Polícia

Idoso baleado durante assalto morre e foragido confessa crime

Pai de um policial civil, o aposentado de 75 anos tentou defender a família durante a invasão dos bandidos à sua casa

O aposentado Iran Sales, de 75 anos, que levou três tiros durante uma tentativa de latrocínio, morreu no Hospital Geral de Roraima (HGR) por volta das 22h desta quarta-feira, 31. Ele estava dentro da residência da família, no bairro dos Estados, zona Norte, quando foi surpreendido com a entrada de alguns criminosos, na segunda-feira à noite. Ao tentar defender a família, o idoso recebeu os disparos. Ele morreu após passar dois dias em coma induzido.

De acordo com as informações de uma neta, ele foi socorrido e estava calmo, pedindo que os familiares não se preocupassem, mas foi levado para o Pronto Socorro Francisco Elesbão e  submetido a uma cirurgia de urgência. Uma das balas atingiu órgãos internos, como estômago, fígado, esôfago e bexiga. “O quadro dele foi piorando. Os órgãos atingidos começaram a parar e, no final da noite de ontem [quarta-feira], tivemos a triste notícia da falência múltipla de órgãos”, disse.

“Ele colocou a vida dele para defender a família. Salvou a mim, minha filha, minha mãe, se colocou na frente, levou os tiros por nós, lutou o que pôde, inclusive no hospital, pela vida, porque passou por um procedimento cirúrgico delicado e ainda tentou reagir, mas infelizmente não resistiu”, relembrou uma das filhas.

A família recebeu o atestado de óbito do médico de plantão no HGR. Na madrugada de ontem, os parentes e amigos iniciaram o funeral. Durante todo o dia, houve muita movimentação no local onde o corpo estava sendo velado. No final da tarde, depois que um cortejo percorreu as principais vias da cidade, o sepultamento foi realizado.

O delegado titular do 1º Distrito Policial, Clayton Ellwagner, explicou que o tipo de munição usada pelo atirador era especial pelo fato de que, ao acertar o alvo, ela se espalha, motivo pelo qual as chances de sobrevivência podem diminuir.

HISTÓRICO – Mesmo abalados, os filhos da vítima deram entrevista à Folha para relatar a história de vida do pai, que teve papel de destaque como servidor público estadual, sobretudo no Município de Uiramutã, a Nordeste do Estado, onde viveu cerca de 25 anos. Iran Sales é neto de Severino Mineiro e compõe a linhagem de uma família de desbravadores e primeiros habitantes oriundos de outros estados a chegarem a Roraima.

Esteve casado durante 49 anos com Neizi Maria de Souza, com quem teve nove filhos, e, segundo uma das filhas, mais “alguns extras”, além de quase 30 netos.

A filha, Suany de Souza Sales, explicou que o pai nasceu no Uiramutã, veio embora para Boa Vista, onde morou até os 40 anos, em seguida retornou para o município de nascimento e lá desempenhou funções na Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). “Moravam na Fazenda Aparecida, no Uiramutã, depois foram morar na vila, que ainda não era município. Foi um dos desbravadores e fundadores do município. Lá, eles foram construindo a família. Eu nasci no Uiramutã, poucos nasceram em Boa Vista devido às condições de estrada”, destacou.

A esposa trabalhava no Uiramutã como professora. “Era uma época bem oportuna por ser época de garimpo, e o papai dedicou muitos anos da vida dele ao município. Ele trabalhou como funcionário do Estado, pela Caer. No Uiramutã, ele era conhecido como o ‘homem da água’ e era chamado de Iran ‘Barroso’, embora este não fosse o sobrenome dele. Mas ele gostava de ser chamado assim porque era o sobrenome do pai, meu avô, e dos tios dele”, ressaltou a filha.

Somente depois que conseguiu a aposentadoria, há aproximadamente três anos, o idoso retornou para Boa Vista. Mas, antes disso, passava alguns dias na Capital e retornava para trabalhar. Os filhos contam que Sales dedicou o tempo de serviço prestado à Caer, no Uiramutã.

A família afirmou que restam apenas os sentimentos de tristeza e revolta. “Tristeza por causa da perda de um ente querido de uma hora para a outra. Um homem lutador, forte, que não fazia mal a ninguém, vivia em casa cuidando da família, cuidando dos netos. Ele era louco pela minha filha. Não gostava de sair muito. Parou de dirigir porque disse que o trânsito era muito louco e deixava que os filhos dirigissem. Não saía sozinho porque tinha medo, então, ficava em casa. Aí vem o sentimento da revolta, porque era um homem bom, que ajudava em casa quando precisava, e ser morto da maneira que foi… A revolta é também porque a gente sabe a situação do sistema prisional, da segurança, e a gente fica na insegurança, com o medo de que volte a acontecer de novo. É um turbilhão de sentimentos”, enfatizou.

Suany Sales observou que o pai era saudável e não sofria de qualquer doença oportunista. “Meu pai era muito saudável, esperávamos que ele morresse de qualquer outra coisa, menos dessa forma. A gente estava vivendo um momento feliz. Ele estava brincando, distraído, sentado na varanda. Ele era um homem do interior, onde passou quase a metade da vida, acostumado a viver numa casa sem muro e conversar com qualquer pessoa que passa. Aí vem para a cidade, sem sentir o mínimo de segurança por causa das grades, pensando que a violência estava do muro para fora, na rua, e se depara com uma situação de violência dentro de casa”, complementou

FILIAÇÃO – Filho de Emílio Barroso Sales, migrante cearense, e de Vitalina da Silva Sales, índia Macuxi, Iran era o segundo filho de um total de 15 irmãos. Nasceu na Fazenda Socó, que hoje está dentro dos limites do município do Uiramutã.

A tia dele, Maria Iolanda Pereira Pinheiro, de 86 anos, relembrou que o pai de Iran Sales chegou a Roraima junto com o irmão, Cesariano Barroso Sales. Vieram por meio de embarcação, considerando que em 1930 era o único meio de transporte para chegar às terras do Território do Rio Branco.
 (J.B)

Bandido foragido que atirou no idoso é preso e confessa crime

A Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), em parceria com o grupo de Inteligência da Polícia Militar, agentes do 1º e 5º Distritos Policiais e do Núcleo de Inteligência da Polícia Civil conseguiram prender, na mesma noite de quarta-feira, o foragido Wax Nunes Lima, de 28 anos, na rua Itajara, no bairro Jóquei Clube, zona Oeste da Capital.

Ele é acusado de ter dado os tiros que mataram o aposentado Iran Sales, de 75 anos, que era pai de um policial civil. De acordo com os policiais que participaram da ocorrência, Wax trafegava em uma motocicleta pela rua quando foi abordado. Ele não reagiu à prisão. Ele vai responder por mais esse crime, de tentativa de latrocínio, ao invadir a residência onde estava o idoso, no bairro dos Estados. Iran foi baleado com três tiros e morreu na mesma noite da prisão do foragido que o baleou, depois de passar dois dias em coma induzido.

Durante o crime, Wax estava acompanhado de outros dois homens que integravam o bando e que já haviam sido presos na madrugada da terça-feira, 30. Antes de ser preso, o acusado foi reconhecido em um sequestro relâmpago praticado contra a esposa e o bebê de um policial militar. Ele teria invadido a residência e obrigado a vítima a seguir com criminosos em um táxi-lotação. O crime ocorreu no bairro Caimbé. Na ação criminosa, os indivíduos levaram objetos, como joias, notebook e uma quantia em dinheiro não especificada.

DROGAS – Após a prisão, Wax levou os policiais até uma residência localizada no bairro Cidade Satélite, na Zona Oeste, onde teria escondido a arma utilizada por ele, porém só foram encontradas drogas dentro do quarto de Lucas David de Aguiar Costa, de 18 anos, que foi preso em flagrante por tráfico.

Na delegacia, Wax confessou ter atirado contra o idoso e disse também à polícia estar arrependido. Afirmou que só atirou porque o idoso teria puxado uma pistola. Ele é integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e, conforme os agentes, é um elemento de alta periculosidade, frio e calculista.

“O assalto à casa de um empresário no bairro Paraviana, quando R$ 70 mil e um carro foram levados, foi praticado por ele. Outro assalto foi à casa de um guarda municipal, no bairro 31 de Março, quando roubou o carro Nissan March da vítima”, destacou.

Assim que os procedimentos foram efetivados, Wax e Lucas foram presos em uma cela da delegacia e, na manhã de hoje, 02, serão apresentados à audiência de custódia. Caso decretada a prisão preventiva, os elementos serão encaminhados à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista.

Wax estava foragido da Pamc desde a última fuga em massa, que aconteceu no dia 08 do mês passado. A polícia está investigando outros nomes que possivelmente integram a quadrilha da qual o foragido faz parte para que as prisões sejam efetuadas. (J.B)