Política

Índios Ingarikó recebem gado para geração de renda e segurança alimentar

Cada uma das 11 comunidades recebeu 31 cabeças de gado para que nos próximos três anos invistam na reprodução dos animais

Os índios Ingarikó, etnia que habita a região próxima ao Monte Roraima, na tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela, a Nordeste do Estado, agora têm um rebanho bovino para proporcionar geração de renda e segurança alimentar. As matrizes e reprodutores foram entregues para as 11 comunidades, na manhã desta sexta-feira, 17, pela governadora Suely Campos (PP) e pelo deputado federal Edio Lopes (PR), autor da emenda que financiou o projeto.

“O pensamento de que as comunidades indígenas não produzem nada precisa ficar no passado. Os índios precisam crescer, estudar, trabalhar e principalmente se autossustentar. Essa segurança alimentar é muito importante e vai trazer dignidade e qualidade de vida. E é o que vamos fazer aqui na região, ajudando a garantir a subsistência das comunidades”, disse a governadora, ao acrescentar que é um compromisso do governo a implementação das políticas públicas necessárias para o desenvolvimento da região.

A entrega ocorreu no Centro de Referência de Produção Agropecuária Nutrir, onde um curral foi construído especialmente para o cuidado dos animais, que será feito de forma coletiva, por vaqueiros treinados de todas as malocas. Cada uma das 11 comunidades vai se responsabilizar e ferrar 31 cabeças de gado.

O deputado Edio Lopes criticou os embaraços que a Fundação Nacional do Índio (Funai) criou para a execução do projeto e disse que precisou de uma liminar da ministra Rosa Weber,  do Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) assinasse o convênio com o Estado de Roraima, que estava inadimplente na gestão passada.

“Esse projeto de bovinocultura foi idealizado por mim, em 2011, durante assembleia dos povos indígenas realizada na comunidade de Manalai, depois de um apelo que recebi para ajudar na segurança alimentar das comunidades. Passados quatro anos e muitas dificuldades, esse desejo se realizou com a chegada das quase 400 cabeças de gado de alto padrão de qualidade genética, que vai beneficiar essas 11 comunidades Ingarikó. Com toda essa demora, o preço do gado aumentou e a compra só foi possível porque a governadora reajustou a contrapartida, que era de 10% para 50%. Sem ela, hoje os Ingarikó não estariam recebendo esse benefício”, disse o parlamentar.

LOGÍSTICA – Bovinocultura é uma atividade econômica já consolidada na terra indígena Raposa Serra do Sol, com mais de 50 mil cabeças. O gado bovino vem sendo introduzido para reforçar a disponibilidade de proteína animal para os indígenas, que reclamam do descaso do Governo Federal e da escassez de caça e pesca, o que vem fragilizando a nutrição principalmente de crianças e idosos.

Para o prefeito do Uiramutã, Dedéu Araújo, a medida é uma grande ajuda para garantir o fortalecimento alimentar das comunidades indígenas. “É muito importante o trabalho conjunto entre os poderes. Suely e Édio Lopes não mediram esforços para trazer essas melhorias para a região”, comemorou.

Para que o gado chegasse até a comunidade, a logística foi delicada. Os animais foram adquiridos no Município do Amajari, ao Norte do Estado, e de lá transportados em caminhão boiadeiro até uma fazenda em Normandia, a Leste do Estado. Dessa fazenda até o Nutrir, foram 11 dias de caminhada, passando inclusive pela sede do Município de Uiramutã, a Nordeste do Estado, onde os vaqueiros indígenas receberam o apoio de militares do Exército para atravessar a área urbana da cidade com o rebanho.

Os animais chegaram magros, mas já estão recebendo alimentação, sal e medicamentos. Durante dois anos, os Ingarikó receberão subsídio do governo, por meio da Secretaria do Índio, para fazer a engorda e reproduzir o rebanho.

“O gado chegou como semente, ainda não podem ser abatidos. Durante três anos, vamos trabalhar para garantir a reprodução dos animais”, explicou o professor Dilson Ingarikó, principal liderança dos indígenas, ao acrescentar que, enquanto isso, os índios contam com uma pequena criação de carneiros para auxiliar na alimentação das comunidades.

O convênio, no valor de R$ 945 mil, atende a 1.465 índios. Além das cabeças de gado, as comunidades receberam um trator, combustível e 100 bolas de arame farpado.