesmo sabendo que não serão ressarcidos”, frisou.

SINDICATO – A reportagem da Folha procurou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindpol), José Nilton, que admitiu a situação delicada da falta de combustível para abastecer as viaturas. “Compra as viaturas e não tem combustível e quando tem [combustível] não tem viatura. Nós vemos a criminalidade crescer de forma exponencial e, em contrapartida, as ferramentas que nós utilizamos na nossa atividade não são disponibilizadas a contento para que possamos fazer frente a essa criminalidade”, criticou.

O caso, segundo ele, foi o estopim para que o Sindicato convocasse uma assembleia geral que deverá ser realizada na próxima semana, em que os policiais civis devem aderir a uma operação padrão. “Não temos como entrar em greve, porque o Supremo nos proibiu de parar, mas podemos fazer operação padrão e teríamos uma tentativa de contrariar a lei da física, que é parar o que já está parado”, pontuou.

GOVERNO – A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado, por meio da assessoria de comunicação da Polícia Civil, e questionou o motivo do racionamento de combustível.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e a Delegacia-Geral de Polícia Civil se limitaram a responder que o fornecimento de combustível para as viaturas que atendem ocorrências e executam trabalhos administrativos já havia sido normalizado, não havendo interrupção no serviço prestado à sociedade.

Após isto, a reportagem entrou em contato novamente com a fonte que denunciou o caso. O servidor informou que a alegação de que a situação havia sido normalizada não procedia e voltou a afirmar que apenas uma das cinco viaturas estaria à disposição da delegacia.

A Folha ainda tentou entrar em contato, por telefone, com a delegada-geral da Polícia Civil, Edinéia Chagas, e com a secretária de Segurança Pública, a também delegada do órgão, Giuliana Castro, mas as ligações não foram atendidas. (L.G.C)