Cotidiano

Número de leitos nos municípios fronteiriços caiu em 5 anos

Dos sete municípios que fazem fronteira com a Venezuela ou Guiana, somente Caroebe registrou um número positivo

Conforme dados divulgados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), de 2011 a 2016 os municípios de Roraima que fazem fronteira com a Venezuela, a Norte do Estado, e Guiana, a Leste, registraram uma queda em relação ao número de leitos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados foram divulgados na terça-feira passada, 21, durante o 1º Fórum de Médicos de Fronteiras, realizado em Brasília, Distrito Federal.

Dos sete municípios fronteiriços, somente Caroebe, a Sudeste, registrou percentual positivo, passando de 10 para 16, correspondendo a 60%. Normandia, a Leste, manteve o mesmo número de leitos durante os cinco anos. Amajari, a Norte, e Uiramutã, a Nordeste do Estado, não possuem nenhum leito desde 2011.

Nos municípios de Alto Alegre, Bonfim e Pacaraima foram registrados percentuais negativos. Em Alto Alegre, a Centro-Oeste de Roraima, os dados apontaram queda de 41%, passando de 37 a 22 leitos. Bonfim, a Leste, teve a segunda maior queda, caindo de 18 para oito leitos disponíveis, equivalente a 56%. Ao Norte de Roraima, Pacaraima registrou a maior queda, de 31 para 12 leitos, relativo a 61%.

Segundo o 1º vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima (CRM-RR) e conselheiro federal do Estado, Alexandre Marques, a realidade não é exclusiva no Estado. O subfinanciamento da saúde faz com que as prefeituras, que já possuem um baixo recurso, não consigam implementar mais leitos hospitalares pelo SUS, além da equipe médica e dos medicamentos. Em Roraima, apenas Bonfim e Pacaraima possuem hospitais para atender emergências.

“Aqui é uma realidade, você tem algumas estruturas, como a unidade mista de Bonfim e Pacaraima, mas que não atendem à demanda dos municípios por não possuírem infraestrutura, equipamento e insumos para dar um tratamento de qualidade aos pacientes. Então o SUS não consegue bancar o aparato porque não há um financiamento próprio e nem o município, por não ter capacidade financeira”, relatou.

O vice-presidente do CRM também ressaltou a atual situação de saúde do Estado no que diz respeito à Venezuela. Tendo em vista a grave crise política e econômica, os cidadãos têm vindo buscar apoio em território brasileiro para resolver questões de saúde, o que acaba sobrecarregando a rede, o que é mais um problema relacionado à assistência médica nos municípios fronteiriços.

Segundo Marques, a implantação do SUS Fronteira, vertente do SUS, repassaria um recurso para ajudar os municípios que têm essa característica peculiar de ter fronteira com outros países. “Teríamos um aporte maior de recursos para prefeituras e consequentemente isso ajudaria na ampliação de recursos de leitos. É uma questão municipal, mas principalmente estadual, porque o Governo tem dificuldade em repassar os recursos. É preciso dar condições e atrativos para que o profissional possa se estabelecer nessas regiões de fronteiras, é fundamental o incentivo”, frisou.

DADOS NACIONAIS – Conforme pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), um quarto dos 122 municípios brasileiros que fazem fronteira com outros países não possui nenhum leito de internação disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Nessas cidades que perfazem 15,7 mil quilômetros de fronteiras também é baixa a oferta de estabelecimentos e de profissionais de saúde na rede pública e alta a incidência de doenças já erradicadas em muitos locais do Brasil.

Onze estados fazem fronteira com outros países: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Dos 122 municípios fronteiriços, 48 não possuem nenhum hospital geral, equivalente a 40%. (A.G.M)

Governo do Estado anuncia que oferta de leitos será ampliada após compra de colchões

Sobre o déficit de leitos nas unidades de saúde do interior, a Secretaria Estadual de Saúde informou que realizará a compra de colchões para a ampliação de leitos de internação. A medida permitirá a substituição dos itens sem condições de uso, além da utilização de camas hospitalares que até então estavam sem colchões, gerando mais leitos disponíveis.

Já foram disponibilizados 53 colchões para os municípios de Pacaraima, Mucajaí, Bonfim, Normandia, São João da Baliza e Rorainópolis. Os colchões de leito hospitalar estão sendo entregues por remessas pela empresa vendedora da licitação e, a partir da próxima semana, os demais municípios serão atendidos conforme um levantamento prévio feito pela Sesau junto às unidades. Foram investidos R$ 242 mil na aquisição, com recursos do Governo do Estado e Ministério da Saúde.

À medida que estas unidades recebem os colchões, elas informam à Sesau a quantidade de novos leitos disponibilizados para atualização dos dados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Além disso, o órgão pretende reformar as unidades de saúde de todo o Interior, o que possibilitará uma nova ampliação no número de leitos.

Por meio de nota, a Sesau informou que “o déficit divulgado pelo Conselho Federal de Medicina está relacionado à falta de investimentos durante vários anos. Para se ter uma ideia, algumas unidades não recebiam colchões novos há mais de 10 anos. Diante deste quadro, a Sesau tem investido para ampliar a oferta de leitos em todo o Estado, o que deve ocorrer de maneira expressiva nos próximos meses com a inauguração do Hospital das Clínicas e, posteriormente, da ampliação do Hospital Geral de Roraima (HGR), beneficiando a população de todo o Estado, países e estados vizinhos que utilizam o sistema de saúde local”. (A.G.M)