Política

Ministros prometem mais segurança e retirada de venezuelanos de Roraima

Venezuelanos com qualificação que estão em Roraima poderão morar em SP, PR, AM e MS, disse Jungmann

“Fiquei chocado com o que vi nas ruas de Roraima. É um drama ver pessoas fugirem do seu país por causa da fome”, reconheceu o ministro Raul Jungmann, da Defesa Nacional, após visitar os venezuelanos na Praça Simon Bolívar, em Boa Vista, na manhã de ontem, 8.

A comitiva, composta também pelos ministros da Justiça, Torquato Jardim, e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, ficou cerca de 15 minutos na praça observando in loco a situação dos imigrantes que vivem nas ruas de Boa Vista. A mudança na agenda oficial ocorreu por conta dos protestos do Governo do Estado e da recusa da governadora Suely Campos (PP) em se reunir no saguão da Base Aérea de Boa Vista.

Após a visita à praça, os ministros foram até o Palácio Senador Hélio Campos, onde ficou definida uma agenda de ações que incluem o aumento imediato de 100 soldados do Exército Brasileiro na fronteira com a Venezuela e a interiorização de venezuelanos que queiram deixar Roraima. Jungmann reiterou que a redistribuição é fundamental por conta do peso e sobrecarga que essa chegada descontrolada representa para Roraima.

Paralelamente, um censo será realizado em até 90 dias para identificar quem entra e quer ficar no Brasil, quem só está de passagem para outro estado, ou quem vai e volta para a Venezuela, o que estas pessoas vieram fazer e o que pretendem. Os primeiros dados, de acordo com o ministro, apontam que 70% desses venezuelanos têm nível médio de escolaridade e 30% têm nível superior e que deixaram seu país em busca de oportunidade por falta de comida, emprego e medicamentos.

O plano de ações também inclui o reforço de pessoal em todas as agências governamentais, a abertura de um posto da Polícia Rodoviária Federal em Pacaraima, no norte do Estado, além da ampliação do número de policiais federais. Nesta região, serão abertas representações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), além de outros órgãos.

Somente mão de obra qualificada será interiorizada, diz Governo Federal

A partir de meados de março, o Governo Federal pretende começar a encaminhar mil venezuelanos para pelo menos quatro estados: São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul dentro do processo de interiorização de imigrantes venezuelanos para outros estados brasileiros, conforme divulgou a Folha em primeira mão.

A informação foi anunciada pela Casa Civil da Presidência da República que explicou que o processo contaria com a participação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e envolve, no primeiro momento, mil pessoas entre homens solteiros e famílias com crianças que se encontram em um dos abrigos de Boa Vista. Indígenas não serão beneficiados pelo plano de interiorização. O processo deve seguir no decorrer do ano com o atendimento de mais pessoas.

Dados divulgados pelos ministros revelam que 77% dos imigrantes têm interesse no processo de interiorização, mas apenas os que estão com situação documental regular no Brasil poderão ser beneficiados, com ênfase para aqueles que possuem potencial de inserção no mercado de trabalho.

De acordo com a Casa Civil, o custo inicial desse processo será de R$ 2 milhões, além de participação na rede de acolhimento federal. Também foi informado que empresas e governos de outros estados têm demonstrado interesse em empregar mão de obra estrangeira.

Suely Campos cobra soluções e apresenta 11 propostas

Em reunião com os ministros no Palácio Senador Hélio Campos, a governadora Suely Campos entregou um documento com 11 medidas para minimizar o impacto causado pela crise migratória e a vulnerabilidade dos imigrantes. Estima-se que atualmente em Boa Vista há 40 mil venezuelanos. Quase 1.400 pessoas vivem nos três abrigos mantidos pelo Governo do Estado, sendo dois em Boa Vista e um em Pacaraima.

Suely afirmou que o Governo está fazendo a sua parte, suportando o aumento dos gastos com saúde, educação, segurança pública e também no acolhimento humanitário aos imigrantes. Além disso, cobrou do Governo Federal mais atuação na resolução dos problemas ocasionados pela imigração. “Depois de muita insistência, os ministros vieram ao nosso encontro para falar sobre esse tema que é muito importante. Em todos os momentos, tivemos uma postura de cobrança da responsabilidade do Executivo Federal, que, desde o início da imigração venezuelana, não se mostrou interessado em apoiar o Estado em suas ações”, destacou a governadora.

As propostas apresentadas aos ministros eram para reforço na segurança nas fronteiras, com aumento do efetivo da Polícia Federal e do Exército. “Sugerimos ao Governo Federal que reforçasse as fronteiras do Brasil com a Venezuela, realizando uma triagem dos imigrantes que se deslocam para o Estado. Precisamos saber quem tem documentos, se o imigrante está apto ou não para entrar no Brasil”, argumentou Suely Campos.

A chefe do Executivo propôs que o Exército faça policiamento ostensivo em Pacaraima e que seja instalado um posto de triagem antes da chegada à sede do município. “É necessária a ampliação da atuação do Exército Brasileiro no policiamento ostensivo na cidade de Pacaraima, com revista de pessoas no perímetro urbano, além da atuação na fronteira no combate aos crimes transnacionais, sobretudo, tráfico de drogas e de armas”, enfatizou.

No documento, Suely Campos também pediu o restabelecimento de barreira sanitária e de vacinação em Pacaraima e edição de ato normativo que torne obrigatória a vacinação de estrangeiros para o ingresso no Brasil, pela fronteira de Roraima.

Também foi feito o pedido de doação de um helicóptero para o Sistema de Segurança Pública do Estado, aumento de investimentos e o descontingenciamento dos recursos federais de convênios para os projetos para o Sistema de Segurança Pública de Roraima, além da liberação de recursos para aquisição de veículo especial com escâneres, para fiscalização de automóveis e cargas nas fronteiras, e um Data Center, para viabilizar a utilização do Procedimento de Polícia Judiciária Eletrônica (PPE) e fomentar a inteligência do Sistema de Segurança de Roraima.

Teresa recebe documento de venezuelanos na praça Simon Bolívar

A prefeita Teresa Surita (PMDB) recebeu de um dos líderes dos acampados na praça Simon Bolívar uma lista com os nomes de mais de 600 líderes de família que estão ocupando aquele espaço público. Teresa disse que vai se reunir com os assessores para ver o que será possível fazer no sentido de diminuir o sofrimento daquelas pessoas. 

A prefeita reconheceu que os abrigados na praça não têm o básico para a sobrevivência. “Essas pessoas estão aqui, no caso, porque não têm casa onde morar, não têm trabalho, não têm comida, não têm condições nenhuma e, inclusive, com crianças. Quero reforçar o apelo e pedir uma ajuda para que a gente possa socorrer essas pessoas da forma correta, e que possamos minimizar essa crise que está a cada dia pior”, frisou.

Teresa voltou a explicar que “diante da falta de infraestrutura, não tem como resolver uma situação tão grave como esta”. Além da prefeita e dos ministros, a visita aos refugiados que ocupam a praça Simon Bolívar contou com a participação do senador Romero Jucá (PMDB) e dos deputados federais Abel Mesquita (DEM), Maria Helena (PSB) e Remídio Monai (PR).

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