Cotidiano

Número de inadimplentes cai, mas país ainda está em crise

Para economista, queda na inadimplência significa que consumidores estão gastando menos e, consequentemente, não estão com o nome sujo

Quem nunca acabou gastando mais do que deveria e contraiu uma dívida? O problema é até comum, mas o pior acontece quando essa dívida se torna uma bola de neve por conta de juros e multas pelo atraso no pagamento, o que resulta no pesadelo de muita gente: o nome sujo.

De acordo com dados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), os números demonstram uma diminuição no número de consultas, registros e cancelamentos de inadimplentes em Roraima desde 2015 até junho deste ano. 

Em 2015 foram 35.403 consultas para saber se o nome estava na lista de inadimplentes. Em 2016, foram 31.819, e no ano seguinte, 23.109 consultas. Já em 2018, até junho, foram registradas somente 9.135.

Conforme o economista Fábio Martinez, essas consultas geralmente ocorrem no momento da venda, quando o empresário entra em contato com o SCPC para saber se o cliente está negativado. “O que tá mostrando é que vem caindo o número de pesquisa, consequentemente, deve vir caindo o número de vendas. Está tendo uma retração nas vendas e isso é algo que precisamos ficar alertas”, afirmou.

Já sobre os números de registros recebidos, ou seja, as pessoas que foram incluídas como inadimplentes, os dados demonstram que, em 2015, 10.994 pessoas foram registradas com o nome sujo. Nos anos seguintes, houve uma redução. Em 2016 o número caiu para 6.726; já em 2017, foram 5.158 novos inadimplentes e em 2018 somente 1.884.

O economista esclareceu que em 2015 o número foi alarmante por conta do ápice da crise econômica que atingiu o país, o que gerou uma onda de desemprego e pegou muitas pessoas de surpresa. “Muita gente estava despreparada para a crise. Então muitos tiveram o impacto inicial, não esperavam. Agora as coisas começaram a se organizar, não que a geração de emprego tenha aumentado tanto assim, deu uma melhorada. Mas que as pessoas retraíram o consumo, ou seja, deixaram de consumir e, dessa forma, elas deixam de estar com o nome sujo”, apontou.

Fábio acredita que, por conta da diminuição no número de pesquisas, isso esteja gerando impacto direto em relação a pessoas com o nome sujo, pois quanto menos gasto, menos pessoas vão gerar dívidas. Isso pode ser analisado pela perspectiva de que, com menos pessoas cadastradas no sistema, menos cancelamentos são feitos no SCPC.

Em relação aos cancelamentos de registros, em 2015 foram 19.377. Em 2016, caiu para 14.935. Posteriormente, em 2017, teve um total de 10.244 e neste ano, até junho, 5.065 cancelamentos.

Para o economista, esses dados são positivos economicamente, pois os especialistas entendem que as pessoas estão organizando melhor as finanças para saírem da inadimplência e controlando mais os gastos. Mas essa retração está caminhando em passos lentos e pode demorar mais alguns anos para realmente ter redução significativa. “Vamos ter um número de inadimplentes menor do que teve no ano passado. Eu acredito que teve uma queda aí no mínimo de uns 20%, que é mais ou menos a média que vem caindo desde 2015. Estamos saindo da pior parte da crise, a gente ainda não saiu, está indo a passos devagar. Em 2017 foi um ano bom, mas 2018 ainda estamos engatinhando. A perspectiva é de melhoras, provavelmente 2019 ou 2020 a gente já esteja livre”, completou Fábio.

Economista dá orientações sobre como limpar o nome

Mesmo com a diminuição do número de inadimplentes em Roraima de acordo com o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), é importante ter em mente que o perigo de entrar na lista é grande se não houver controle dos gastos financeiros. 

Segundo o economista Fábio Martinez, são três principais motivos que levam as pessoas a ficarem endividadas: desemprego, descontrole financeiro e emprestar o nome ou cartão de créditos para terceiros. 

“O desemprego fez com que as pessoas perdessem o controle das suas finanças, consequentemente, ficassem com o nome sujo. O segundo é o descontrole financeiro, a gente sabe que a gente não tem uma cultura de educação financeira no Brasil, as pessoas não aprendem isso na escola e acabam aprendendo isso na vida. O terceiro motivo é emprestar o seu nome ou cartão de crédito para as pessoas. Às vezes tem um conhecido que precisa comprar numa loja e acaba emprestando, aí a pessoa não paga então você que fica com o nome sujo”, explicou.

Mas, para o especialista, tudo tem uma solução ou alguns mecanismos que podem ajudar a diminuir as problemáticas. Para quem perdeu o emprego, a orientação é encontrar outra fonte de renda, como o empreendedorismo. Já para o descontrole financeiro, a dica é anotar todos os gatos e perceber onde estão indo os gastos, caso seja supérfluo, pode ser cortado. É necessário ter em mente que não pode gastar mais do que recebe. Por fim, não emprestar o cartão de crédito para outras pessoas.

Fábio ressalta que é importante ter em mente qual o tipo de dívida que a pessoa tem no momento e como ela pode ser sanada, ou seja, observar a taxa de juros e multa para que não acabe se tornando uma dívida cada vez maior. Nessas situações, o economista deu a dica de tentar fazer negociação com a empresa, que muitas vezes pode reduzir o valor dos juros e assim ficar mais acessível o pagamento.

“Dependendo da taxa de juros, é melhor tentar pegar um empréstimo. Às vezes tentar trocar uma dívida cara por uma barata. Por exemplo, está devendo o cartão de crédito, então tem a taxa de juros de 10%, uma das mais altas, pode pensar em pegar um crédito pessoal que às vezes consegue taxas de 5 a 6% para pagar essa dívida. A pessoa continua endividada, mas a pessoa tá trocando uma cara por uma barata”, afirmou.

O cartão de crédito é um dos principais vilões para o endividamento, nessa situação, a melhor orientação do economista é pagar todo o extrato de uma só vez para não acumular juros. E, claro, não ter um limite no cartão acima do seu salário, dessa forma evita surpresas no momento que receber a fatura. (A.P.L)