Polícia

PF investiga origem da cocaína apreendida em avião que caiu

Dono de empresa paraense diz que vendeu avião para uma pessoa física, mas não revelou o nome alegando que não se lembrava

Desde que foi notificada sobre a queda da aeronave prefixo PT-JPW e morte do piloto José Donizete do Amaral, de 49 anos, no Baixo Rio Branco, na Terra Indígena Yanomami, no Sul do Estado, a Polícia Federal (PF) deu início, na manhã de ontem, 19, às investigações a respeito do caso. A finalidade será saber a origem da droga e para onde seria levada.

Informações extraoficiais dão conta de o carregamento ter sido embarcado na aeronave na Venezuela ou na Colômbia. O avião tinha autonomia de voo de mais de mil quilômetros, no entanto, somente após a apuração do caso, a PF terá uma resposta concreta. As informações de que havia uma segunda pessoa no avião que teria fugido numa canoa, com cerca de 350 Kg de droga, também integrarão as investigações.

A Folha solicitou entrevista com o delegado Alan Robson Ramos, mas ele afirmou que não poderia atender a imprensa, uma vez que o trabalho inicial foi da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, confirmando apenas que recebeu a ocorrência na madrugada de ontem, quando assumiu as investigações.

VALOR – Conforme a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil, a droga apreendida pela Força Tática da PM, em parceria com o Corpo de Bombeiros de Roraima, aproximadamente 100 Kg, equivale, no comércio ilegal, entre R$ 800 mil e R$ 1,1 milhão, caso fosse vendida pelo atual valor do quilo da droga no mundo do tráfico, que custa de R$ 8 mil a R$11 mil.

EMPRESA – A aeronave PT- JPW Cessna Aircraft, fabricada em 1974, é um monomotor que está no nome da empresa Brabo Táxi Aéreo Ltda, que presta serviço de táxi aéreo, com sede em Sacramenta, Belém (PA). A Folha conseguiu contato com o empresário responsável pela empresa. Ele confirmou que o avião já pertenceu à sua empresa, mas que há alguns meses foi vendido e que a transferência de proprietário ainda não foi feita pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

“Tenho conhecimento da queda da aeronave. Eu vendi faz 60 ou 90 dias. Tenho a documentação que comprova que foi dada entrada na Anac para transferência. Se eles não transferiram, o problema é deles. Eu tenho o protocolo, toda a documentação”, explicou o empresário, que não quis se identificar.

Quando questionado sobre a identidade do comprador da aeronave, o empresário afirmou que não sabe o nome e que não recordava no momento. A Folha insistiu e perguntou se ele lembrava pelo menos do primeiro nome ou somente o sobrenome, mas ele disse que não recordava de forma alguma. “De cabeça, eu não sei o nome da pessoa”, alegou. Questionado se a compra foi realizada por pessoa física ou por pessoa jurídica, ele disse que o avião foi vendido para pessoa física e que a transação custou R$ 220 mil.

PILOTO – O piloto José Donizete do Amaral já havia sido preso, em 2012, durante uma operação da PF no combate à garimpagem ilegal na Terra Yanomami. Seu nome integra uma lista de 25 pessoas que foram presas em julho daquele ano, após a deflagração da Operação Xawara, onde a PF e o Ministério Público Federal identificaram cinco grupos específicos, com 11 aviões, como principais responsáveis pela garimpagem ilegal na terra indígena.

Fontes ouvidas pela Folha dão conta de que o piloto chefiava um desses grupos. Dentre os investigados estão pessoas condenadas e investigadas pela prática dos crimes de tráfico de drogas, genocídio, homicídio, contrabando, garimpo ilegal, formação de quadrilha e corrupção passiva e ativa.

A Folha não conseguiu apurar junto à Polícia Federal o motivo pelo qual José Donizete tinha sido posto em liberdade e continuava realizando voos em Roraima.

CORPO – A equipe policial e dos bombeiros chegou à sede do Município de Caracaraí, a Centro-Sul do Estado, com a cocaína apreendida e o corpo somente no fim da noite da segunda-feira, 18. No entanto, o Instituto de Medicina Legal (IML) só foi acionado para fazer a remoção do corpo do necrotério do Hospital de Caracaraí no começo da tarde de ontem, quando funcionários passaram a reclamar do mau cheiro.

“O corpo chegou e ninguém disse nada. Só trouxeram para o hospital. Pela manhã estava fedendo muito porque o avião caiu no fim de semana, então já tem mais de 48 horas. A gente não suportava mais, por isso ligamos para o IML que não tinha sido acionado por ninguém”, disse um funcionário.

O corpo de José Donizete chegou a Boa Vista por volta das 16h desta terça-feira e, após o exame cadavérico e emissão da documentação necessária, será liberado à família.

AERONÁUTICA – A Assessoria de Comunicação da Aeronáutica, informou à Folha, por meio de nota, que os investigadores do 7º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII) estão realizando a coleta dos dados relativos ao acidente com a aeronave, mas que ainda não tem informações para serem divulgadas à imprensa.

A nota diz que o objetivo da investigação realizada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) é prevenir que novos acidentes com características semelhantes ocorram. Não foi informado sobre o plano de voo da aeronave, para saber qual foi a origem e qual seria o destino, apesar de ser questionado pela Folha. (J.B)