Cotidiano

Moradores reclamam de terreno usado pela PMBV para depositar pneus velhos

Com o aumento de casos de chikungunya no Estado, famílias do bairro Pricumã temem contrair a doença

Os moradores da Rua das Quaresmeiras, no bairro Pricumã, zona Oeste da Capital, denunciaram à Folha a situação do terreno localizado atrás do prédio da Superintendência de Serviços Ambientais da Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV). Segundo eles, o terreno é utilizado como depósito sem qualquer cobertura de pneus velhos de carro e moto, carcaça de veículos e outros entulhos. Com o aumento de casos de chikungunya no Estado, eles temem contrair a doença.

A aposentada Maria dos Prazeres, moradora há mais de 20 anos no bairro, ressaltou que o terreno é utilizado como depósito há mais de dez anos. Durante este tempo, ela disse que os moradores se reuniram diversas vezes para resolver o caso junto à prefeitura, levando até documentos assinados pelos residentes, mas nada foi feito. Em sua residência, é constante a presença de vários mosquitos durante todo o dia, entre eles o Aedes aegypti, transmissor da chikungunya, dengue, zika e febre amarela urbana.

Próximo do terreno, outra moradora que preferiu não se identificar reforçou que, há mais de 30 anos no bairro, lembrou que o terreno já serviu de campo de futebol para as crianças da redondeza. Em sua casa, a moradora mostrou o cuidado que tem em relação às plantas e o quintal. “É um contraste triste e preocupante, porque só quem mora aqui entende os riscos que passamos”, frisou.

O aposentado João Carlos Pinto é outro morador que reside em uma casa quase em frente ao terreno. Ele lembrou que foi à prefeitura três vezes só este ano. Nas ocasiões, a resposta foi a mesma: “Eles falam que o terreno é cuidado, que vão providenciar a limpeza. Mas vocês estão vendo o que realmente acontece”. Residente há sete anos na região, ele destacou que a antiga dona da casa onde ele mora teve malária três vezes em um ano.

Além de alguns integrantes da família, ele disse que quase todos os vizinhos que conhece já contraíram doenças como malária, hepatite e dengue. Por conta dos maus cuidados no terreno, o aposentado ressaltou que pulveriza o seu quintal semanalmente. “É difícil, porque quando os agentes vêm a nossa casa, não pode ter nada errado que eles multam. Mas e o terreno da prefeitura? Quem vai receber essa multa?”, enfatizou.

CENÁRIO – Além dos pneus, carcaças de veículos e computadores velhos, o terreno também possui centenas de cadeiras empilhadas em dois grandes montes. Quem passa pela Avenida Brasil, trecho urbano da BR-174 sul na divisa com o bairro 13 de Setembro, consegue ver as pilhas que já ultrapassaram a altura do muro. (A.G.G)
 
Prefeitura diz que local serve como Ecoponto e passa por supervisão

Sobre o caso do terreno utilizado como depósito, a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) informou que no local funciona o Ecoponto, um serviço que serve para o descarte de pneus usados. Contudo, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) informou que é realizado o tratamento focal com aplicação de inseticida sempre que detectados possíveis focos, além de borrifação em todo terreno do Ecoponto.

Conforme a SMSA, os pneus são levados semanalmente para Manaus (AM), do mesmo modo que a equipe que administra o Ecoponto encaminha semanalmente um relatório para Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses. Segundo o órgão, o objetivo principal do serviço é concentrar os pneus de toda cidade e facilitar o encaminhamento deles para Estado do Amazonas, onde é realizada a reciclagem do material.

A prefeitura afirmou ter instalado as unidades disseminadoras do projeto de combate ao Aedes aegypti e que as equipes fazem monitoramento constante no bairro, além da eliminação dos focos do mosquito.

ENTULHO – Sobre as pilhas de cadeiras no terreno, a Secretaria Municipal de Administração e Gestão de Pessoas (Sead) informou que o depósito é utilizado temporariamente para realizar os leilões de inservível. Assim que o leilão é realizado, os arrematadores têm um prazo para retirar os lotes e, quando isso não ocorre, a pessoa é notificada.

Caso não seja retirado, são tomadas as providências para dar destino adequado. No caso das cadeiras, elas foram vendidas em um lote de leilão e a pessoa que arrematou já foi notificada pelo município. O prazo final para a retirada do material é neste fim de semana. (A.G.G)

 AEDES AEGYPTI 
Roraima tem seis municípios do interior em Situação de Alerta

Conforme dados do Ministério da Saúde, seis municípios estão em Situação de Alerta contra a chikungunya por conta do período chuvoso, sendo a capital Boa Vista a que mais tem casos registrados. Em 2016, Boa Vista registrou 23 casos da doença. Em 2017, já são quase 400 casos registrados e pelo menos 1700 casos suspeitos na região até o momento.

Segundo o ministério, equipes de saúde vão atuar em bairros da Capital utilizando armadilhas de envenenamento ao larvicida onde o mosquito deposita os ovos em possíveis criadouros, chamadas estações disseminadoras. O órgão informou ainda que Boa Vista é a primeira cidade a utilizar a técnica desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os resultados serão analisados durante dez meses, podendo ser estendida para outros bairros. (A.G.G)