Cotidiano

Moradores do Projeto Passarão cobram atenção do Governo e Prefeitura de BV

Cerca de 400 pessoas sofrem com falta de segurança, atendimento de saúde, rede de comunicação e até água potável

Moradores do Projeto de Irrigação Passarão, localizado na zona rural de Boa Vista, a cerca de 60 quilômetros da Capital, acionaram a Folha para denunciar o abandono do local pelas autoridades. Idealizado há cerca de 25 anos pelo Governo do Estado, a proposta era que a área fosse destinada ao cultivo de grãos e frutos.

Conforme um morador, que preferiu não se identificar, o projeto está esquecido pelas autoridades. “Os moradores não têm assistência alguma, falta segurança, rede de comunicação e o canal que abastece os lotes para a irrigação está em mau estado, com buracos, faltando um reparo. A vila tem pelo menos 400 moradores sofrendo devido a muitos problemas”, afirmou. Ele denunciou que falta água potável para a região. “A comunidade não tem água, pois a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer) furou um poço artesiano e depois condenou o poço por ser impróprio para consumo humano”, informou.

O denunciante disse que existe uma escola estadual no local que, segundo ele, “é cabide de emprego” e “de um dono de uma grande empresa que presta serviço ao Estado com transporte escolar”. O morador do Passarão contou ainda que o único meio de comunicação da região é um orelhão da Oi, que não funciona. “Já foram feitas inúmeras denúncias e nada foi resolvido”, completou.

Quem mora no Passarão sofre também com a falta de transporte público e posto de saúde. “Além de sofrer por não ter assistência básica em saúde, o único meio que nós tínhamos de acesso era um ônibus que ia até as comunidades e a Prefeitura [de Boa Vista] tirou”, citou.

HISTÓRICO – O Projeto de Irrigação Passarão foi idealizado em 1991, mas a proposta teve adequação em setembro de 1995. A ideia inicial compreendia a implantação de infraestrutura para irrigação da primeira etapa de 1.000 hectares com uma área piloto de 400 hectares já implantada para fruticultura e horticultura.

A proposta visava beneficiar diretamente mais de 280 mil habitantes, diretamente de Boa Vista e indiretamente de Normandia, Bonfim, Cantá, Mucajaí, Alto Alegre e Amajari. No âmbito econômico e social, o projeto buscava condições para eliminação da pobreza da região, desenvolvendo a economia com o incremento da renda regional e das receitas públicas, viabilizando-se, assim, o acesso da população a melhores condições de vida. (P.C)

Governo do Estado nega abandono

Por meio de nota, o Governo do Estado informou que as obras do projeto do Passarão estavam paralisadas há pouco mais de sete anos e que vem realizando ações com o intuito de fazer as adequações necessárias para a retomada dos trabalhos. “Não houve abandono dos moradores. Em nenhum momento, os produtores da localidade ficaram desamparados”, assegurou.

Em 2015, a Secretaria estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) atuou reajustando documentos e planilhas e realizando reuniões com representantes da Secretaria Nacional de Irrigação (Senir). No ano seguinte, em 2016, a Lei Orçamentária Anual (LOA) do Governo Federal não contemplou o projeto, porém, para evitar a paralisação do andamento dos trabalhos, a Seapa subsidiou com recursos próprios a manutenção dos serviços.

Na semana passada, representantes da Seapa estiveram em Brasília cobrando a readequação da verba destinada para a execução do projeto no próximo ano, pois as quantias estariam defasadas.

Quanto ao canal que abastece os lotes para irrigação, a Seapa esclareceu que o local foi reparado há cerca de uma semana. “Os técnicos da Seapa trabalham constantemente na manutenção das bombas e canais. Além disso, somente no ano de 2016 foram doadas 80 toneladas de calcário aos produtores. Os técnicos da secretaria também trabalharam na preparação de uma área de 35 hectares onde haverá cultivo de milho, feijão, melão e melancia”, informou.

SEGURANÇA – Sobre a sensação de insegurança dos moradores, a Polícia Militar de Roraima informou que, devido à quantidade de habitantes na região e o baixo número de ocorrências – somente duas este ano -, não há a necessidade de um destacamento fixo no local. Entretanto, a PMRR ressaltou que pode ser solicitada por meio da 4ª Companhia Independente de Policiamento de Fronteira, que é ligada ao Comando de Policiamento do Interior (CPI).

ÁGUA – A Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer) informou que não possui unidade de abastecimento no Projeto Passarão, mas que a empresa enviará uma equipe ao local para fazer a análise da situação e tomar as providências.

SAÚDE – Já em relação aos atendimentos de saúde, o Governo do Estado frisou que a intenção é levar sempre a ação para os locais que mais precisam e que vai estudar, por meio da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), as alternativas para contemplar o quanto antes a população da região com serviços de saúde especializada.

EDUCAÇÃO – Quanto à informação da possível prática de “cabide de emprego” na Escola Estadual Nilo José de Melo, o Governo do Estado assegurou que é “uma denúncia sem fundamento e que os denunciantes devem registrar na Ouvidoria da Secretaria Estadual de Educação e Desporto para devida apuração”.

Moradores podem ser atendidos em postos de saúde no Caranã e Cauamé

Sobre a falta de um posto de saúde nas proximidades do Projeto de Irrigação Passarão, a Prefeitura de Boa Vista informou que os moradores da região podem ser atendidos nas unidades básicas Mariano de Andrade, no bairro Caranã, e Cauamé, que ficam nas proximidades. Disse ainda que “já está programando novas ações de saúde itinerantes para atender a população da região”.

Quanto ao transporte público, a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) está fazendo o levantamento necessário para identificar a problemática e propor uma solução para a demanda.

OI – Sobre os serviços de comunicação, a empresa Telemar Norte S/A – Oi informou que enviará uma equipe técnica para verificar o problema do orelhão mencionado pela reportagem.