Cotidiano

Familiares denunciam falta de material para cirurgia neurológica no HGR

O paciente Edon do Carmo aguarda desde a quinta-feira, 19, para realizar um procedimento que deveria ser imediato

Familiares do paciente Edon do Carmo Silva, de 33 anos, acionaram a Folha para denunciar a falta de materiais para realização de cirurgia neurológica no Hospital Geral de Roraima (HGR). Conforme o relato, o enfermo está em coma induzido aguardando há pelo menos quatro dias por um procedimento médico que deveria ser realizado imediatamente.

A irmã de Edon, Ana Paula Silva, explicou que o paciente foi pescar no Rio Branco e sofreu um acidente na quinta-feira passada, 19, pela manhã. “Ele acabou pulando no raso, bateu a cabeça e lesionou duas vértebras da coluna (5 e 6)”, afirmou. Com a fatalidade, Edon ficou sem o movimento dos membros superiores e inferiores.

Edon foi socorrido e levado ao hospital, dando entrada na emergência no início da tarde de quinta-feira, por volta das 13 horas. “Logo quando ele entrou, foi avaliado pelo neurologista que recomendou cirurgia imediata”, explicou Ana Paula. “Em seguida foi verificado que não havia no hospital o material para cirurgia na vértebra, e foi encaminhada uma solicitação desses materiais para a direção do hospital HGR”, acrescentou a irmã. No entanto, até o momento, os utensílios não chegaram.

Segundo os familiares, Edon ficou internado no setor de Trauma do HGR até o sábado, 21, e em seguida, foi encaminhado para a área de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em coma induzido, onde permanece até hoje, ainda aguardando pela chegada do material.

SOLICITAÇÃO – A irmã do paciente disse ainda que a Diretoria do HGR informou que a situação é comum e que o material só consta na unidade hospitalar se solicitado previamente. “Ou seja, se qualquer pessoa chegar ao HGR precisando de cirurgia urgente, vai ter que esperar a boa vontade do hospital pedir esse material”, lamentou Ana Paula.

Jarine do Carmo, também irmã de Edon, explicou que na manhã de ontem, 23, os familiares se reuniram com a diretoria do HGR para buscar por informações e recebeu a confirmação verbal de que a solicitação já havia sido feita, porém, os familiares requerem pelo menos cópia do documento de aquisição do material. “Nos confirmaram que o pedido foi feito, mas ainda não nos informaram quando que ele foi feito. Disseram que chegaria numa quarta, mas a gente precisa de uma comprovação, pelo menos um documento que comprove isso”, afirmou Jarine.

Os familiares informaram ainda, que também estão viabilizando a saída de Edon para tratamento em outro Estado. “O que for mais rápido: a chegada dos utensílios ou a saída dele. Estamos lutando contra o tempo”, afirmou Jarine.

Ana Paula salientou que, com a demora, a situação de Edon piora a cada dia e as sequelas podem se agravar com o passar do tempo. “Era uma cirurgia para ser feita na hora que ele deu entrada no trauma. Toda a equipe do hospital está preparada para a cirurgia, mas o material ninguém sabe exatamente quando chega. Os médicos disseram que é obrigação do Estado disponibilizar esse tipo de material. Minha família está sofrendo muito”, reforçou.

SESAU – Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o referido paciente aguarda uma cirurgia neurológica, para a qual são necessários insumos específicos. “Por este motivo, a gestão está adotando duas providências simultâneas para atender o paciente o mais rápido possível. A primeira delas é a obtenção, em caráter de urgência, dos itens necessários para realizar a cirurgia no HGR, o que está previsto para ocorrer em até três dias”, disse.

A segunda alternativa, segundo a Sesau, foi o cadastro do paciente na Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) para atendimento em uma unidade referência nacional. “Neste caso, a Sesau aguarda uma resposta da central (vinculada ao Governo Federal) sobre a disponibilidade de uma vaga em um hospital fora do Estado. Tão logo isso ocorra, a Sesau providenciará o transporte adequado e toda a estrutura para que o paciente seja transferido com segurança. Se antes disso houver a possibilidade de ele ser operado no Estado, isso será feito imediatamente”, reforçou o governo.

Por fim, a Sesau reforçou que o paciente segue acompanhado de perto pela equipe do HGR “recebendo toda assistência necessária para estabilização do quadro clínico”. (P.C)

Falta de materiais no HGR já foi motivo de ação civil do MPRR

No dia 12 de setembro deste ano, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), por intermédio da 1ª titularidade da Promotoria de Justiça de Defesa de Saúde, protocolou ação civil pública contra o Estado para aquisição, em quantidade suficiente e adequada, de medicamentos e materiais faltantes necessários ao atendimento dos pacientes internados no Hospital Geral de Roraima.

Na época, a ação do MPRR também requereu do Estado a realização de cronograma e planejamento de ações para que os medicamentos sejam comprados e fornecidos regularmente, de acordo com os dados estatísticos e epidemiológicos existentes na unidade de saúde.

Atendendo ao pedido do MPRR, o juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública concedeu liminar em 22 de setembro para que o Estado promovesse, no prazo de 30 dias a contar da notificação, o abastecimento de medicamentos e materiais hospitalares no HGR, “bem como apresente, no prazo de 60 dias, o cronograma de compras desses itens utilizados na unidade”.

No último dia, 11 de outubro, a Promotora de Saúde do MPRR, Jeanne Sampaio, se reuniu com os coordenadores e direção do HGR para orientar a respeito do cumprimento da decisão judicial. (P.C)

Em Caracaraí, hospital também está sem material para exames

Um morador do Município de Caracaraí, Centro-Sul do Estado, que pediu anonimato, reclamou da falta de material para exames de hemograma completo e de urina no Hospital Irmã Aquilina. Segundo denúncia, os pacientes teriam sido informados da situação na sexta-feira passada, 20.

Segundo o paciente, a comunidade teria sido informada, de surpresa, na sexta-feira passada, 20, quando funcionários afirmaram não ter materiais para a realização de exames básicos de saúde e que teriam que ser remarcados.

“A comunidade foi pega de surpresa. Os funcionários informaram que os exames de hemograma completo e urina, que haviam sido marcados há quase 20 dias, teria, de ser remarcados por falta de material. Foi remarcado para dia 8 de novembro. Passando de 30 dias, com a remarcação, sem dar certeza que farão nessa data os exames. Inclusive há pessoa com problema cardíaco e hipertenso”, contou o denunciante.

SESAU – A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) esclareceu que conforme informações colhidas junto à Unidade Mista de Caracaraí, os referidos exames estão sendo realizados normalmente. “Por uma dificuldade de logística, os materiais foram entregues com atraso na semana passada, interrompendo os exames apenas nos dias 17 e 18 (terça e quarta-feira, respectivamente). Os pacientes que necessitavam dos exames foram reagendados e atendidos normalmente a partir da quinta-feira, 19”, informou em nota. (E.M)