Cotidiano

Indígenas venezuelanas voltam aos semáforos para pedir esmolas

Assistência dada pelo poder público tem sido ignorada por dezenas de indígenas, que preferem pedir dinheiro a aceitarem abrigo

Uma cena voltou a se tornar comum nos semáforos das avenidas mais movimentadas de Boa Vista: a presença de indígenas da etnia Warao, da Venezuela, muitas vezes com crianças de colo, vendendo mel e produtos artesanais ou pedindo esmolas aos condutores de veículos e pedestres, expostas ao sol e aos perigos do trânsito.

A presença das indígenas nos semáforos havia diminuído nos últimos meses, principalmente após a implantação do Centro de Referência ao Imigrante (CRI), no final do ano passado. O local funciona de forma improvisada no Ginásio do bairro Pintolândia, na zona oeste de Boa Vista, e abriga atualmente mais de 500 venezuelanos, entre indígenas e não-indígenas.

Ontem pela manhã, 14, as indígenas pediam dinheiro e vendiam cestas e bolsas de palha no semáforo das avenidas Terêncio Lima com Glaycon de Paiva, no Centro. Uma das índias só aceitou falar com a reportagem após cobrar dinheiro. Ela admitiu que, mesmo com o suporte dado pelo Estado, preferiu pedir dinheiro, pois consegue mais nos semáforos do que no abrigo. “Estava no abrigo até o mês passado, mas vim para cá porque muitos motoristas nos ajudam. Estávamos passando fome na Venezuela, viemos para cá andando por dias para ter o que comer. A Venezuela acabou”, disse Yeltin Calderón.

A maioria dos indígenas Warao vive no Parque Nacional Mariusa, no Delta do Rio Orinoco, nordeste da Venezuela. A região é de área alagada e as casas são de palafitas. Os indígenas alegam que a crise no país governado pelo presidente Nicolás Maduro provocou uma escassez de comida jamais vista antes.

GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que atualmente há 447 indígenas venezuelanos no Centro de Referência ao Imigrante (CRI), em Boa Vista. Para permanecer no abrigo, o público, seja de origem indígena ou não-indígena, precisa dirigir-se até o local, onde é realizado cadastro para permanência por um período de quinze dias. A depender da situação de cada família, o período pode ser estendido.

O Governo do Estado ressaltou ainda que não tem competência nem obriga os imigrantes indígenas ou não-indígenas a irem e/ou permanecerem no CRI, pois a unidade é um local que recebe público voluntário. (L.G.C)