Cotidiano

Mãe luta há dois anos para conseguir cirurgia e aparelho auditivo para filho

Com um ano, menino foi diagnosticado com deficiência auditiva; Aparelho custa R$ 7 mil

A vida da diarista e mãe solteira, Tamires Ribeiro Castro, tem sido marcada por batalhas diárias desde o primeiro ano de vida do único filho. Foi durante as visitas rotineiras ao médico que ela recebeu a notícia inesperada. Com um ano e seis meses, Kayque Castro foi diagnosticado com deficiência auditiva por apresentar 2% de atividade no ouvido esquerdo e 0% no direito. Hoje, Kayque tem seis anos e frequenta uma creche municipal em Boa Vista, mas a luta para obter o tão sonhado aparelho auditivo continua.

Os anos que vieram após o diagnóstico foram marcados por consultas e exames particulares que, muitas vezes, não faziam parte do orçamento, mas Tamires nunca desistiu. Em 2015, quando o menino tinha cinco anos, um médico entregou para Tamires um documento em que solicitava do Sistema Único de Saúde (SUS) o aparelho auditivo e a cirurgia para implante, que deveria ocorrer em São Paulo. Tamires foi atrás de todos os documentos necessários para que o filho pudesse receber o atendimento, mas foi pega de surpresa mais uma vez.

Junto ao SUS, a mãe de Kayque constatou que o aparelho estava disponível e que poderia ser liberado em uma clínica particular da capital, mas o menino não poderia receber o aparelho em razão de um convênio que, até o momento, não foi renovado pelo Governo do Estado. “Eu ligo todos os dias para a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e é a mesma coisa. O Governo não liberou verba, então não vão me dar o aparelho”, relatou.

Apesar do ocorrido, Tamires conseguiu matricular Kayque em uma creche municipal, localizada próximo da casa em que reside, no bairro Silvio Leite, zona Oeste. Entretanto, por não ter o aparelho, a diretoria da instituição comunicou que é preciso um laudo médico para que seja possível dar a Kayque o atendimento específico que precisa. “Só que o médico não quer me dar o laudo e eu não tenho como comprar o aparelho”, ressaltou.

Depois de explicar a situação, a diretora da creche se prontificou a ajudar entregando um documento que exige o laudo do médico de Kayque. Sem muitas opções, Tamires lamenta tudo que o filho é obrigado a passar.

“Ele já tem seis anos e nunca nenhum médico fez nada por ele. O aparelho custa R$7 mil e eu sou apenas uma diarista. A escola me cobra o laudo para ajudar o meu filho. Eles querem ajudar”, frisou.

A diarista destacou que chegou a abrir um processo junto ao Ministério Público do Estado (MPRR) para acelerar a aquisição do aparelho junto ao SUS. “Eles me disseram que eu preciso ter o laudo médico para acelerar o pedido do aparelho com o SUS. Me garantiram que, com o laudo, o aparelho vai ser entregue. Meu filho vai fazer sete anos e nunca ouviu ou falou”, pontuou.

ESTADO – A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o atendimento para crianças com perda auditiva é responsabilidade da gestão municipal e que, acima de 13 anos, a pasta disponibiliza o atendimento na Clínica Especializada Coronel Mota (CECM), com realização de cirurgias, exames e consulta para avaliar o grau de dificuldade auditiva, diagnóstico e indicação para utilizar o implante. Ainda declarou que está realizando um credenciamento para contratar novos prestadores de serviços e que as pessoas acima de 13 anos devem procurar a Coordenação Geral de Regulação, Avaliação e Controle (CGRAC) da Sesau para que sejam incluídas na lista de espera e, dessa forma, receber o aparelho auditivo quando disponível.

MUNICÍPIO – Em nota, a Prefeitura de Boa Vista confirmou que, em 2015, a criança foi atendida pelo médico otorrinolaringologista do Hospital da Criança Santo Antônio, o qual indicou no prontuário a necessidade do Tratamento Fora de Domicílio (TFD). “Porém, por algum motivo, a mãe não procurou a gerência de TFD da unidade hospitalar para iniciar os procedimentos necessários. Por conta disso, não há nenhum processo de TFD em aberto e nem solicitação de aparelho coclear para a criança. A Prefeitura de Boa Vista está à disposição da mãe da criança para iniciar o procedimento e garantir o atendimento do paciente”, assegurou. (A.G.G)