Cotidiano

Imigrantes venezuelanos clamam por oportunidade e vagas de emprego

Apesar das circunstâncias, grupo de venezuelanos diz não perder as esperanças: “Só queremos uma chance”

Com seus pertences amontoados, dormindo em caixas de papelão estendidas em uma lanchonete fechada próxima à Rodoviária Internacional José Amador de Oliveira – Baton, no bairro Treze de Setembro. É assim que um grupo de cerca de 20 estrangeiros, oriundos de cidades como São Cristóbal, Maracay, Maripa e Maturín, na Venezuela, passam a noite em Roraima.

A situação é bem diferente do que costumavam viver no seu país de origem, onde moravam em suas casas com a família, algumas residências até de dois pisos. Trocaram o conforto, para viver nas ruas no Brasil. O motivo? A grave crise econômica e social que o país vizinho enfrenta. Segundo eles, “de nada adianta morar em uma casa e não ter o que comer”.

Uma das integrantes do grupo de venezuelanos, a doméstica Yelitza Zarraga, explicou que sempre vinha ao Brasil para tentar fazer diárias, conseguir dinheiro e voltava para ajudar a família. Por conta do agravamento da crise, decidiu ficar no Brasil e agora tem dormido nas ruas para economizar o dinheiro do aluguel.

Segundo Yelitza, a principal necessidade do grupo atualmente é emprego para poder se sustentar e ajudar as famílias que permanecem vivendo na crise, no país vizinho. A venezuelana acrescenta que agradece às oportunidades que o Governo Federal deu aos estrangeiros, de poder se regularizar e emitir os documentos para registro de trabalho, porém, reclama que apenas dão a ferramenta para trabalhar e não oferecem novas vagas.

“Meus companheiros que estão aqui e eu queremos emprego. Que nos deem trabalho para a gente poder se sustentar no Brasil. A gente bate nas portas das casas, dizemos que precisamos de trabalho. Não conseguimos nada. Precisamos de emprego, para poder comer. Nós não podemos morrer de fome”, afirmou.

Ela sugere que os poderes públicos ofereçam vagas aos venezuelanos. “Aqui no Brasil existe um centro de trabalho do Governo. Poderia ter vagas para venezuelanos, não digo cem, mas pelo menos vinte vagas.

Muitas empresas podem contratar, montar uma parceria. Assim como nos deram a carteira de trabalho, registro, refúgio, nos deram apoio e tudo isso. Queremos que tomem conta de nós. Somos seres humanos como vocês, não somos animais. Não quero ganhar somente roupas, alimentos, queremos chances. O problema da Venezuela é um problema de todos”, declarou.

OPORTUNIDADE – O grupo também defendeu que não quer obter as facilidades de ‘mão beijada’. “Não queremos ganhar as coisas sem lutar, de forma fácil. Fazemos de tudo, trabalhamos limpando casa, cuidando de idosos e crianças, como pedreiro, mecânico, eletricista, vaqueiro, pintor, com refrigeração. Sou cristã e não minto porque sei que isso não agrada ao meu Deus. Todos somos trabalhadores”, acrescentou Amparo Undaneta.

O jovem Jeferson Cordova se contenta em arrumar um emprego fora da área de atuação. “Se não tiver vaga para a área que a gente trabalha, não importa. Trabalhamos com tudo que tiver”, completou. Para ele, ainda há muita dificuldade para que os estrangeiros arranjem um emprego, por conta do preconceito. Segundo Jeferson, na hora da contratação, os estrangeiros são discriminados. “Fui buscar uma vaga de emprego e me perguntaram se eu era venezuelano. Eu disse que sim e me responderam que só contratavam brasileiros, nem me deixaram falar nada e me mandaram embora”, afirmou.  

Yelitza também comentou sobre a discriminação com os estrangeiros e que não se pode generalizar. “Existem venezuelanos ‘pilantras’, assim como existem brasileiros ‘pilantras’. Existem brasileiros bons, assim como existem venezuelanos bons”, afirmou.

Por fim, no momento do registro do grupo, os venezuelanos brincaram entre si e sorriram. Apesar das circunstâncias, os venezuelanos disseram que não vão perder as esperanças: “Só queremos uma chance”, finalizaram. (P.C)

Estrangeiros dormem em colchões no chão e em barracos improvisados no CRI

Localizado no Ginásio Poliesportivo do Pintolândia, próximo à Praça Germano Augusto Sampaio, o Centro de Referência ao Imigrante (CRI) atende atualmente cerca de 250 estrangeiros, sendo a maioria composta por indígenas venezuelanos da etnia warao.
O local é sustentado pelo Governo do Estado, sem auxílio federal, porém a estrutura aparenta ser precária. Os estrangeiros dormem em colchões no chão, improvisados nos degraus do ginásio, junto às sacolas com alimentos, roupas e outros pertences. Além disso, também há barracos instalados ao redor do ginásio, com certo acúmulo de lixo nos cantos.

Apesar da situação, os venezuelanos agradecem por terem onde dormir. “A situação está boa. Temos um piso para dormir. Com teto”, disse Jorge Zapata, venezuelano que chegou a Roraima desde dezembro do ano passado e, até o momento, não conseguiu uma vaga de emprego fixo.

Jorge deixou família e amigos por conta da crise econômica e veio para o Brasil em busca de uma renda, para poder ajudar os parentes de alguma forma. “O que mais queremos é emprego, trabalho. É muito difícil. Pode ser qualquer coisa. Queremos arrumar a cidade, pintar as ruas, o que for”, comentou.

ESTADO – Segundo a Defesa Civil Estadual, atualmente são atendidas 240 pessoas no CRI. Deste total, são 35 não Indígenas e 205 Indígenas. Conforme o Governo, no Centro são recebidos imigrantes que declaram estar necessitando de local para abrigamento e que estão em condições financeiras desfavoráveis.

Dentre os serviços ofertados aos venezuelanos no CRI, a Defesa Civil destaca o proveito de alimentação, com café da manhã, almoço e jantar; acompanhamento médico; encaminhamento ao mercado de trabalho e local para abrigamento. Os pré-requisitos estão vinculados a uma situação de alta vulnerabilidade social, atentando-se especialmente para os casos de crianças e adolescentes.

Para buscar a integração na sociedade, a Defesa Civil ressaltou ainda que são realizadas aulas de português, apoio no encaminhamento ao mercado de trabalho através do Sistema Nacional de Emprego (SINE) e também apoio às famílias recém-saídas do abrigo até que conquistem plenamente sua independência financeira.

Quanto à rotatividade de refugiados, o Governo explicou que o prazo normal para permanência no abrigo é de 15 dias. “Porém, esse número de dias é flexível. Avaliamos cada caso específico, na medida em que se apresentem, para que o processo de inserção plena na sociedade ocorra de forma tranquila”, informou.

LIMPEZA E FISCALIZAÇÃO – Sobre a limpeza, a Defesa Civil disse que o Centro de Referência é limpo diariamente e que a higienização é realizada pelos próprios imigrantes. “Para isso são realizadas escalas para que haja revezamento”, informou.

Com relação à fiscalização de venezuelanos dormindo em órgãos públicos, como os que estão acampados dentro da Rodoviária Internacional de Boa Vista, a Defesa Civil do Estado disse que orienta todos os agrupamentos de imigrantes, em quaisquer pontos da cidade, “para que se dirijam ao CRI, para receber apoio social, mas alguns se recusam”.(P.C)

Número de pedidos de refúgio quadruplicou em dois anos

Segundo dados do Ministério da Justiça, em 2015, foram feitos 829 pedidos de refúgio no Brasil e, este ano, o número quadruplicou. Até o mês de maio, foram registradas 3.971 solicitações. A estimativa do Governo do Estado é de que, desde o agravamento da crise político-econômica no país vizinho, mais 30 mil venezuelanos ingressaram em Roraima. A administração estadual também revelou que, de outubro de 2016 até junho deste ano, 3.039 pessoas foram recebidas nos centros de atendimento ao migrante localizados em Boa Vista, em Pacaraima e também em atendimentos móveis. (P.C)