Cotidiano

Médicos recebem capacitação para diagnosticar difteria

Treinamento é forma de atualizar os profissionais de saúde na possibilidade de surgimento de novos pacientes com a doença

A classe médica estadual passou por uma capacitação preventiva sobre atendimento de pacientes com difteria na manhã e tarde de ontem, 26, no auditório do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR). A segunda etapa do treinamento, desta vez voltado para enfermeiros e demais profissionais de saúde, acontece nesta terça-feira, 27, no auditório da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde (CGVS).

A ação promovida em parceria entre Ministério da Saúde (MS), Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e o CRM-RR visa prevenir e atualizar os profissionais de saúde para saber como atuar no caso de surgimentos de novos pacientes com difteria. O foco foi reforçado ainda em razão de Boa Vista ter confirmado a morte de uma criança venezuelana por complicações da difteria em julho do ano passado.

A coordenadora-geral de Vigilância em Saúde, Daniela Souza, explicou que desde o diagnóstico a equipe de saúde está em alerta com uma equipe específica monitorando os casos em Roraima e na Venezuela, por conta da possibilidade de entrada da doença no país através da fronteira.

“A gente tem conhecimento pela Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (Opas e OMS), que há casos de difteria na Venezuela. Por isso a necessidade de treinamento porque para o Brasil essa doença está eliminada. Muitos médicos nunca se viram na frente de um caso e por isso a gente acredita que precisa de um treinamento”, frisou.

A presidente do CRM-RR, Blenda Avelino, aponta que a capacitação também é uma das funções do Conselho, de oferecer uma educação médica continuada. “A difteria é mais uma das doenças que estavam erradicadas no Brasil e que pode ressurgir em Boa Vista, mais especificamente por conta da migração”, avalia. “É uma forma de se antecipar no caso de alguma eventualidade”, acrescentou.

DEBATE – O professor Dr. Ralph Antônio Xavier, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade de Iguaçu (UNig), ambas no Rio de Janeiro, é escritor e especialista de renome nacional em difteria no país e foi responsável pela palestra e capacitação dos médicos em Boa Vista.

Para o palestrante, a capacitação e o debate sobre a doença são essenciais para que a população tenha mais conhecimento sobre a doença, principalmente no caso da difteria, uma doença, a seu ver, esquecida considerando que os últimos casos apareceram no país em meados de 1995.

“Sempre quando se fala de um determinado assunto, as pessoas ficam mais atentas à sua presença. O médico jovem, que se formou de 1995 para cá, não viu a doença porque não teve acesso ao paciente. Apesar de abordar em sala de aula, acaba esquecendo o assunto por falta de contato”, avaliou.

Outro ponto importante de discutir o tema e promover a conscientização é em razão dos custos aos cofres públicos que um paciente com difteria pode causar. Ralph cita que a vacina da difteria é extremamente eficaz e barata, custa em torno de centavos e os custos com uma pessoa em estado grave pode chegar até R$ 5 mil.

“Quando o paciente está em estado grave devido à doença, vai precisar de um cardiologista, precisar fazer uma diálise peritoneal, ou seja, se transforma em um paciente caro e que poderia ter sido evitado. Além do problema de saúde da pessoa, é uma situação também para o sistema de saúde e os cofres públicos”, pontuou.

Saiba quais os sintomas da difteria e modos de transmissão

De acordo com o Ministério da Saúde, a difteria é uma doença causada por uma bactéria que frequentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. O principal sintoma é a instalação de uma membrana grossa e acinzentada que se instala nas amígdalas e garganta. Outros sintomas são glândulas inchadas no pescoço, dificuldade em respirar, corrimento nasal, febre alta, calafrios e mal-estar.

A transmissão pode ocorrer no contado direto da pessoa doente ou com portadores da doença através de gotículas de secreção respiratória, eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. No caso de diagnóstico positivo, o tratamento mais eficaz é com o soro antidiftérico (SAD), que deve ser feito em unidade hospitalar.

A forma mais eficiente de se prevenir contra a doença é através da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DPT). O MS preconiza que a vacinação seja feita a partir dos dois, quatro e seis meses de vida. Outra dose deve ser aplicada com um ano e três meses, aos quatro anos e seis anos de idade. Em seguida o reforço deve ser aplicado a cada 10 anos. (P.C.)