Cotidiano

População não pensa nas consequências da imprudência, afirma vítima de acidente

O músico João de Souza teve a vida modificada completamente após ser atingido por uma caminhonete na BR-174 e ficar paraplégico

Casados e com dois filhos, o músico João de Souza e a jornalista Layse Menezes, tiveram as vidas completamente mudadas por conta de um acidente de trânsito ocorrido em 2013, na BR-174. Ele estava voltando de viagem na companhia de dois amigos, cada um dirigia uma moto, quando foi atingido por uma caminhonete Amarok.

“Não me lembro de nada do acidente em si, só lembro que eu acordei no hospital e já estava paraplégico. Pelo que me contaram, o motorista vinha correndo muito, em torno de 180km/h”, relatou o músico.
Segundo a esposa, no depoimento do motorista da caminhonete, consta que ele foi tentar fazer uma ultrapassagem e acertou João com a lateral do veículo, arrastando-o até um barranco. Na época, a situação ficou ainda mais complicada em razão de Layse estar grávida de três meses do segundo filho do casal, Aquiles e a primeira filha, Bélit, ter apenas três anos.

“Foram dias muito cruéis. Não foi só o acidente, mas toda a consequência disso. Foram 58 dias internados, com várias infecções hospitalares. Ia todos os dias para o hospital, administrando a Bélit e os meus dois empregos. Foi uma loucura. Eu sei que eu tive uma força sabe Deus de onde para conseguir enfrentar aquilo tudo”, lembrou Layse.

A jornalista ainda recordou um dos momentos mais difíceis que passou ao lado do marido, enquanto ele esteve internado no HGR (Hospital Geral de Roraima). “Nunca fiquei triste, nunca. Só o fato do João estar aqui, é maravilhoso. O que eu sinto é uma revolta porque por pouco ele não morreu. O jeito que eu vi o João naquele Trauma do hospital, eu nunca vou esquecer. O que eu vi ali depois, naquele ambiente. No mesmo dia que ele entrou, morreram três por conta de acidente. O que me separava das outras pessoas era um pedaço de tecido”, relembrou Layse.

INCONSEQUÊNCIA – Para o casal, o principal problema no trânsito em Roraima e no resto do país é a questão da imprudência. “A população de Roraima e do Brasil não sabe as consequências de um acidente de trânsito. Quando não aleija, mata mesmo. Isso traz perdas irreparáveis para muitas famílias”, observou João.

“Se você quer chegar cedo num canto, sai cedo. Pra quê correr em cima da hora? Está atrasado porque quer. Às vezes tem alguns contratempos, mas nem isso justifica ficar correndo feito um louco”, comentou.

“O motorista é muito inconsequente, acha que não vai acontecer com ele. Aqui as pessoas ainda têm aquela visão que as ruas são largas, mas o número de veículos aumentou muito. Outra coisa é que já vi várias vezes carros de ambulância, policial, que ligam a sirene só pra passar na frente. É preciso que o poder público cumpra o papel dele também”, criticou a jornalista.

Sonho de músico é conseguir carro adaptado para levar os filhos para passear

Com o apoio dos amigos e tempo de fisioterapia, João de Souza conseguiu alcançar aos poucos, uma evolução na cadeira de rodas e já cuida dos filhos sozinho. Layse iniciou um blog como uma forma de terapia contando a história do casal e também para chamar atenção do poder público. O site Levanta Jones (www.levantajones.com) fala sobre os direitos dos portadores de necessidades especiais e as barreiras que são enfrentadas diariamente pela família.

Agora, o sonho da família é adquirir um carro adaptado para levar os filhos para passear. “Mesmo depois de tudo isso, ele poderia ter desistido de voltar a dirigir, mas ele nunca desistiu, tanto é que agora ele está habilitado”, comentou Layse, que está pesquisando a adaptação ou comprar um veículo que já venha de fábrica adaptado, buscando o que for mais viável.

“Eu tenho muita vontade de dirigir moto de novo, de dirigir carro, eu quero me locomover de alguma forma. Mas o que eu sinto muita vontade é, de eu mesmo, levar a gurizada para ficar na praça. Eu acho que eles ficam muito tempo em casa por causa de mim e porque a Layse não tem tempo. Os filhos têm que sair para dar uma conhecida no mundo e com a habilitação e, se Deus quiser, com uma adaptação pro carro, é o que eu gostaria de fazer”, revelou o músico. (P.C.)