Cotidiano

Populares fazem novo protesto na Praça do Centro Cívico

O preço dos combustíveis voltou à pauta dos manifestantes, compostos por caminhoneiros, taxistas e estudantes

Uma marcha unindo as classes de trabalhadores na área do transporte, constituída por taxistas, caminhoneiros e motoristas de aplicativos, foi realizada na manhã de ontem, 31, feriado de Corpus Christi, na Praça do Centro Cívico. O protesto contou com a participação de mais de 300 pessoas.

Promovida pelo Sindicato dos Taxistas e Condutores Autônomos de Boa Vista (Sintacaver-RR), a ação contou com a presença dos caminhoneiros que estavam paralisados na BR-174 até a tarde de quarta-feira, 30, e entidades estudantis. O circuito da mobilização, que começou por volta das 10 horas, consistiu em dar uma volta pelo Centro Cívico, um momento no qual todos cantaram o hino nacional, seguido por outro percurso pelas principais avenidas da cidade.

De acordo com um dos líderes dos caminhoneiros, Áquila Costa, os brasileiros estão cada vez com menos condições de trabalhar, reforçando a necessidade da greve para que o brasileiro não deixe de ter condições de bancar seu transporte.

“Faz um cálculo de quanto tu gastava de gasolina há três meses e compara com o quanto é gasto hoje. Agora imagina o quanto tu vai gastar no final do ano, do jeito que tá subindo o preço? Daqui a pouco não teremos condições de trabalhar. Será impossível. E é por isso que não podemos parar de lutar. (…) A paralisação acabou, mas a mobilização continua e agora é popular”, dissertou.

Segundo o dono de cooperativa de táxi, Márcio Gomes, 50% dos ganhos que cada veículo faz estão sendo destinados apenas para o combustível. “O ganho das cooperativas está despencando. Isso tá afetando todo mundo. Os taxistas estão aqui porque acreditam que isso não precisa ser assim”, afirmou.

Entre os caminhoneiros que estiveram presentes, foi ressaltada a necessidade de que a população tenha maior participação em atos como esse. Para eles, a paralisação teria dado maiores resultados se a população roraimense tivesse mais simpatia pela classe. “Nós mostramos que sabemos parar o Brasil, mas ainda sofremos preconceito por parte da população. Ainda somos chamados de drogados. Nós estamos aqui porque a esperança é a última que morre. Somos brasileiros, né? O povo que nunca deixa de acreditar”, explicou o caminhoneiro Ermenson Maia.

Segundo o caminhoneiro de 49 anos, com 30 anos de profissão, Francisco Rodrigues, se os motoristas não tivessem corrido atrás de combustível para estocar, o resultado poderia ter um maior alcance. Ele também expressou o desejo da classe caminhoneira de paralisar novamente um dia.

“A paralisação não deu o resultado que esperávamos. A população correu para os postos. Se todo mundo tivesse deixado a gasolina acabar, sem comprar esse combustível caro, o resultado seria diferente. Mas estamos aí, lutando pela população brasileira e roraimense. Estamos só tomando um fôlego, mas queremos paralisar de novo”, afirmou.

A psicóloga Elen Souza, que é casada com um caminhoneiro, relatou que mesmo com o seu marido estando em Cuiabá, ela se sente no dever de participar da mobilização como cidadã. “A causa não é só de motoristas. É nossa. Isso aqui é um marco em prol do cidadão. Não somos contra impostos, mas queremos que eles sejam cobrados de forma justa, proporcional aos nossos salários, que permanecem estagnados”, explicou.

Participação dos jovens marca a mobilização

Na mobilização, a juventude também teve participação ativa importante, com mais de 80 estudantes de escolas da rede pública de ensino. Muitos deles com as camisas de seus colégios ou levantando a bandeira de entidades estudantis. “Nós viemos para a manifestação porque somos parte afetada. Os impostos também afetam a juventude. Nossos pais estão pagando e sofrendo com esses aumentos. Por sermos o futuro, acreditamos que é importante o jovem estar ciente dos problemas do Brasil hoje”, mencionou uma estudante da Escola Estadual Vanda da Silva Filho, do bairro Santa Luzia.

“Muita gente reclama de ficar esperando na fila do posto de saúde, mas nunca vimos alguém reclamar de ficar em fila de posto de gasolina, tentando estocar combustível, em um momento no qual todos deveriam ter parado o Brasil”, ressaltou outra estudante, da Escola Estadual Camilo Dias, no bairro Liberdade.

Dentre os estudantes, diversos cartazes abordavam reivindicações das áreas da educação e saúde, além daqueles que se mostravam contrários à intervenção militar e gritavam “Fora Temer”.

Segundo o diretor de Comunicação da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), Robson Oliveira, a juventude precisa estar cada vez mais empoderada, mostrando consciência e participação em mobilizações como essa. “Estamos apoiando a causa dos caminhoneiros em relação ao combustível. Queremos que estudantes venham para a rua, protestem e sejam conscientes de seu valor na sociedade”. (P.B)