Cotidiano

Ginásio passa por reestruturação e imigrantes são divididos entre abrigos

Por volta das 5h30, militares do Exército começaram a retirar os cerca de 500 venezuelanos que estavam residindo no local, a fim de iniciar o processo de higienização

O trabalho de reestruturação do abrigo Tancredo Neves, situado na zona Oeste da Capital, começou nas primeiras horas da manhã dessa quarta-feira, 4. Por volta das 5h30, militares do Exército começaram a retirar os cerca de 500 venezuelanos que estavam residindo no local, para iniciar o processo de higienização. Os imigrantes foram acomodados no Estádio Ribeirão, que fica ao lado do abrigo.

A reforma se tornou necessária devido à insalubridade em que se encontrava o ginásio e o terreno em si. Desde a inauguração do abrigo, há aproximadamente seis meses, quase mil imigrantes passaram pelo local que, em um primeiro momento, abrigou uma média de 400 pessoas. No último domingo, 1º, a Força-Tarefa Humanitária deu início à intervenção e aos planos para a reforma.

Conforme o assessor de comunicação da Força-Tarefa em Roraima, coronel Lupchinski, todos os abrigados foram retirados do local e apenas os que estavam cadastrados puderam entrar novamente. Os que não estavam, passaram pelo procedimento junto a Fraternidade da Federação Humanitária Internacional (FFHI). “Dessa forma passamos a ter um controle de quem estava entrando, porque estava uma bagunça”, disse.

Ainda no domingo, os imigrantes foram informados sobre a reestruturação, a retirada deles do abrigo e a importância de ensacar e retirar do local todos os itens pessoais. Paralelo a isso, a Força-Tarefa começou a posicionar o material para refazer a estrutura, como containers banheiros, depósitos, material de limpeza e higiene e equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras.

Ontem, o primeiro passo da reestruturação foi incinerar tudo que havia sido deixado pelos imigrantes no ginásio, tendo em vista a necessidade de descontaminação. Durante o dia, o ginásio passou por lavagem, desinfecção e correção de piso. No lado externo, as barracas da Defesa Civil foram desmontadas e levadas ao quartel para lavagem e secagem.

Seguindo o planejamento, ainda durante a tarde, o ginásio começou a ser montado para atender 300 pessoas, respeitando a limitação do espaço. Contudo, diante das quase 500 pessoas que saíram durante a manhã, a Força-Tarefa, em parceria com a Fraternidade Humanitária, dividiram os imigrantes em grupos, a fim de que fossem distribuídos entre os demais abrigos da Capital.

No Tancredo Neves, foram abrigados os homens solteiros. As famílias e mulheres solteiras, por sua vez, foram encaminhadas aos abrigos do Jardim Floresta e São Vicente. Os demais, que correspondem a 70%, optaram pela interiorização que começa hoje, 5. “Não há um paralelo histórico sobre essa situação. Tudo que estamos fazendo é novo. No entanto, como as Forças Armadas sempre fazem análise de cenário, isso nos confere capacidade de pronta resposta”, frisou o coronel.

Uma vez estruturado, o abrigo é reassumido pela Fraternidade Humanitária e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Dessa forma, o Exército permanece com a distribuição das refeições e o apoio de saúde, logística e segurança. (A.G.G)

Imigrantes veem reforma e mudança de abrigo como uma nova chance

Daniela Martinez chegou a Roraima com o marido e os dois filhos em janeiro deste ano e, desde então, esteve abrigada no ginásio do Tancredo Neves. Ela contou que, no início, o local parecia seguro para se estabelecer. No entanto, com o fluxo intenso de imigrantes chegando à Capital, o local começou a ser utilizado por mais pessoas do que poderia. O resultado foi a insegurança durante as noites.

“Muitos bebiam durante a noite e aconteciam muitas brigas. Todos os dias as pessoas brigavam. Meus filhos não conseguiam dormir e não tínhamos pra onde ir”, disse. Com a chegada da Fraternidade da Federação Humanitária Internacional (FFHI) à coordenação do abrigo, Daniela informou que uma das principais mudanças foi o aumento na quantidade de comida, que antes faltava.

Ao saber da reestruturação e da transferência para outros abrigos, ela relatou que viu na mudança uma nova chance de se estabelecer no Estado. Há quase três meses, Daniela trabalha como assistente de limpeza em uma residência da Capital. “Trabalho com pessoas que conhecem minha história e me respeitam. Agora, posso ficar mais tranquila sabendo que vou para um local com outras famílias e crianças perto dos meus filhos”, contou.

A notícia foi recebida da mesma forma pelo chef internacional Angel Lozana, que estava abrigado no Tancredo Neves desde janeiro. Ele explicou que, nos primeiros dias, o local era bem cuidado e que os atendimentos eram suficientes aos imigrantes. Entretanto, assim como aconteceu com Daniela, ele não conseguiu ver condições humanas de permanecer no abrigo com a chegada de imigrantes que não tinham boa índole.

Em relação à reestruturação, Angel declarou que a organização e distribuição vieram em boa hora para quem vai permanecer no Estado. Ele, no entanto, é um dos imigrantes que optou pela interiorização. “Quero conseguir trabalhar de novo com gastronomia, o que eu não consegui fazer aqui. Acredito que São Paulo vai me proporcionar novas possibilidades e, assim, vou poder ajudar minha família que ficou na Venezuela”, salientou. (A.G.G)