Cotidiano

Polícia Civil deflagra operação para localizar sete detentos da PAMC

Em abril, detentos foram dados como foragidos; depois familiares denunciaram o desaparecimento dos presos

Uma operação da Polícia Civil, em conjunto com a Polícia Militar e o Exército Brasileiro, foi iniciada na manhã de ontem, 29, com o objetivo de localizar sete detentos da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), na zona rural, que desapareceram da unidade em abril deste ano.

Para que a ação fosse realizada, o Exército cedeu alojamento a policiais militares que ficaram instalados no 32º Pelotão de Polícia do Exército, no bairro Treze de Setembro, assim como os cães farejadores que vieram de Manaus (AM), especializados na procura de corpos.

Os sete presos da Penitenciária Agrícola foram dados como foragidos no dia 24 de abril. A suspeita, no primeiro momento, era de que eles teriam fugido por um buraco em uma das celas próximo à carceragem da unidade prisional. Foi detectada a falta de Renato Luan Fernandes Novaes Lima; Fernando Ribeiro de Oliveira; Cleuto Braga de Oliveira; Moisés Batista de Abreu; Lindomar Santos da Silva, além de Handerson da Silva Gomes e Alan Batista Barbosa Rodrigues, que são suspeitos de matar o agente penitenciário Alvino Mesquita.

Em maio, a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) e a Polícia Civil anunciaram a criação de uma força-tarefa para investigar o suposto desaparecimento dos sete detentos da Pamc, mas até o presente momento, nenhum resultado foi divulgado à imprensa.

Em nota, a Polícia Civil de Roraima informou que a operação corre em segredo de justiça e, que por este motivo, não pode repassar informações sobre o caso investigado, para não prejudicar as diligências.

Na tarde de ontem, viaturas da tropa de Choque e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) entraram na Pamc para conter os ânimos dos presos que iniciaram uma tentativa de rebelião. Estouros aparentando serem tiros foram ouvidos na parte interna do presídio e em pouco tempo a situação foi controlada.

Uma fonte da Folha revelou que os corpos dos presos estão enterrados na região de Monte Cristo, especificamente nas proximidades do prédio onde funcionava a Cadeia Feminina, entretanto, nem a Polícia ou qualquer outro órgão de segurança confirmou a procedência da denúncia.

Familiares de presos desaparecidos acusam policiais de tortura e execução

Sem saber o paradeiro dos sete presos da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo desde o final de abril deste ano, familiares acompanharam na manhã de ontem, 29, as buscas feitas pelos policiais nos arredores da unidade prisional. Os familiares, principalmente mulheres, responsabilizam agentes penitenciários pelo desaparecimento dos detentos e não acreditam em fugas.

Segundo a cunhada de um dos desaparecidos, os detentos foram torturados e executados por agentes penitenciários, que forjaram a fuga dos presos para justificar o desaparecimento. “As informações que tivemos vindas de outros presos é que eles foram algemados, torturados e executados por trás da igreja e que os próprios agentes abriram um buraco na parede com uma enxada e os corpos foram colocados em carros. A partir daí não se teve mais notícias”, afirmou.

A mãe de um dos presos desaparecido, que também não quis ser identificada, afirmou que os presos que testemunharam todo acontecimento foram ameaçados de que sofreriam as mesmas consequências caso abrissem a boca. “Por isso ficamos com medo, mesmo precisando de testemunhas não podemos colocar em risco a vida dos outros presos”, afirmou.

Conforme a esposa de um detento também desaparecido, ela foi intimidada por policiais e viu veículos descaracterizados em frente a sua residência. “Foram meses com medo de sair de casa, porque eu não sabia quem estava ali parado todos os dias por horas. Quando estávamos na manifestação em frente à Assembleia Legislativa, policiais passavam rindo, tirando fotos e levantando as camisas para mostrar as armas”, informou amedrontada.

Os familiares não acreditam na possibilidade de seus parentes estarem vivos, mas clamam por justiça e afirmaram que vão continuar a luta. “Temos certeza que eles já não estão mais entre nós. Só queremos ter o direito de enterrá-los”, disse uma familiar.

OAB – O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima (OAB), Hélio Abozaglo, informou que está acompanhando o caso de perto e tem cobrado das autoridades uma resposta para as famílias, que cartas com pedido de providências foram encaminhadas a órgãos para solução do desaparecimento dos presos.

MPRR – Em maio, deste ano o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) requisitou à Polícia Civil providências urgentes. Após requisição do MPRR, o Núcleo de Investigação de Pessoa Desaparecida da Polícia Civil instaurou Inquérito Policial nº 01/17, bem como estabeleceu uma força-tarefa para elucidar o caso. As investigações estão em andamento. O caso vem sendo acompanhado pela Promotoria de Justiça com atuação junto à Vara de Execução Penal e Controle Externo da Atividade Policial.

GOVERNO – A Polícia Civil de Roraima informou que as oitivas em relação ao desaparecimento de sete detentos da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo estão ocorrendo e as investigações correm em segredo de justiça. Todos os familiares que desejam informar fatos novos à Polícia ou obter atualizações sobre o caso podem procurar o Núcleo de Pessoas Desaparecidas.