Polícia

Jovem é sequestrado por facção

Família acredita que cunhado de jovem era o verdadeiro alvo de criminosos e pede que ele seja libertado com vida

A família do jovem Rafaelisson da Silva, de 19 anos, está vivendo momentos de terror, após ele ter sido sequestrado por membros de uma facção criminosa, no começo da madrugada da terça-feira, dia 20. O fato ocorreu na rua Ivone Pinheiro, bairro Caimbé, zona oeste da Capital. Os familiares afirmam, com convicção, que o rapaz está sendo injustamente confundido com integrante do crime organizado, uma vez que ele nunca teve envolvimento com ilícitos.

Em entrevista exclusiva à Folha, a família relatou o caso, destacando que na noite da segunda-feira, dia 19, depois de sair da casa da namorada, Rafaelisson foi até a casa da irmã, para entregar um presente de aniversário para a sobrinha, onde encontrou o cunhado, que pediu sua moto emprestada. O jovem não quis entregar o veículo e preferiu ir junto com o homem. O destino foi uma zona de prostituição e tráfico de drogas da Capital, nas proximidades da Feira do Passarão, no Caimbé, onde há uma grande concentração de bares e o fluxo de pessoas é intenso.

A família conta que, chegando ao local, o jovem entrou num dos estabelecimentos e, ao sair, foi confundido com alguém do crime organizado. Alguns indivíduos teriam gritado: “Ele é do Comando Vermelho [CV]”, momento em que foi abordado por pelo menos seis elementos, que o colocaram dentro de um veículo e saíram do local. O cunhado, que já estava na moto, fugiu antes de ser alcançado pelo bando.

Desde então os familiares não receberam qualquer notícia que os levasse ao paradeiro do rapaz. Em relação ao cunhado, a família destacou que na terça-feira, dia 20, ele foi internado no HGR depois de ter recebido uma terçadada na cabeça. Apesar da gravidade do ferimento, ele não corre risco de morrer.

A mãe de Rafaelisson, Alcione da Silva, que é servidora pública e esteticista, suspeita que o genro tenha envolvimento com o tráfico de drogas, mas não afirmou que ele seja membro de facção. “Faz dois meses que meu filho saiu da Base Aérea. Nós temos certeza que ele está pagando pelos erros do meu genro. Ele nunca foi preso e nem teve envolvimento com nada de errado. É muito popular, muito querido”, revelou.

Ainda segundo a mãe, ela só foi comunicada sobre o desaparecimento do filho, às 3h da manhã da terça-feira, quando uma mulher desconhecida, com traços indígenas, bateu na porta de sua residência juntamente com a filha e o genro envolvido no caso. “Meu genro contou que eles tinham ido tomar uma cerveja, já a mulher disse que tinham ido comer um sanduíche, mas quando eu fui ao local, observei que não tinha venda de sanduíche, a partir daí percebi que o local poderia ser um ponto de venda de drogas. Eu disse para meu genro que ele estava mentindo e que ele vai dar um jeito de encontrar meu filho”, revelou Alcione.

A funcionária pública declarou que não sabe em quem acreditar. “Eu também não sei onde meu filho está, com quem está e como está. Ninguém ligou dizendo que sequestrou meu filho. Meu filho pode até conhecer quem é do crime, mas ele não tem qualquer envolvimento com a bandidagem. Já pedi várias vezes para ele se afastar do cunhado. Toda a família já pediu. Minha filha está a ponto de fazer uma besteira porque se sente culpada pelo desaparecimento do irmão. Quando ela conheceu meu genro, ele não era assim”, contou.

O caso foi registrado no 4o DP. Na manhã de ontem, dia 21, o cunhado da vítima compareceu à Delegacia para relatar o fato ao delegado e pedir orientação. A autoridade policial pediu que ele procurasse o Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas (NIPD) para que investigadores iniciassem os procedimentos em busca de Rafaelisson. (J.B)

Mãe faz apelo para que criminosos libertem seu filho com vida

Na manhã de ontem, dia 21, a Folha procurou a família de Rafaelisson da Silva e conseguiu encontrar seus parentes reunidos e aflitos, aguardando informação que possa levar ao seu paradeiro. A mãe do jovem está sob os cuidados de suas irmãs.

Em meio à incerteza, diante da falta de informações e do medo de perder o filho de 19 anos, Alcione da Silva fez um apelo aos sequestradores, para que libertem o jovem com vida, afirmando que sua morte seria injusta, tendo em vista que ele não faz parte de nenhuma facção e nunca esteve preso.

“Quem tiver com meu filho, pelo amor de Deus, devolva para a gente. Não sou só eu que estou sofrendo. Estou dopada, vivendo à base de calmante. Já disseram até que tinham cortado a cabeça do meu filho. Eu peço que Deus toque no coração dessas pessoas para soltarem meu filho, deixarem ele em paz. A família inteira está sentindo, assim como os amigos. Nunca queiram sentir a dor que estou sentindo”, declarou.

A mãe persistiu no apelo e pediu que os assaltantes não se precipitem. “Se eles acham que meu filho é alguma coisa, fez ou falou algo de errado, que eles investiguem antes de fazer o mal. Meu filho deve estar sofrendo, com fome e com sede, sendo maltratado, fazendo tudo o que eles estão pedindo. Não matem meu filho porque é injusto. Ele está no lugar de uma pessoa que não vale a pena. Meu filho é inocente e não merece estar passando por isso. É isso que eu tenho para pedir”, reforçou.

Uma tia de Rafaelisson pediu que os sequestradores entrassem em contato com a família, para dar notícias de como o rapaz está. “A gente não quer uma notícia ruim, mas se eles também tiverem feito o mal, nos avise pelo menos onde deixaram o corpo para a gente conseguir chegar até lá”, complementou. (J.B)

Proprietária de bar detalha últimos momentos em que o jovem foi visto

Na tentativa de ouvir a proprietária do bar em que o jovem foi visto, a reportagem da Folha foi até a rua Ivone Pinheiro, no bairro Caimbé, onde os bares estão sempre cheios e a movimentação é frequente. No local, uma mulher deu sua versão do sequestro de Rafaelisson.

“Eu sou a dona daqui, mas eu não fico à noite. O que eu ouvi do pessoal é que ele realmente veio ao meu bar, bebeu aqui, chegou com um cara para comprar droga. Ele bebeu uma cerveja e saiu. Quando ele voltou já foi correndo. Ele passou de um bar para outro. Depois acalmou e viram ele no bar do “tripa”, bebendo e rodeado de mulheres”, explicou.

A mulher aparentava não estar à vontade para falar sobre o assunto, mas continuou o relato. “A história que eu sei é que ele correu depois que alguém gritou que ele era do Comando Vermelho, mas caiu antes de chegar na moto e os caras pegaram ele e colocaram dentro do carro. Nós não temos ideia de quem fez isso. Aqui tá demais. Ninguém pode beber em paz, ninguém tem paz”, acrescentou.

O bar tem câmeras de segurança, mas, segundo a proprietária, as imagens não estão sendo armazenadas por falta do aparelho que guarda os dados registrados, por isso ela sugeriu que os investigadores, que já estiveram no local, solicitassem as gravações do bar ao lado ou de um salão de beleza que também mostra a movimentação na rua.

“Aqui no meu bar, quando começam a vender drogas, eu expulso porque sei que vou ter problemas. Eu prefiro morrer de fome do que vender drogas. Na verdade, os caras queriam pegar o rapaz que estava na moto, mas infelizmente pegaram o inocente. O grande problema é que quando essas coisas acontecem, ninguém pode se meter porque eles matam. Eu passei a noite toda pensando em como a mãe desse rapaz está se sentindo”, contou. (J.B)