Política

Lava-Jato rastreia dinheiro para senadores

Movimentações financeiras de lobista ligado a Renan Calheiros reforçam indícios de pagamentos de propinas envolvendo Belo Monte e o Postalis

Enquanto o Congresso tenta, em várias frentes, estancar a sangria desatada pelo escândalo do petrolão, a Operação Lava-Jato avança em direção à alta cúpula do PMDB no Senado.

Investigadores rastrearam operações financeiras suspeitas de um lobista influente em Brasília que podem atingir em cheio lideranças peemedebistas. Documentos sigilosos da Procuradoria-Geral da República, revelam que foram coletados “diversos elementos de prova da atuação de Milton de Oliveira Lyra Filho, diretamente ou por meio de pessoas jurídicas, como intermediário de propina e lavagem de dinheiro para senadores do PMDB, nomeadamente Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e Edison Lobão”.

De acordo com procuradores da Lava-Jato, há indícios de que senadores do PMDB tenham se beneficiado de desvios de dinheiro da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e de fraudes nos investimentos realizados pelo Postalis, fundo de pensão dos trabalhadores dos Correios.

Os elo entre um esquema e outro, segundo os investigadores, é o empresário Milton Lyra, apontado como o operador do presidente do Congresso Renan Calheiros (PMDB-AL) e lobista com bom trânsito entre senadores peemdebistas.

Dono de uma rede de empresas em Brasília, Lyra realizou diversas movimentações financeiras atípicas com companhias enroladas na teia da Lava-Jato. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência ligado ao Ministério da Fazenda, revela que a Credpag Serviços Financeiros, controlada pelo lobista, recebeu diversos recursos suspeitos.

Uma parte deles foi transferida pela DM Web Technology, ligada a Rodrigo Brito, filho de Fernando Brito, que foi sócio da AP Energy. De acordo com a delação de dois executivos da construtora Camargo Corrêa, a AP Energy, sediada num endereço que abriga dezenas de companhias num escritório de fachada, foi utilizada pela empreiteira para repassar propinas da construção da usina de Belo Monte para o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Além do ex-ministro de Minas e Energia, Renan, Romero Jucá (PMDB-RR), Jader Barbalho (PMDB-PA) e Valdir Raupp (PMDB-RO) também estão sendo investigados por suspeitas de corrupção na obra de Belo Monte.

Procurado, o presidente do Senado Renan Calheiros disse por meio de sua assessoria de imprensa que conhece Milton Lyra, mas “reitera que não recebeu vantagens de quem quer que seja e que a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é de zero”. Milton Lyra afirmou que não irá comentar, porque não teve acesso ao documento da Procuradoria-Geral da República.

O criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, advogado de Romero Jucá e Edison Lobão, disse que os seus clientes tinham uma “boa relação” com Lyra, mas negou que tenham recebido qualquer dinheiro do lobista. “Os investigadores deverão comprovar os indícios apontados no inquérito”, afirmou. (Fonte: Revista VEJA)