Polícia

Festa na zona Oeste comemorava fugas de presos da Penitenciária

Duas adolescentes estavam com os filhos, menores de um ano, na festa; Pais podem responder na Justiça

Na madrugada de ontem, 18, policiais militares encerraram uma festa particular supostamente em comemoração à fuga de presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na madrugada anterior. Os policiais foram informados da festa por dois homens, que foram abordados em atitude suspeita no bairro Senador Hélio Campos momentos antes.

Os dois homens disseram que, na festa, estavam alguns foragidos cercados de mulheres, bebidas e drogas, inclusive menores estariam no evento. A Polícia Militar esclareceu no Relatório de Ocorrência Policial (ROP) que a dupla mencionou que a festa servia também para exaltar o nome de uma facção criminosa, além de ter muitos suspeitos de praticarem assalto à mão armada, crimes registrados na noite da terça-feira pelas vias públicas de Boa Vista.

Os informantes também disseram que um elemento por nome de “Rogério” tinha acabado de chegar na comemoração e que postaria uma foto no Facebook para mostrar que conseguiu fugir da Penitenciária e que estava curtindo sua liberdade. Em um dos celulares apreendidos, os militares conseguiram confirmar que a denúncia era verdadeira e o foragido realmente fez a postagem. A dupla afirmou que viu o momento em que uma escopeta com carregador era exibida, sendo a mesma arma usada em uma série de assaltos.

No local, os policiais encontraram 28 pessoas, dentre elas alguns menores, além de dois bebês, um de três meses e outro de um ano. Os suspeitos faziam uso e venda de entorpecentes e consumiam bebidas alcoólicas. A proprietária do apartamento disse à guarnição que as duas menores – mães das crianças – foram convidadas por ela para participar da festa.

Diante do flagrante, os policiais decidiram pedir apoio de outras equipes e em alguns instantes muitas viaturas do 2º Batalhão estavam no local. Depois da chegada do reforço, as buscas pessoais foram iniciadas, momento em que 21 celulares foram apreendidos, 27 invólucros de entorpecentes, sendo nove de pasta base, nove de cocaína e mais nove de maconha e mais a quantia de R$ 320.

Os policiais comprovaram que grande parte dos homens que estavam no evento já tinha passagem pelo sistema prisional, inclusive alguns que saíram há pouco tempo da Pamc, mas não estavam em situação de foragidos.

Cinco pessoas foram conduzidas para a Central de Flagrantes do 5º DP, inclusive o organizador da festa. Ele alega que se tratava de seu aniversário e confessou que já foi condenado pela Justiça por conta dos crimes de porte ilegal de arma de fogo, formação de quadrilha, receptação e tráfico de drogas.

As duas crianças foram entregues ao Conselho Tutelar e ficarão sob a tutela do Estado para serem encaminhadas ao Juizado da Infância para que as medidas legais sejam adotadas. As mães das crianças foram apresentadas à autoridade policial, pois não estavam dando a devida atenção aos filhos, configurando o crime de abandono de incapaz. As crianças também ficaram expostas a alguns riscos, segundo a PM. Por outro lado, as duas menores não estavam acompanhadas por qualquer responsável e estavam consumindo as bebidas servidas no local.

O delegado de Plantão atendeu à ocorrência e explicou à Folha que uma portaria interna estabelece que no caso de prisões em que há suposta relação com organizações criminosas, os casos devem ser encaminhados ao Grupo de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Graco), integrado ao Núcleo de Inteligência, à Delegacia de Repressão a Entorpecentes e ao Departamento de Narcóticos da Polícia Civil. Por isso, o flagrante não foi lavrado. Na manhã de ontem, os cinco indivíduos foram conduzidos à Cidade da Polícia para serem ouvidas pelo Graco, a fim de que os procedimentos previstos na legislação sejam adotados e um inquérito instaurado para apurar o caso.

RESPONSABILIDADE – À Folha, a delegada Jaira Farias, do Núcleo de Proteção da Criança e do Adolescente, disse que, diante denúncia, a polícia age em diligências e, sendo comprovado o aliciamento, os menores são encaminhados ao Conselho Tutelar e os responsáveis pelo ato criminoso respondem na Justiça. “Trabalhamos com base em denúncias. Comprovados os fatos, atuamos de acordo com lei e fazemos todo procedimento cabível. Nosso intuito é combater ao máximo esse tipo de crime”, afirmou.

Segundo a delegada, os pais devem dialogar com os filhos e mostrar matérias de jornais, informando o que acontece com quem se envolve com drogas. “Os adolescentes não têm a menor noção do perigo das drogas. Por isso, é preciso muita conversa por parte dos pais para alertá-los sobre esses riscos”, observou.

No caso de pais coniventes, Jaira Farias alertou que os responsáveis pela negligência com os filhos podem ser punidos com medidas disciplinares ou até judiciais, mas ela observou que cada caso é um caso. “Um processo é aberto no caso da criança ou do adolescente em risco de vulnerabilidade social. Há situação em que pai e mãe perdem até a guarda do filho”, ressaltou.