Cotidiano

Índias venezuelanas acompanhadas de crianças voltam a pedir esmola

Leitores da Folha relataram situação degradante em que são submetidas as crianças com suas mães em situação de mendicância

Meses após a instalação do Centro de Referência do Imigrante (CRI) no Ginásio Poliesportivo do Pintolândia, zona oeste da Capital, indígenas venezuelanos da etnia Warao voltaram às ruas de Boa Vista em situação de mendicância. Denúncias chegaram à Folha sobre a presença de crianças em situação de vulnerabilidade em semáforos e nas portas das agências bancárias da Capital.

Uma leitora, que pediu para não ser identificada, comentou sobre a precariedade e condições insalubres em que se encontram mães com crianças de colo em frente às agências bancárias. “Basta ir ao Banco do Brasil da Avenida Ville Roy. É algo que parte o coração de qualquer mãe, assim como eu. São bebês que ficam deitados no chão, às vezes só com a cabeça apoiada no colo da mãe. As mulheres ficam estendendo apenas uns copos pedindo esmola para quem entra no banco. Pegam chuva, sol, mas não saem dali. Sem contar que ficam sentadas no chão, expostas à sujeira, doenças e outras coisa que podem prejudicar a saúde”, relatou.

A servidora pública Ângela Carvalho afirmou que, na manhã de quinta-feira, 18, foi realizar um saque na agência da Caixa Econômica Federal da Avenida General Ataíde Teive, no bairro Asa Branca, na zona oeste, e se deparou com a mesma situação. “Pela manhã, essas indígenas ficam em frente às agências pedindo esmola com as crianças, muitas vezes de colo. À noite, elas colocam um papelão no chão, na parte de dentro do banco, para dormir. Não estão mais voltando para o abrigo”, disse.

A Folha percorreu alguns pontos da cidade e se deparou com indígenas, em sua grande maioria mulheres, com crianças de colo expostas ao sol. Na Rua Manoel Felipe, início do bairro Buritis, também na zona oeste, algumas delas pediam esmolas segurando as crianças em tipoias amarradas à lateral do corpo. Em alguns semáforos da Avenida Capitão Júlio Bezerra, na zona leste, também foram encontradas indígenas nas mesmas condições. Quando a equipe de reportagem se aproximava para tentar algum contato, elas corriam escondendo o rosto e protegendo a criança.

Problema da migração acabou se tornando uma ‘guerra de liminares’

A Vara da Infância e Juventude informou que a Prefeitura de Boa Vista continua desobrigada a prestar suporte às crianças de famílias venezuelanas que se encontram abrigadas no Centro de Referência do Imigrante (CRI), pois ela ingressou com um pedido de suspensão de liminar, que foi acatado liminarmente pelo desembargador Ricardo Oliveira, do Tribunal de Justiça do Estado.

No início do ano, a desembargadora Tânia Vasconcelos atendeu ao pedido do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) e reconsiderou a liminar. Em sua decisão, a desembargadora ressaltou que “independentemente de haver decisão judicial determinando a assistência aos venezuelanos, é dever do Estado Brasileiro seguir os preceitos e as obrigações de auxílio a estas pessoas conforme os princípios e normas previstos na Constituição Federal”.

Mesmo assim, pouco tempo depois, em uma nova decisão, o desembargador Mozarildo Cavalcanti pediu o deferimento do efeito suspensivo, ou seja, desobrigou o Município novamente a fornecer às crianças venezuelanas e aos seus pais, no limite de 200 pessoas, café da manhã, internações hospitalares de crianças e, por meio de sua Defesa Civil, administrar o alojamento fornecido pelo Estado.

Prefeitura alega não ter recursos, mas diz que fornece 200 cafés da manhã por dia

Por meio de nota enviada à Folha, a Prefeitura de Boa Vista informou que não tem recursos suficientes para atender as famílias venezuelanas, “apesar de todos os esforços que vem fazendo para ajudar o país vizinho”, mas frisou que passou a fornecer as 200 alimentações por dia, referentes ao café da manhã, para os imigrantes que vivem no CRI.

Afirmou ainda, que a “imigração sem controle de venezuelanos tem impactado a rotina da cidade e causado sérios problemas sociais e humanitários”. Frisou que a Prefeitura “tem consciência da complexidade do momento vivido pela Venezuela”.

Sobre o auxílio que vem prestando à população venezuelana em Boa Vista, a Prefeitura citou que, na área da educação, o Município atende 460 estudantes estrangeiros, dos quais 408 são crianças de origem venezuelana que estudam na Rede Municipal de Ensino.

“Na Saúde, somente nos meses de agosto, setembro e outubro de 2016, a prefeitura afirmou que cerca de cinco mil venezuelanos, independente de situação legal, foram atendidos nas unidades básicas de saúde e Hospital da Criança Santo Antônio. De janeiro a abril deste ano, as unidades básicas atenderam 4,1 mil venezuelanos”.

Governo continua prestando auxílio em abrigo no Pintolândia

O Governo do Estado informou que continua prestando suporte às famílias venezuelanas em situação de vulnerabilidade social, com o atendimento do Centro de Referência do Imigrante (CRI). “Estamos atentos, especialmente, às crianças e adolescentes. O atendimento ocorre especialmente no CRI, através do acompanhamento em atendimentos médicos, refeições servidas e gerenciamento do abrigamento. Informamos ainda, que continuaremos a manter o suporte às famílias que buscam apoio”, informou o governo por meio de nota.