Cotidiano

Moradores do Pérola ainda sofrem com problemas de segurança e saúde

População alega que se sente insegura com a onda constante de assaltos e prefere se trancar em suas casas

Em agosto do ano passado ocorreu a inauguração dos conjuntos habitacionais Pérola VI, VII e Ajuricaba em Boa Vista, evento que contou inclusive com a presença da presidente Dilma Rousseff e autoridades dos governos federal, estadual e municipal. No entanto, após completado um ano da implantação das residências, os moradores reclamam que problemas básicos ainda não foram solucionados, em especial nas áreas da segurança pública e atendimentos de saúde.

De acordo com um dos moradores do Pérola, o comerciante Itamir Castro Costa, de 49 anos, o ponto principal do conjunto habitacional foi ter adquirido a casa própria e sair do aluguel, mas, fora isso, a população se sente abandonada.

“Segurança a gente não tem, saúde não temos, não temos nada. Quando nós chegamos aqui, toda hora tinha policial, toda hora tinha Guarda Municipal, tinha Ronda do Bairro, aí jogaram a gente aqui e esqueceram. Na hora que inaugurou, eram mil maravilhas, policial a toda hora, hoje em dia a gente liga para a polícia e o pessoal não aparece”, reclamou. “A gente tem que fazer amizade com quem é bom e com quem é ruim para sobreviver, para não ter problema”, informou o morador.

Além disso, Itamir ainda questionou a aplicação dos recursos no Pérola que, segundo ele, precisavam ser mais focados nas áreas da saúde e policiamento. “Tem uma praça muito bonita. Será que a gente precisava de uma praça bonita dessas ou de um posto de saúde aqui? Será se a gente precisava dessa praça bonita ou um box da polícia? Aqui faz, aqui acontece. Todo mundo aqui faz o que quer aqui”, criticou.

Outra fonte, que optou por não se identificar, também reclamou da falta de postos de saúde no Pérola. “Não temos posto, então nós temos que andar bastante até o outro bairro para atendimento. Na minha casa mora uma idosa de 86 anos. Ela precisa de um posto de saúde próximo e a gente não tem isso”, reclamou.

Outro ponto levantado por uma moradora, que também preferiu não se identificar, é em relação ao transporte público. Segundo ela, houve uma melhora significativa na circulação de ônibus no local, porém a população sofre na hora de necessitar o serviço do táxi-lotação. “É uma humilhação para o lotação trazer a gente aqui para o Pérola, eles querem cobrar muito além. Já chegaram a cobrar R$ 30, R$ 50. É bem injusto”, reclamou.

Outra moradora disse que se sente insegura e que prefere se trancafiar dentro de casa junto com a sua filha a fazer passeios considerados comuns, como conversar com amigas na frente da sua residência ou passear pela praça do conjunto habitacional. “A gente não tem mais como ter lazer. Eu não tenho coragem de levar minha filha para a praça. Ela chora para ir na pracinha e eu me passo por mãe ruim. A gente não sabe o coração do outro. Ela fica o dia todinho dentro de um quarto assistindo filme porque eu tenho medo, simplesmente isso, eu tenho medo”, informou a moradora.

“O pai de família tem que se trancar dentro de casa enquanto os ‘galerosos’ ficam aí. A gente tem que ficar enfiado dentro de casa, porque se a gente sair, os malandros entram e roubam. Traz para a gente uma insegurança total. A gente fica preso dentro de casa. No máximo, a gente fica conversando até umas 21h, não passa disso, porque a gente tem muito medo. A gente não pode falar nada, não pode reclamar alguma coisa com esses meninos, porque acontece que eles vêm e fazem mal pra gente e para a nossa família”, disse.

Ela afirmou ainda que a sensação atual vivida em Boa Vista é similar à que se encontra em grandes capitais, como em São Paulo, e que os costumes que normalmente eram comuns em Boa Vista estão deixando de existir por conta da insegurança. “Esse negócio de vizinhança, não existe isso, lá é cada qual por si. A gente ainda fazia, quando passava alguém, a gente via que era trabalhador e pedia uma água, a gente oferecia água, café, bolo, o que tinha em casa. Hoje em dia não tem mais como confiar”, acrescentou.

OUTRO LADO – Em relação aos serviços de saúde, a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) informou que “tem trabalhado para melhorar cada vez mais os serviços de saúde oferecidos à população e está ciente dos desafios enfrentados pelos moradores do Conjunto Pérola do Rio Branco”.

A administração municipal também informou que há um projeto de construção de uma nova unidade básica de saúde cadastrado no Ministério da Saúde e que somente aguarda, no momento, a liberação de recursos para licitar e iniciar as obras. No entanto, a Prefeitura ressaltou que os moradores daquela localidade são atendidos com “ações pontuais de serviços promovidos pela Secretaria Municipal de Saúde e pelas equipes da unidade Délio Tupinambá, no bairro Nova Cidade, que hoje funciona até meia-noite”.

Sobre a questão da segurança pública, a Polícia Militar de Roraima (PMRR) informou, por meio do Comando de Policiamento da Capital (CPC), que tem feito ações em toda a Capital com objetivo de coibir a criminalidade e que o monitoramento na zona oeste da cidade é realizado pelo 2º Batalhão da Polícia Militar, que compreende 24 bairros, incluindo o conjunto Pérolas do Rio Branco.

De acordo com a PMRR, “o CPC tem realizado policiamento diário na localidade, em horários aleatórios e está articulando, junto ao 2º Batalhão, meios para intensificar mais a fiscalização no bairro”. A Polícia ressaltou ainda as ações da operação Sétimo Mandamento Integrada, que tem como objetivo coibir crimes em toda a Capital, como tráfico de drogas, ações de galera e principalmente roubos praticados com o uso de armas e motocicletas e salientou que “as ações estão sendo adaptadas conforme os levantamentos e necessidades”.

A Polícia Militar ainda recomendou às pessoas que se depararam com problemas relacionados à segurança, seja de urgência ou emergência, que entrem em contato com a polícia por meio do telefone 190 para que uma equipe realize o atendimento conforme a ocorrência. (P.C)