Cotidiano

Insegurança para comerciantes e famílias

Pela proximidade com o bairro Caetano Filho lojas sofrem prejuízos e famílias são incomodadas

Basta descer a rua Cecília Brasil, no bairro Caetano Filho, para ver o cenário: pessoas espalhadas pelos caminhos, aglomeradas em meio ao lixo e sujeira, para a venda e o consumo de drogas. A situação é conhecida há décadas pelos boa-vistenses. Nem o anúncio do projeto de revitalização, pela Prefeitura de Boa Vista, mudou muita coisa.

Alguns imóveis foram indenizados. Outras famílias não aceitaram os valores oferecidos pela Prefeitura e a obra prevista não pode ser iniciada. Porém, o problema do tráfico e consumo de drogas continua. 

Não é raro o visitante se deparar com a venda e o uso de entorpecentes, que começam nas primeiras horas da manhã. Por conta da situação, residências e comércios próximos, sentem o impacto.

Um exemplo é a Orla Taumanan, área procurada por muitas famílias como opção de lazer e contemplação. Mas quem trabalha nos quiosques, afirma que o sentimento de insegurança predomina entre as pessoas. 

Há três anos, a vendedora Jociene Souza sabe o que é esperar por medidas que diminuam as cenas de violência. Diariamente, comerciantes retiram as lâmpadas dos quiosques. Também acorrentam mesas e cadeiras para não serem roubados, mesmo à luz do dia. 

“Sinto insegurança porque nada mudou. Tu acha que mudou o quê? Os policiais que ficam ali em cima são o mesmo que nada. Falta patrulhamento. Se os empresários vão lá e reclamarem eles dizem que a responsabilidade não é deles. Já aconteceu várias vezes. Quase todo dia acontece. Não tem horário para acontecer esse tipo de situação”, afirmou.

A vendedora desabafou que o maior problema é a perturbação que os dependentes químicos causam aos clientes e a falta de monitoramento da Guarda Municipal colabora para que a situação se agrave. 

“A gente vai lá e reclama e eles dizem que o Coronel já falou que não é responsabilidade deles. Se não é responsabilidade da Prefeitura, eu não sei de quem é. Uma dependente já deu uma tapa na cara de uma cliente bem aqui. A única coisa que a gente faz é ir à guarita, mas não vem ninguém”, confessou. 

Parte da estrutura do local está danificada por arrombamento de portas do restaurante. Estudantes usam esses cômodos para consumirem maconha. Jociene recordou que muitos empresários já desistiram de manter negócios no local por não aguentarem esse tipo de situação. 

Porém, pensar em desistir não está nos planos de um dos bares que compõe o cenário da parte mais baixa da Orla. Segundo a vendedora Emily Jackmiouth, às vezes elas tiram dinheiro do próprio bolso para comprarem cadeados e produtos de limpeza para manutenção dos banheiros. Parte dos toldos também está destruída e quando chove, alaga. 

“Nós que trabalhamos aqui sofremos muito com a falta de atenção dos guardas. Já tivemos situações de pedintes me agredirem verbalmente, quebrar pratos e os guardas quando querem ajudar, que é raro, só os mandam sair. Abrimos às 16h e várias vezes eu tive que pedir pra fumantes de maconha saírem da praça porque os clientes ficam incomodados”, relembrou.

Para ela, a situação se complica porque as tendas estão rasgadas e os clientes vão embora quando chove. Afirma que a falta de segurança é o maior incômodo. “É muito raro ir atrás deles e achar alguém. Como somos nós que fechamos, eu e minha esposa precisamos de apoio, pois ficamos vulneráveis, saindo tarde e com dinheiro”. 

Emily reivindicou melhorias na Orla, temendo pela segurança dos trabalhadores e dos frequentadores. “Eu penso que dá para melhorar. É uma coisa tão pequena que dá para melhorar e eles ficam prorrogando”, desabafou.

Órgãos públicos dizem que controlam abuso a visitantes 

Por meio de Nota, a Prefeitura de Boa Vista declarou: Em relação aos dependentes químicos, a Secretaria Municipal de Gestão Social, por meio do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), realiza intervenções semanais em vários lugares de Boa Vista, inclusive na área do Beiral, buscando aproximação e os encaminhamentos necessários. 

Sobre a questão dos guardas, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito esclarece que a Guarda Civil Municipal faz patrulhamento em todo o entorno da Orla Taumanan e não se restringe apenas à guarita. Por isso, pode ocorrer em alguns momentos dela estar vazia. 

Em relação aos dependentes químicos que ficam no local, esclareceu “que segurança pública, que inclui o combate ao tráfico de drogas e furtos, não é competência da esfera municipal”.

Já sobre as obras do Igarapé Caxangá estão em andamento conforme cronograma. As casas ainda não retiradas seguem na expectativa de decisão judicial. 

A Prefeitura de Boa Vista finalizou a Nota informando que a Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (Fetec), não tem conhecimento de usuários incomodando clientes da Orla. 

Esclarece que as lonas da plataforma superior foram substituídas e em breve serão trocadas as da plataforma inferior. A Fetec ressalta que é feita manutenção com frequência e investimos com ações culturais para aumentar o fluxo de visitantes. Qualquer solicitação por parte dos permissionários pode ser feita diretamente à Fetec, responsável pela Orla. 

GOVERNO – Com relação à segurança no bairro Caetano Filho, a Polícia Militar de Roraima informou por meio de nota que o policiamento preventivo e ostensivo é feito constantemente. Inclusive por equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Canil. Na noite desse sábado, 23, por exemplo, foi apreendido mais de um quilo de cocaína pela Polícia Militar naquela área da cidade. Além disso, está sempre de prontidão para atender as chamadas realizadas pelo número 190. 

A Polícia Civil de Roraima informou que está trabalhando diariamente para combater o tráfico de drogas. Destaca que somente nos últimos dias realizou três grandes operações que resultaram em prisões, desarticulando parte do tráfico de drogas tanto na Capital quanto no interior de Roraima. 

Reforça que a Polícia Civil de Roraima é das poucas unidades de polícia judiciária no País que trabalha com um núcleo especializado de combate a crimes relacionados ao tráfico de entorpecentes, por meio do Departamento de Repressão a Entorpecentes (DRE). 

É importante que a população denuncie práticas ilícitas para que a polícia desenvolva suas investigações. Qualquer denúncia que ajude a atuação policial pode ser feita nas delegacias ou por meio da central 190. A identidade do denunciante será preservada. 

Mesmo com os problemas, famílias gostam de ir à Orla 

Sendo um dos mais conhecidos pontos turísticos da cidade, algumas famílias relevam os problemas da realidade que contrasta com as paisagens que a Orla Taumanan proporciona. 

O empresário Lucas Albano levou a mãe para conhecer o local e disse que nunca foi abordado por dependentes que também frequentam aquele espaço. “Antes chegava e já me incomodava. Não ando muito aqui, mas não vejo nenhum problema”, afirmou.

Um casal amazonense aproveitava a tarde de sábado e foi à Orla contemplar a beleza e passar momentos de tranquilidade. “A gente veio passear, andamos um pouco por ali, mas ninguém me incomodou. Até penso em trazer a família pra cá”, confessou o técnico em segurança do trabalho, Samuel Alencar. 

A administradora Roniele Miranda evita visitar a Orla no período da noite. Ela já presenciou cenas de pessoas consumindo entorpecentes, também na praça em frente. “Agora deu uma melhorada porque tem mais movimento. Com a vinda dos venezuelanos ficou assim. Deu uma acalmada, mas com o tempo, volta”, afirmou.