Cotidiano

PF abre inquérito para investigar morte de 6 garimpeiros na Terra Yanomami

Polícia Federal diz que não dá mais detalhes sobre o inquérito para não atrapalhar as investigações que estão em curso

A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar as mortes de seis garimpeiros, ocorridas no mês passado, na região de Homoxi, na Terra Indígena Yanomami, no Município de Alto Alegre, a uma hora e meia de voo da Capital, na região Centro-Oeste de Roraima.

Em nota, a PF não deu detalhes de como fará a investigação, mas afirmou que serão adotadas todas as medidas cabíveis. Destacou que outras informações sobre o caso não poderiam ser divulgadas porque as investigações já estão em curso e é necessária a preservação do sigilo. Não foi informado prazo para a conclusão do inquérito.

Ilegalmente na terra indígena, os garimpeiros foram mortos a flechadas, segundo representantes indígenas, pelos Yanomami da comunidade Xereu II. Os garimpeiros mortos, segundo familiares, são: Raimundo Oliveira dos Santos, Hudson Fábio Monteiro, Leandro Rodrigues de Oliveira, Rarisson da Silva Pereira, Raimundo da Silva e Arthur Machado Cardoso.

No domingo passado, dia 20, quase um mês depois das mortes, o Governo do Estado criou uma força-tarefa com outros órgãos públicos para fazer o resgate dos corpos, que foram encontrados carbonizados em um acampamento numa área de mata fechada. Os restos mortais estão no Instituto Médico Legal (IML), em Boa Vista, para análise pericial. (AJ)

Liderança Yanomami não descarta possibilidade de outros confrontos

O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, não descarta a possibilidade de outros confrontos na terra indígena porque, segundo eles, os garimpeiros continuam invadindo e garimpando em terras Yanomami. Ele criticou a omissão do poder público em não combater a garimpagem, uma prática criminosa, conforme ele, tanto com os índios quanto com o meio ambiente.

“Invadem nossa casa e destroem tudo. Poluem rios e matam florestas. Todos nós somos ameaçados com isso, com essa degradação da natureza. E o culpado é o índio?”, questionou o representante Yanomami. Dário denuncia que mais de 3.500 garimpeiros já estejam na Terra Yanomami, principalmente na região do Homoxi e nos rios Mucajaí, Apiaú e Uraricoera. Neste último estima-se mais de 40 balsas dragando ouro.

A Polícia Federal acredita que mais de 160 quilos de ouro são retirados de forma criminosa das terras Yanomami. O ouro, segundo investigações da PF, é negociado no mercado negro em São Paulo e depois é revendido para a Europa.

Sobre as mortes dos garimpeiros, Dário isentou por completo os parentes e disse que os culpados são aqueles que mandam os garimpeiros para a terra indígena, sabendo que estão cometendo crime. “Entram na nossa casa sem pedir licença e destroem tudo. Como já disse, matam animais, poluem rios e acabam com florestas. Também levam doenças para o nosso povo, levam droga e prostituição”, frisou a liderança Yanomami.

Dário disse que não sabe o motivo das mortes dos garimpeiros. Deixou bem claro que este trabalho de investigação compete à Polícia Federal. Mas lembrou do massacre que ocorreu em 1993, naquela mesma região, onde 16 Yanomami foram mortos a tiros por garimpeiros. O vice-presidente lamenta que até hoje nenhum garimpeiro tenha sido preso.

“Não estou dizendo que foi vingança, mas nossos ancestrais têm espírito. Mataram, massacraram os pais e avós desses que agora brigaram. Mas é a Polícia Federal que vai investigar as causas do conflito”, frisou.

Dário admitiu que alguns índios são aliciados pelos garimpeiros e recebem alguma coisa para permitir a extração do ouro. Mas a maioria, segundo ele, não aceita e é contra a permanência dos não índios em terra indígena. “Os que aceitam ganham espingardas ou alimentação, mas não recebem ouro”, observou.

No caso do Homoxi, aquele povo não aceitava propina, segundo Dário, e já havia até denúncia formalizada no MPF e na PF sobre a ação criminosa dos garimpeiros. “Antes das mortes já havíamos denunciado, mas nada fizeram e aconteceu o que aconteceu”, lamentou. (AJ)