Cotidiano

Prefeitura e governo não sabem apontar a procedência de remédios jogados em matagal

Na terça-feira, 28, um morador do bairro Jardim Caranã, na zona Oeste da Capital, encontrou várias caixas de medicamentos vencidos descartados de forma irregular próximo à construção da ponte na Avenida Parimé Brasil e encaminhou a denúncia à Folha. Mesmo após a publicação da denúncia, na FolhaWeb, a Prefeitura de Boa Vista e o Governo do Estado não tomaram as providências sobre o descaso, nem assumiram a responsabilidade pela procedência dos medicamentos, mesmo que a identificação possa ser feita através do lote do produto.

Na tarde de ontem, 02, a Folha foi até o local da denúncia, um matagal nas proximidades da obra da ponte que interligará o bairro Jardim Caranã ao bairro Cidade Satélite. As caixas com os medicamentos haviam sido recolhidas. De acordo com o denunciante, se tratava de frascos de Cloridato de Dopamina, vencidos em 2015. O remédio é indicado para estados de choque circulatório e é comercialmente vendido com o nome de Revivan, aprovado por um órgão do governo norte-americano responsável pelo controle de medicamentos.

Ainda na terça-feira, a Folha procurou as secretarias de Saúde municipal e estadual e foi informada que as Vigilâncias Sanitárias de ambas as administrações seguem todos os protocolos para o descarte do medicamento. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou ainda que a denúncia seria apurada e as medidas cabíveis seriam tomadas em relação ao caso.

No entanto, mesmo após dois dias, nenhuma das duas secretarias não sabia dizer sobre a responsabilidade pelo descarte da medicação em área imprópria. Além disso, a Folha foi indagada por ambos os órgãos sobre qual seria o lote de fabricação do insumo farmacêutico para possível identificação.

PREFEITURA – Por meio de nota enviada à Folha na tarde de ontem, 02, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) disse que, desde o ano de 2014, o medicamento Cloridrato de Dopamina fornecido ao Município é do fabricante União Química, ou seja, não confere com os medicamentos identificados nas imagens publicadas. “O Cloridrato de Dopamina é de uso hospitalar, não sendo utilizado em unidades básicas de saúde”, frisou.
Ainda conforme a nota, a prefeitura enviou uma equipe de fiscais da Vigilância Municipal ao local indicado na reportagem para recolher o material e dar destinação correta, mas os medicamentos não foram localizados. “É importante que os cidadãos acionem os órgãos de fiscalização municipais através do 156”, complementou.

Em relação ao descarte de medicamentos e insumos farmacêuticos, a secretaria informou que o procedimento acontece por iniciativa de quem produz o resíduo de saúde. “O procedimento é realizado conforme legislação sanitária, com emissão de comprovante de descarte, em local indicado e com a presença de um fiscal acompanhando todo o processo. Pode ser realizado tanto pela vigilância estadual quanto municipal”, prosseguiu a nota.

Caso um cidadão encontre medicamentos que foram descartados de forma incorreta ou possua remédios vencidos em casa, o órgão explicou que o produto pode ser entregue em qualquer unidade de saúde ou que o denunciante pode cobrar providências junto às Vigilâncias Estadual ou Municipal.

GOVERNO – Também através de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) afirmou que o Estado segue todos os protocolos legais previstos para o descarte de medicamentos vencidos, os quais são feitos mediante autorização da Vigilância Sanitária Municipal.

Por meio da Coordenação de Assistência Farmacêutica, a secretaria afirmou que tem o controle, lote a lote, de todos os medicamentos que entram e saem do setor, inclusive para onde foram enviados. “A coordenação está à disposição para fornecer as informações necessárias aos órgãos fiscalizadores, considerando que dispõe de um serviço de descarte de medicamentos que possibilita identificar qualquer informação sobre medicamentos supostamente extraviados”, afirmou.

“Ressaltamos que até um medicamento chegar aos hospitais, ele passa, na maioria das vezes, por distribuidores contratados e estes, assim como hospitais particulares, além do Estado e Prefeitura, também podem ser investigados”, destacou.