Cotidiano

Falta de medicamento e demora no atendimento são principais queixas

À Folha, entrevistados contaram experiências que passaram junto às unidades de saúde da capital

É um direito de todos e dever do Estado, já garante o Artigo 196 da Constituição Federal de 1988. Se o assunto é saúde, ninguém deve brincar em serviço. Quando adoecemos, é de se esperar receber um atendimento de qualidade nos postos de saúde e, se for o caso, nos hospitais. Mas, como a população de Boa Vista avalia a saúde pública nas unidades de saúde da capital? Qual a experiência junto a essas unidades?

Para responder as perguntas, a equipe de reportagem da Folha percorreu algumas das unidades de saúde para ouvir o que as pessoas que procuram atendimento têm a dizer. Um dos locais visitados foi o Centro de Saúde Olenka Macellaro, localizado no bairro Caimbé, zona oeste. Lá, uma aposentada, que preferiu não se identificar, estava atrás de remédios para diabetes e hipertensão.

A aposentada já tinha passado pelo posto de saúde do bairro Asa Branca, também na zona oeste, mas não conseguiu retirar o remédio pela falta de energia no local, o que impediu o registro de saída do medicamento no computador. No Olenka, ela foi informada que a farmácia só estaria aberta a partir das 19h. “Ainda faltam mais de três horas e eu não vou poder voltar. Amanhã é sábado e não abre, o que eu já acho errado”, disse na sexta-feira, 24.

Ela explicou que costuma se dirigir primeiramente aos postos de saúde quando não se sente bem em relação às doenças. No caso de não haver vagas ou medicamentos, ela se dirige às unidades de média e alta complexidade, como o Pronto Atendimento Cosme e Silva (PACS), no bairro Pintolândia, zona oeste, mesmo sabendo que o caso pode não ser de urgência ou emergência.

Para ela, os postos de saúde deveriam estar mais preparados a demandas inesperadas, que não reparou no término da medicação. Outro ponto destacado por ela foi em relação às equipes de saúde. “Aqui mesmo no Olenka, tem uma atendente que não deveria estar aqui. Ela não sabe como tratar pacientes sem grosseria. Não estou aqui porque eu quero, estou porque preciso”, frisou.

O vigilante Neidson Maia contou que passou cerca de um mês tentando marcar uma consulta na unidade Olenka. Há cerca de duas semanas, ele chegou ao posto e se identificou como hipertenso. Pela condição, esperou ter prioridade. Contudo, foi informado por servidores que a equipe iria passar por uma reunião e que o mesmo deveria voltar depois para o agendamento.

Após ter conseguido marcar a consulta, o vigilante voltou à unidade na sexta-feira, 24. No entanto, a médica responsável não apareceu. Maia relatou que não costuma frequentar outras unidades. Quando não consegue atendimento, volta para casa. “Eu só vou em locais como o Hospital Geral de Roraima (HGR) em último caso mesmo”, disse.

Um servidor público, que preferiu não se identificar, recorreu ao HGR na quinta-feira, 23, depois de não ter conseguido atendimento em dois postos de saúde da cidade. Ele explicou que após o almoço começou a sentir tontura e teve vômitos.

O primeiro lugar por onde passou foi a unidade de saúde Aygara Motta, localizada no bairro Cidade Satélite, zona oeste. Assim que chegou ao local, a superlotação da unidade quase o impediu de entrar. “É o único posto da região. São mais de três mil pessoas pra lá. Eu sei porque sou morador do bairro. A gente vai porque é o mais próximo, mas é sempre cheio”, relatou. Após 15 minutos, o servidor resolveu se dirigir à unidade Professor Mariano de Andrade, no bairro Caranã, onde foi informado que ainda não havia médicos.

Conforme relato, o servidor precisou se dirigir ao HGR para conseguir atendimento. “É sempre minha última opção, porque sempre tá lotado e, por mais que a gente seja atendido rápido por alguns médicos, a fila da medicação é enorme. Estou indo embora depois de mais de uma hora aí dentro. É desse jeito que a saúde pública do Estado é tratada com prioridade?”, questionou. (A.G.G)

Índice de resolutividade da Atenção Básica atinge meta do MS, diz Prefeitura

No que diz respeito à Atenção Básica, a Prefeitura de Boa Vista garantiu que o papel tem sido realizado com afinco, com índice de resolutividade de 80%, conforme preconiza o Ministério da Saúde (MS). Ao todo, o município possui 32 unidades básicas funcionando todos os dias da semana, sendo quatro com atendimento até meia-noite. “Um referencial em toda a Região Norte”, comentou.

O município apontou que, durante o período noturno, são realizados mais de 36 mil atendimentos por mês. Em 2017, até o mês de agosto, o atendimento mensal de todas as unidades básicas de saúde chegou a 237.754 mil. Além disso, reforçou que a Saúde conta com 91% dos medicamentos da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (Remume) abastecidos em todas as unidades de saúde do município.

Diante dos dados, garantiu que não há falta de nenhum medicamento nas unidades básicas, e que a Prefeitura tem enfrentado o desafio de investir na saúde em um período de crise no Brasil, em que outras capitais têm fechado portas de serviços e demitido profissionais. Na contramão, afirmou que Boa Vista tem fortalecido a atenção básica com a inauguração de novas unidades de saúde e contratado médicos e profissionais para atuarem na rede municipal de saúde. (A.G.G)

Sesau afirma que Estado já adotou medidas para minimizar superlotação do HGR

Em relação à superlotação do Hospital Geral de Roraima (HGR), a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) esclareceu que uma das medidas adotadas para minimizar a situação é o convênio com o Hospital Lotty Íris para utilização de 60 leitos de retaguarda. Para a unidade, são encaminhados os pacientes que já passaram pela assistência de urgência e emergência, mas que ainda necessitam de observação clínica.

Para impedir que cirurgias sejam canceladas por falta de leitos, a Sesau explicou que um anexo para o HGR com mais 120 leitos de internação, 40 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 10 salas de cirurgia está em fase de construção. Conforme o órgão, as novas obras podem resolver o déficit de leitos em Roraima pelas próximas décadas.

Além disso, garantiu que o Estado tem reforçado o atendimento no interior. Para garantir que mais pessoas sejam atendidas nos municípios, o Governo está investindo em equipamentos para as salas de emergência nas unidades com maior demanda. Dessa forma, os municípios terão mais capacidade de atender casos mais graves, diminuindo o número de transferências para os hospitais da capital. A previsão é que até o fim do mês as unidades devem estar equipadas.

Segundo a Sesau, um exemplo de como as medidas estão rendendo resultados positivos é o Hospital de Rorainópolis, município localizado na região sul do Estado. Há três anos, apenas pequenas cirurgias e alguns partos eram feitos na unidade. De lá para cá, quase três mil pessoas já fizeram cirurgias na unidade e 600 partos são realizados por ano, diminuindo a demanda no HGR e na maternidade.

NOVO HOSPITAL – A Sesau pontuou, que a partir de dezembro, com a inauguração do Hospital das Clínicas, serão criados mais 120 leitos. No entanto, o hospital não vai funcionar de portas abertas para a população, tendo em vista que será um hospital de retaguarda. Os pacientes serão atendidos no HGR e, depois de estabilizados, serão encaminhados para o Hospital das Clínicas, assim como ocorre atualmente no Lotty Íris. “Com isso, acabará o problema das macas nos corredores do HGR”, afirmou. (A.G.G)

Somente casos urgentes podem ter acompanhantes durante adequações no Pronto Atendimento

Não é difícil entrar no Hospital Geral de Roraima (HGR) e ver diversos pacientes desacompanhados pelos corredores. Diante da situação, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que enquanto o Pronto Atendimento Airton Rocha (Paar), anexo ao HGR, estiver passando por adequações internas e serviços de manutenção predial, somente os acompanhantes dos usuários em casos mais urgentes e outras situações específicas terão a entrada autorizada durante este período.

Conforme a Sesau, a medida é temporária e não se aplica aos pacientes internados, sendo utilizada apenas no atendimento inicial. A direção da unidade esclareceu que os atendimentos estão sendo feitos normalmente, apesar das adequações realizadas. Para garantir uma melhor organização do espaço interno, o acompanhamento nos casos de primeiro atendimento será liberado para os pacientes classificados nas cores laranja e amarelo (urgente e muito urgente).

Para os pacientes classificados nas cores verde e azul, menos urgentes, a direção ressaltou que será liberado acompanhante em casos de idosos a partir de 60 anos, indígenas, menores de 18 anos e pessoas com necessidades especiais. Em outras situações, os enfermeiros que atuam na triagem têm autonomia para avaliar e liberar acompanhantes em casos específicos, se for constatada a necessidade.

A direção reforçou que a partir do momento em que for amenizada a superlotação da unidade, a gestão poderá reorganizar melhor o fluxo interno. Em caso de dúvidas, a população pode procurar a direção do Pronto Atendimento para mais esclarecimentos. (A.G.G)