Cotidiano

Moradores resistem à desocupação e esperam decisão sobre indenizações

Alguns moradores decidiram não desocupar suas casas até que o município reajuste o valor das indenizações

No lugar da área conhecida como Beiral, a Prefeitura de Boa Vista pretende fazer o Parque Rio Branco. Mas, alguns moradores não saíram de suas casas e recorreram à Justiça alegando que o valor proposto como indenização é insuficiente para retomarem suas rotinas. 

Em maioria, os imóveis se localizam nas Ruas Ajuricaba e Sebastião Diniz, no Centro. Moradores disseram à Folha, esperar pela decisão judicial porque as casas são referência histórica, algumas recebidas em herança. Um deles pediu anonimato e garantiu não ser contra a obra, nem empecilho ao projeto de revitalização do bairro Caetano Filho.

Mas, o cidadão não concorda com o valor oferecido pela prefeitura, argumentando que com ele não terá como comprar um imóvel nas mesmas condições e implantar seu comércio.

“Desde que iniciou a consulta às famílias que residem no local, sempre fui favorável. Apoiei e incentivei meus vizinhos a buscarem condições dignas de moradia. Mas, não posso concordar com o valor irrisório a nós oferecido para sairmos do local. Não terei condições de dar à minha família condição digna de moradia, e implantar nosso comércio nos moldes que temos há mais de 20 anos. Vou aguardar o desfecho da ação para retomar a conversa com a prefeitura”, relatou.

Do mesmo modo se posiciona a professora Maria de Fátima Silva dos Reis. Por discordar do valor proposto para indenização, ela também aguarda manifestação da justiça. “É inaceitável o valor que nos ofereceram. Com menos de R$ 200 mil não tenho como manter o padrão residencial criado por nossa família em mais de 30 anos”.

A professora diz que a mãe dela trabalhou a vida toda para conseguir o que tem. De repente a família é quase obrigada a deixar tudo para se adaptar em outro local. “E onde vamos encontrar uma casa no Centro, por esse valor?”, indagou Maria de Fátima. (R.G)

Maioria das famílias está na zona Oeste

Outra que questiona o valor da desapropriação é a dona de casa Karine Pereira Lemos, e no caso dela, a família aguarda a conclusão do inventário para retomar a negociação, mas adiantou que também pretende questionar o valor a ser pago.

“Não vamos aceitar esse valor que querem nos indenizar. Em contato com antigos vizinhos, soubemos que a quantia paga só deu para eles conseguirem casa nos bairros São Bento e Conjunto Cidadão. Seria um recomeço difícil. Famílias que deixaram o bairro dizem que onde estão o índice de violência é maior que aqui. Para eles está sendo uma adaptação muito difícil”, relatou.

Município indenizou 284 e 40 recebem aluguel solidário

A Prefeitura de Boa Vista informou que indenizou 284 famílias e 40 foram beneficiadas com o aluguel social. Outras 16 estão negociando com a prefeitura. O valor mensal do aluguel depende do número de membros da família, variando de R$ 600 a R$ 1.200.

Os que faltam são aqueles que esperam por decisão judicial (13 ações distribuídas). As ações foram propostas por impossibilidade de acordo ou porque o dono do imóvel teria falecido sem realizar o inventário.

O valor da indenização é determinado pelo tamanho de cada imóvel (R$ 841,12 por metro quadrado de acordo com a Lei 1.777/2017).