Cotidiano

Português deixa a Europa e investe no plantio de tomate em larga escala em RR

Empresário enxergou no cerrado roraimense a chance de lucrar alto, mas tem encontrado dificuldades para se manter sem conseguir exportar

É na produção da Fazenda Luzitânia, localizada na Serra do Tucano, no Município de Bonfim, Leste do Estado, que sai boa parte dos tomates que abastecem o mercado local. Foi ali que, há 11 anos, o empresário rural Jorge Lopes, de 54 anos, apostou na plantação em larga escala, depois de deixar Portugal, seu país de origem.

Desde 1987, o produtor vem dedicando sua vida ao tomate. Começou a produção em uma fazenda no país europeu, onde trabalhava 17 horas por dia no cultivo. “Comecei a produzir em Portugal, onde criei várias associações, umas de produtores e outras de organizações de produtores. Representei o país na União Europeia para o setor do tomate e o negócio começou. Quase 70% do preço do tomate era, até 2001, subsidiado, mas com a queda das ajudas vi que o negócio não iria dar certo para mim”, disse.

Casado com uma brasileira, o português então decidiu abandonar a produção em seu país e se mudou para o Mato Grosso do Sul, onde tinha uma fazenda. “Quis continuar minha atividade que tinha aqui, no Brasil.

Lá, no Mato Grosso, fiquei pesquisando e vendo notícias de Roraima, e um administrador de uma grande rede de supermercados do país me desafiou a ser produtor deles nesse Estado”, comentou.

Antes de iniciar com a produção de tomate no cerrado roraimense, o empresário passou um tempo no Amazonas para conhecer as perspectivas de mercado da região. “Desde que cheguei aqui, nunca mais fui embora. Assinei contrato de exclusividade dessa grande rede, que estava buscando produtos na região. Fiz a inspeção e vi a possibilidade de produzir os tomates”.

Para comercializar o tomate para Manaus, o produtor contou com a experiência de quem há anos abastece o mercado amazonense, e chegou a produzir 120 toneladas por semana. “Produzia só as necessidades dessa grande rede de mercado. Vendia ao preço fixo de R$ 3,50 o quilo, mas isso há uns nove anos”, explicou.

Com o contrato encerrado e sem ter a possibilidade de exportar o produto, o empresário não desistiu do negócio e continuou comercializando para a Capital. Ele fez parcerias com os maiores supermercados locais e gerou 47 empregos formais e informais, colhendo 15 toneladas de tomate por dia.

Hoje são cinco hectares destinados à produção do fruto, onde são colhidas cerca de 70 toneladas por hectare. “Eu vendo para todos que quiserem comprar. Abasteço os grandes supermercados de Boa Vista, as maiores redes que tenho parceria, com histórico de muitos anos de comércio, e fixo os preços para não perder a clientela”, destacou.

Ele garante que, apesar das diferenças de produção, consegue lucrar muito mais em Roraima do que na Europa. “A diferença é que lá nunca perdemos porque temos seguro agrícola. Em Roraima, não somos contemplados por esse seguro de colheita. Mas lá se ganha em centavos e aqui se ganha em reais. O custo de produção é de R$ 0,80 e produzo 70 toneladas por hectare, com custo em media de R$ 56 mil cada hectare”, frisou. (L.G.C)

Produtor cultiva variedade com a melhor qualidade do Brasil

Para o empresário rural Jorge Lopes, o clima da região de Roraima é propício para a produção do tomate em larga escala. “Estou numa região de clima sensacional. É onde chove menos em Roraima, metade do que chove em Boa Vista, mas tem água perene e os igarapés nunca secam. Mesmo no tempo de estiagem tinha água para irrigar e todos podiam produzir”, disse.

A região é tão boa que foi batizada de “Val de Mel”, nome do igarapé que irriga a produção e, segundo Lopes, a torna mais “doce” do que as outras. “A diferença para a Europa, por exemplo, é que aqui te permite produzir por tempo mais longo por conta das estações de chuva bem definidas. Mas a produtividade lá é mais certa. Eu fazia 120 toneladas por hectare, aqui já fiz 180. Temos clima diferenciado ali no Bonfim”, ressaltou.

A qualidade da produção o fez apostar no plantio de uma variedade do fruto, o tomate-uva, que possui o nível de açúcar superior a qualquer outro do país. “Eu consegui umas mil sementes desses tomates em São Paulo e plantei ao ar livre. Consegui medir no laboratório da Embrapa e deu 12,8 graus Brix, que é uma medida dos Sólidos Solúveis Totais [SST] no tomate e derivados”, destacou.

Os tomates para processamento requerem um mínimo Brix de 4,5 graus. Isso é comparável com uma faixa aceitável de 3,5 a 5,5 em tomates frescos. (L.G.C)

Mosca da carambola afeta produção e impede a exportação para Manaus

A produção na Fazenda Luzitânia e a comercialização do tomate em escalas maiores do que atualmente produzidas foram diretamente afetadas há cinco anos, com a proibição da exportação de algumas frutas por conta da mosca da carambola, praga que devastou algumas plantações no Estado.

“Hoje a cultura do tomate em Roraima vive momento de impasse, porque depende da resolução desse problema. Eu já produzi muito tomate, mas hoje produzo um pouco menos por conta disso”, disse Jorge Lopes.

Sem conseguir exportar para Manaus (AM), seu principal mercado, o empresário e outros produtores têm deixado de faturar cerca de R$ 9 milhões por ano. “Nesse momento está difícil de fazer porque não podemos mandar os produtos para Manaus, por conta da mosca da carambola. A única coisa que interessava aos supermercados era o tomate. Tenho bons clientes em Manaus, alguns queriam contratar 20 toneladas por dia, mas o prejuízo está sendo grande”, lamentou.

A situação desfavorável, segundo ele, tem causado retrocesso na produção em larga escala. “Não sei se vou continuar no tomate se não resolver o problema da mosca da carambola. O mercado de Boa vista é muito pequeno para mim. Poderia estar partindo para a mecanização parcial ou integral da produção, mas só conseguiria se tivesse área grande, pensando no Amazonas”, disse. (L.G.C)