Cotidiano

MPF investiga exploração de índios venezuelanos no norte do país

Para escapar da crise na Venezuela, índios warao ocupam ruas no Norte e vivem situação precária. Procuradores investigam exploração brasileira

A presença de centenas de índios venezuelanos circulando pelas ruas de cidades do norte do Brasil tem se tornado uma cena frequente no país. Em uma tentativa de fugir da crise do governo de Nicolás Maduro, índios da etnia warao atravessam a fronteira entre Brasil e Venezuela em busca de alimento.

Entretanto, muitos desses índios venezuelanos estão em situação de penúria e ocupam áreas de alta vulnerabilidade social, como pontos de tráfico de drogas e de prostituição. Essa situação levou o Ministério Público Federal (MPF) a suspeitar que eles estariam sendo escravizados por brasileiros – aproveitando-se deles financeiramente ou atuando como “coiotes” (traficantes de pessoas).

“Estamos investigando trabalho escravo, tráfico de pessoas e aliciadores que fazem a viagem dos índios mediante pagamento futuro”, explicou Felipe Moura Palha, procurador da República com atuação em Belém. Segundo o procurador, a atuação desses venezuelanos é semelhante a que ocorreu com haitianos que migraram para o Brasil, após um terremoto em Porto Príncipe.

Os indígenas estão concentrados desde o ano passado em cidades de Roraima, como Boa Vista e Paracaima, e também em Manaus, na capital do Amazonas. Entretanto, pequenos grupos começaram a chegar no Pará em julho deste ano e estão se abrigando em municípios como Belém e Santarém.

Esses índios têm sobrevivido no país à base de doações nas ruas e migram conforme a facilidade de consegui-las. De acordo com funcionários da prefeitura de Belém, os índios procuraram Belém por conta das festividades do Círio de Nazaré, um dos maiores eventos católicos do mundo, no último fim de semana. “Alguém falou para eles que, no Círio, eles poderiam conseguir mais doações de comida e dinheiro”, explicou Rita Rodrigues, psicóloga de um programa federal que atua com pessoas em situação de rua.

Dessa forma, o procurador Felipe Palha alerta que os índios warao podem migrar em breve para cidades mais ao sul ou no nordeste. “A facilidade de doações é que os atraem. Então, é possível que eles migrem para grandes cidades, como São Paulo”, afirmou Palha.

Em Belém, um grupo de 44 indígenas vive uma realidade bastante precária, com problemas de higiene e alimentação. Além disso, eles esbarram na barreira da língua, já que falam apenas a própria língua, e não se comunicam em espanhol ou português. “Eles estão passando fome, em situação de mendicância, as crianças em grave estado de desnutrição. O Estado brasileiro precisa dar uma resposta para essa situação, precisa dar um amparo para esses refugiados”, afirma Palha.

O MPF, junto à Defensoria Pública, chegou a entrar na Justiça para garantir um abrigo de emergência para o grupo na cidade. Entretanto, pouco depois de serem abrigados, eles decidiram voltar para as ruas.

Para o procurador da República José Gladston, a situação dos warao é ainda mais complicada pela falta de amparo do governo brasileiro. “A gente fica muito preocupado, ainda mais por que a Funai (Fundação Nacional do Índio), que é o órgão que poderia ajudar, está numa crise gigantesca, com perda do orçamento e funcionários”, disse o procurador. (Fonte: BBC)