Cotidiano

Principal causa de câncer no colo do útero pode ser evitado com vacina

O HPV atinge mais da metade dos jovens brasileiros

As ações de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são desenvolvidas de acordo com a necessidade de ampliar a conscientização do tema e a redução nos altos índices de pessoas infectadas. Entre elas, destaca-se a vacinação contra o HPV, que é o principal fator para o desenvolvimento do câncer no colo de útero, causando a morte de 250 mil mulheres por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para evitar o contágio, a vacina foi desenvolvida para ser aplicada em meninas de 9 a 14 anos e em meninos de 11 a 13 anos. A idade precoce ainda é motivo de muito debate, mas conforme defendido por especialistas, quanto mais cedo o indivíduo estiver protegido, menos riscos ele oferece para a população.

Além da transmissão pela relação sexual, o HPV também é passado durante a gravidez e pode originar diversos tipos de cânceres relacionados à doença, que podem ser vaginal ou peniano. Esses cânceres afetam diretamente o sistema reprodutor, que pode levar à infertilidade. Por ser uma doença silenciosa, os sintomas podem ser manifestados quando a doença está em um estado muito avançado e sem a possibilidade de tratamento.

Segundo a ginecologista Luciana Arcoverde, a disponibilidade da vacina foi um grande avanço para a diminuição das taxas de câncer e isso coloca o Brasil em níveis igualitários com países mais desenvolvidos na luta de combate às ISTs. Porém, ainda é necessária uma ampliação do debate e da quebra de tabus que existem em relação à educação sexual com jovens.

Na rede pública, a vacina é ofertada em duas doses com intervalo de seis meses, voltada para as crianças e os adolescentes. Na rede privada, a política é de três doses, sendo a última no intervalo máximo de cinco anos.

“É notório saber que o início da vida sexual é muito glamoroso, está apaixonado e geralmente acha que é o único príncipe, única princesa e não se cerca de tantos cuidados como o uso de preservativos. O HPV ataca as regiões genitais e, mesmo com o uso de camisinha, pode ocorrer a transmissão da doença. Nem sempre a doença vai ser visível, você pode ter lesões que posteriormente vão ser apresentadas somente no exame de rastreio”, explicou.

A ginecologista alertou que uma infecção nem sempre está relacionada com uma vida sexual ativa, mas também a abusos sexuais em crianças e jovens, que são expostos a esse tipo de comportamento, por isso, a importância da vacinação em uma idade precoce. “O HPV faz parte da realidade. De dez mulheres que tem vida sexual ativa, oito tem contato com o HPV, um índice muito alto porque as pessoas têm vida sexual muitas vezes sem proteção e essa falta de proteção leva a um ciclo vicioso com vários contatos de vários tipos de HPV”, ressaltou.

Luciana afirmou ainda que a vacinação contra o HPV não deve ser vista como algo letal ou uma forma de induzir meninas a iniciarem a vida sexual. “Ninguém tá orientando a criança a fazer sexo. A ideia é fazer uma barreira de proteção em uma pessoa que nunca teve vida sexual e que tá longe do início dessa fase para que, no momento que ela tenha relações, ela tenha proteção”, comentou.

Para a médica, a melhor forma de ampliar a conscientização é a educação base em relação ao tema para ajudar crianças a identificarem possíveis problemas quando estiverem na fase adulta e tiverem mais noção sobre a importância da prevenção. Mas o debate também deve ser valorizado dentro de casa, um lugar onde a pessoa pode procurar ajuda com eventuais problemas e tirar dúvidas, evitando situações desagradáveis. 

A mudança de pensamento em relação à sexualidade é necessária para que tenha a diminuição dos índices de infecções circulando na sociedade. A ginecologista entende que as ações de hoje irão refletir nas décadas futuras, com mulheres e homens mais conscientes dos próprios corpos. “A gente não pode perder essa linha de raciocínio, de mostrar que a vacinação veio como uma forma de melhoria para elas. Nós precisamos parar de achar que nossas crianças vão ser bebês para sempre. É algo natural e que acontece com todo mundo. Então quando a pessoa tiver acesso a isso, ela já vai estar protegida”, concluiu.

Procura por vacinação é baixa

Em Roraima, a campanha de vacinação acontece a cada semestre e, de acordo com os dados da Secretaria Estadual de Saúde, houve uma baixa procura pela vacina em relação ao ano passado. Neste ano foram imunizadas 10.660 pessoas entre meninos e meninas do público-alvo.

De acordo com o gerente do Núcleo Estadual do Programa Nacional de Imunização, Rodrigo Danin, o principal é desconstruir o pensamento que a vacinação é feita para sexualizar a criança de forma errônea. “O Ministério da Saúde fez uma otimização do sistema biológico para ter uma quantidade suficiente para imunizar os meninos também. Além de meninas e meninos, pessoas adultas até 25 anos podem vacinar gratuitamente, pois são pessoas que convivem com o vírus HIV/AIDS. É algo que vai acontecer uma hora ou outra, não pode evitar e, quando isso acontecer, vai estar imunizado”, disse. (A.P.L)