Cotidiano

Parto sem assistência médica é perigoso para mãe e bebê

Um recém-nascido morreu na quarta-feira passada após um parto domiciliar; A Polícia Civil investiga a morte

Quando uma mulher descobre que está grávida tem início uma série de mudanças na vida dela. Hábitos alimentares precisam ser adequados, o consumo de álcool e tabaco precisa ser interrompido. Algumas têm os três primeiros meses marcados por enjoos, outras enjoam nos últimos meses. Enfim, cada gravidez tem sua particularidade, mas em comum, está a ansiedade para a hora do parto.

São cerca de nove meses de planejamento para esperar aquela criança chegar ao mundo. Mas e quando o planejado não sai conforme o esperado? Se o bebê resolve nascer num momento em que não há como ir a um hospital?

O parto domiciliar, aquele que ocorre em casa, sem nenhum tipo de assistência médica, pode trazer sérias consequências para a mãe e para o bebê, caso não sejam tomados alguns cuidados básicos. O primeiro passo e essencial é acionar o Resgate. “Seja o Samu, Bombeiros ou a própria Polícia Militar. De alguma forma é preciso fazer um pedido de socorro”, explicou Márcia Monteiro, que é ginecologista e obstetra, e atualmente responde pela Diretoria Técnica do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth.

Mas em alguns casos o bebê vem ao mundo mais rápido que o resgate. Na última quarta-feira, 27, um caso de parto domiciliar terminou com a morte de um recém-nascido. A equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada por uma mulher que teria dado à luz em casa, sozinha. O resgate foi realizado prontamente, porém ao chegar à maternidade, o bebê já estava sem vida.

A Polícia Civil foi acionada e o Instituto de Medicina Legal (IML) fez a remoção do corpo. A mãe permaneceu internada, passou por avaliação e já recebeu alta médica. “Num caso assim, não podemos nem mesmo emitir a Declaração de Nascido Vivo (DNV), pois além do parto não ter sido realizado no HMI, a criança já chegou morta à unidade. Por isso o acionamento do IML”, acrescentou a diretora.

Se a criança nascer antes da chegada do resgate, ou no caminho para o Hospital, “o cordão umbilical deverá ser amarrado bem apertado com uma linha grossa ou com um barbante uns 10 a 20 cm do umbigo, um minuto depois do nascimento”, explicou Márcia. A criança deve ser mantida bem aquecida, de preferência em contato pele a pele com a mãe. Essas medidas podem evitar a morte da criança por sangramento e hipotermia.

Grávidas não fazem o pré-natal completo

Conforme as orientações do Ministério da Saúde, a partir do momento em que a gravidez é confirmada, se iniciam os cuidados para evitar problemas para a mãe e a criança até o momento do parto. No entanto, em Roraima ainda existem muitas mulheres que não conseguem completar as seis consultas necessárias durante o período gestacional.

De acordo com a diretora clínica do Hospital Materno Infantil Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, obstetra Eugênia Glaucy, a mulher precisa realizar no mínimo seis consultas principais durante o pré-natal. Porém, quando as mães são recebidas na unidade estadual, no cartão médico consta parte das consultas necessárias.

Segundo Eugênia, o Estado não consegue quantificar o índice de mulheres que chegam à unidade de saúde sem o exame, “mas o número é enorme”. “O que a gente tem observado é que a mulher está com dificuldades em acessar os exames pré-natais. A bateria de exames e a orientação dessa gestante estão reduzidas”, explicou.

A obstetra reforçou, no entanto, que isso não quer dizer que o sistema de saúde básico do Estado e dos municípios está falido. “Não é isso. O que nós sentimos é que há uma dificuldade de acesso e não é na maioria das gestantes”, completou.

Para a diretora, uma forma de tentar reverter o problema é reforçar a importância da promoção destes exames, entre eles, o de tipagem sanguínea, fator RH, toxoplasmose, hemograma, pesquisa de rubéola e citomegalovírus, que pertence à mesma família do vírus da catapora e as vacinas.

“É preciso informar se a paciente está com vacina da hepatite atualizada, se tomou outras vezes, se tem diabetes durante a gravidez, exame para anemia, a ultrassonografia no primeiro trimestre. Toda essa bateria de exames é de extrema importância para o pré-natal e é de uma necessidade absoluta. Isso impede potenciais problemas no momento do parto”, orientou.

PRÉ-NATAL – Conforme o Ministério da Saúde, é durante as consultas de pré-natal que a mulher recebe as orientações necessárias para o acompanhamento da gestação. Neste momento, a gestante é examinada e encaminhada para realização de exames, vacinas e ecografias. “São recomendadas no mínimo seis consultas de pré-natal durante toda a gravidez. O ideal é que iniciem nos primeiros três meses de gestação. Ainda durante o pré-natal, a mulher deve ser vinculada à maternidade em que dará à luz”, sugere o Ministério da Saúde.

O órgão de saúde federal ressalta ainda a importância do envolvimento da família na chegada do bebê e que o companheiro esteja presente em todas as consultas de pré-natal. Na impossibilidade do pai da criança participar neste momento, o recomendado é que a mãe leve alguém da família ou outra pessoa de confiança.

“O envolvimento consciente dos homens, independentemente de ser pai biológico ou não, em todas as etapas do planejamento reprodutivo e da gestação, pode ser determinante para a criação e fortalecimento de vínculos afetivos saudáveis entre eles e suas parceiras e filhos e filhas”, explica o Ministério da Saúde. (P.C.)