Cotidiano

Miss ainda não vai se pronunciar sobre ataques racistas, afirma irmã

Jovem que representa Roraima no Miss Brasil é da Bahia e diz que, por enquanto, está focada somente na disputa

Apesar do acesso fácil e rápido a informações e conhecimentos gerais, a intolerância em relação a etnias ainda é realidade. A baiana Iane Cardoso, advogada e atual Miss Roraima, foi mais uma vítima de racismo esta semana, nas redes sociais, devido aos seus traços indígenas. À Folha, a empresária, produtora rural e irmã mais velha da miss, Daniela Siqueira, falou sobre o ocorrido e de que maneira a miss se comportou diante do caso.

Para Daniela, a moça que fez o pronunciamento racista na rede social Facebook foi infeliz, por “achar que é ridículo o fato de o resto do país acreditar que em Roraima só tem índio e ainda terminar dizendo que o tempo de índio acabou”, disse. Segundo a empresária, parece besteira discutir o assunto atualmente, mesmo assim, o acontecimento só serviu para provar que o racismo ainda existe.

“Tempo de índio não acabou, isso que é a essência e a história. Somos um país mestiço. Cada um tem sua importância”, frisou. A empresária, que é descendente de africanos, relatou que a realidade das cotas é mais um exemplo de que o preconceito e o racismo estão presentes, posicionando-se contra este sistema.

“Somos todos iguais, somos capazes igualmente. Temos que mostrar as riquezas, as negras, ruivas, loiras, indígenas”, disse ao acrescentar que o que vai diferenciar todas as mulheres lindas que estão participando do concurso nacional são a desenvoltura, as atitudes, os comportamentos e a forma de se colocar diante de tudo que vai ser exposto. “Não basta ser bonito, é preciso ter um conjunto”, frisou.

Na terça-feira, 27, Daniela disse que a família conversou com a miss, que também é advogada, sobre o ocorrido, para que não tomassem nenhuma atitude sem que ela quisesse. Daniela informou a irmã não quer pensar no assunto, por estar focada na concentração do concurso. “Foi o que ela sonhou e sempre quis e agora está vivendo. Quando ela chegar, ela vai ver”, disse.

HISTÓRIA – Conforme Daniela, Iane Cardoso nasceu em Juazeiro, na Bahia, onde também existem várias tribos indígenas. “Índios não são só de Roraima, são donos do país inteiro. Ela é de origem indígena, sim”, ressaltou. Chegou a Roraima aos 10 anos de idade, sendo o Estado que a abraçou durante o seu desenvolvimento. Recebeu a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aos 20 anos, sendo considerada uma das mais novas do país a conquistá-la. Atualmente, a miss tem 23 anos.

A empresária informou que não foi fácil o momento em que a irmã caçula sentiu a vontade em ser miss, devido à crise financeira que prejudicou a família, uma vez que os custos do concurso são altos. Daniela comentou que pessoas comentaram nas redes sociais que Iane teria pago para participar do concurso, mas que, na verdade, as outras meninas que também se inscreveram desistiram do evento. “As pessoas falam muito e sem saber, mas cada um tem seu livre arbítrio, no fundo, a verdade é uma só”.

Segundo ela, Roraima não tem a visão de patrocínio que outros estados possuem e, apesar disto, Iane continuou na busca de patrocinadores para apoiarem o sonho. “Eu mesma a acompanhei durante essa fase de busca, e ela recebeu várias respostas negativas. Seja rico ou pobre, você tem que correr atrás do valor que o concurso estipula”, disse. Ainda com a falta de condição financeira e de preparo, a missa não desistiu.

“Feio não é ter traços indígenas ou não. Feio é a falta de incentivo e apoio para as meninas que têm esse sonho. Mesmo que seja negro, índio, branco ou mestiço, isso é diversidade, é o que enriquece e representa o país. Que graça teria se todos fossem iguais?”. (A.G.G)