Cotidiano

Força Nacional e PM atuarão para conter a violência em Pacaraima

Casos de roubo, furto, tráfico de drogas, armas e combustível cresceram exponencialmente na fronteira após a crise migratória

Os 33 homens e mulheres da Força Nacional de Segurança (FNS) que chegaram a Roraima após a visita do presidente Michel Temer ao Estado, na quarta-feira, 14, se juntarão ao efetivo da Polícia Militar (PM) para vistoriar as ruas de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, ao norte da BR-174.

Será a primeira vez que um contingente da Força Nacional – composto por policiais e bombeiros do grupo de elite de vários Estados –, atuará na segurança da fronteira em Roraima. Além do radiopatrulhamento em conjunto com a PM, a intenção é reduzir as taxas de violência. Os casos de roubo, furto, tráfico de drogas, armas e combustíveis cresceram exponencialmente em Pacaraima após a crise migratória.

Conforme dados disponibilizados pela Delegacia de Polícia Civil de Pacaraima, somente entre janeiro e dezembro do ano passado mais de 1.100 ocorrências referentes aos citados crimes foram registradas no município, número três vezes superior a 2016, que teve 326 casos. A partir desta semana, policiais militares do setor administrativo serão colocados no policiamento ostensivo e as equipes foram redimensionadas para a Operação “Fecha Quartel”.

“Todas as forças policiais falarão a mesma linguagem em relação ao controle. Será uma atuação conjunta, porque teremos maiores recursos humanos e materiais com o objetivo de controlar o fluxo migratório e reduzir as taxas de violência”, destacou o subcomandante-geral da PM de Roraima, coronel Paulo Roberto Macedo.

Conforme ele, os policiais também receberão orientação quanto ao tipo de documentação que o estrangeiro deve portar para entrar no País, tanto pessoal quanto de veículos.

“Ninguém vai proibir, mas os estrangeiros terão que estar devidamente cadastrados e registrados. Se não tiver terá que voltar para pegar, porque a ideia é termos efetivo controle da entrada de estrangeiros em território nacional”, explicou.

Um dos problemas enfrentados pelas forças policiais sobre o controle do fluxo migratório em Pacaraima se deve à falta de fiscalização noturna. É neste horário que centenas de venezuelanos aproveitam para entrar no Brasil sem registro. A questão, segundo o subcomandante, será resolvida com a força-tarefa.

“É uma falha que identificamos. À noite, quando as forças policiais reduzem suas atividades ocorrem as entradas ilegais. Não haverá mais esse relaxamento. O efetivo está o mínimo para cumprir a escala ordinária, mas com o advento do serviço voluntário, que é a hora extra, paga ao PM que trabalha na folga, teremos aumento no efetivo para atender a demanda. Além disso, a PM trará mais viaturas e iremos intensificar o policiamento”, afirmou.

Há pessoas que moram em Boa Vista e tem casas em Pacaraima. Mas, o aumento da violência na cidade impôs que esses colocassem seus imóveis à venda. Isso porque, conforme alguns moradores, muitas casas estão sendo saqueadas por venezuelanos.

Para o coronel Macedo, a população tem que se conscientizar de que o cenário de tranquilidade mudou. “As pessoas vinham a Pacaraima passar o final de semana e deixavam as casas à mercê. Há quem pense que a responsabilidade pela segurança seja só nossa. Não podemos colocar um PM na frente de cada casa. As pessoas têm que tomar medidas preventivas, colocar sistemas de alarme, monitoramento e nos ajudar a cuidar do patrimônio”, ressaltou.

Venezuela resiste em admitir crise, diz superintendente da Polícia Federal

O aumento nos índices de violência após a crise migratória levantou a possibilidade de impedir a entrada no Brasil de venezuelanos procurados pela Justiça daquele país ou com ficha criminal. A proposta chegou a ser apresentada ao presidente Michel Temer, mas foi descartada devido a questões diplomáticas envolvendo os dois países.

Esse fato foi discutido pelas forças de segurança durante a reunião no Quartel do Exército em Pacaraima. À Folha, a superintendente da Polícia Federal (PF) em Roraima, delegada Rosilene Gleice Santiago, citou a dificuldade do controle com relação a antecedentes na Venezuela. “A Venezuela resiste em compartilhar os bancos de dados que tem porque não admite a crise. É uma situação em que a gente administra os efeitos, mas o que está por trás é outra problemática que foge ao nosso controle”, disse.

Para a delegada, a migração em massa de estrangeiros decorre de conjuntura que não está sob administração do Brasil. “Não podemos impor obstáculos ao ingresso deles aqui. Isso dificulta, por exemplo, a criação de barreira sanitária, que também foi proposta ao Governo Federal”, declarou.

A superintendente admitiu que as ações serão apenas para evitar a passagem irregular de estrangeiros pela fronteira. “Ainda assim, pela própria estrutura é humanamente impossível impedir o acesso. Entre os marcos de fronteira há uma distância enorme. Com o recurso que temos e com o que está sendo sinalizado que virá, com reforços de estrutura, logística e pessoal, estamos coordenando para fazer com que tenhamos atuação melhor aproveitada”, pontuou. (L.G.C)

PRF deve triplicar equipe para atuar 24h na fronteira

A contenção de ilícitos transfronteiriços, inclusive o controle de veículos venezuelanos, será atribuição da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que atuará em conjunto com o Exército na fronteira de Pacaraima. O contingente que trabalha em regime de 24 horas, com folga de 72 horas será aumentado com outras duas equipes para que a ação seja permanente, em escala diferenciada de plantão.

Segundo o superintendente da PRF em Roraima, Igo Brasil, a partir desta segunda-feira, 19, haverá reforço de outras regionais. “Esperamos que até início de março tenhamos aporte de policiais que ficarão em escala diferenciada em Pacaraima auxiliando no controle de crimes transfronteiriços, identificação veicular, furtos, alterações de características e tudo que compete à PRF”, informou.

A intenção, conforme ele, será inibir a entrada de estrangeiros e veículos em situação irregular em Boa Vista. “A ideia é fazermos a contenção dos ilícitos, e até de veículos. Com o incremento do efetivo teremos mais controle. Os órgãos responsáveis emitirão o documento para eles passarem, mas se não tiver faremos a contenção”, frisou. (L.G.C)