Política

Produtor diz que desenvolvimento agrícola depende da classe política

Alguns impasses impedem a titulação de terras e a interligação ao Sistema Nacional de energia

Em entrevista ao Programa Agenda da Semana, na Rádio Folha AM 1020, domingo, 17, o empresário do setor agropecuário, Afrânio Webber disse que o setor primário em Roraima cresce a cada ano, mas enfrenta problemas que impedem o seu efetivo desenvolvimento.

Entres os entraves está a falta de ligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de distribuição de energia, por meio do Linhão de Tucuruí, a titulação de terras e o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE).

O empresário apontou como principal empecilho para a resolução destes problemas, a falta de união da classe política. Ele defendeu que o governo estadual e a bancada federal, tanto no Senado quanto na Câmara, trabalhem em conjunto para isso.

No que se refere à titulação de terras e apesar das dificuldades, destacou o trabalho realizado pelo Governo do Estado. Muitos títulos estão sendo emitidos e entregues, mesmo que muitas áreas não tenham sido contempladas.

“Tudo isso vem sendo travado em Brasília. Uma simples ordem do presidente poderia resolver pelo menos esses problemas. Com a falta de segurança jurídica, investidores ficam receosos de apostar suas fichas aqui. E para que o desenvolvimento aconteça, precisamos de pessoas de fora, não somente de outros Estados, mas também de outros países”, pontuou.

AMBIENTAL – Quanto à questão ambiental, Webber lembrou que o produtor ainda tem que correr atrás de licenças que determinam e delimitam as áreas de preservação e produção. Com o ZEE aprovado e em execução, esse trabalho não seria mais necessário. “Os empresários do setor já apresentaram diversas propostas quanto a isso, ainda na época da gestão de Ottomar Pinto. Não sei por que nenhum dos governos tirou isso do papel”, disse.

Para os investidores de fora, seria muito bom entrar em uma região onde as áreas de plantio estejam pré-determinadas para que eles não tenham que correr atrás disso. “Os órgãos ambientais têm nos atendido bem, mas esse trabalho é oneroso. São barreiras que os investidores de fora não estão acostumados a enfrentar. Se o produtor fica correndo atrás de papel, ele não tá na lavoura. Isso ocupa muito o tempo com burocracia e gera gastos”, explicou.

ENERGIA – A questão energética é outro entrave para o desenvolvimento do setor. O empresário lembrou que no ano de 2011 investiu em um pivô de irrigação. “Fizemos um alto investimento, na época a Companhia Energética de Roraima (Cerr) não teve como dar conta de fornecer a energia necessária. Não conseguimos fazê-lo funcionar, e acabamos recorrendo aos motores a diesel. A partir de 2013, com o preço do combustível, isso ficou pesado, tivemos problemas operacionais e firmamos uma parceria ruim que acabou nos forçando a parar”, lamentou.

LOGÍSTICA – Outro fator que encarece a produção de qualquer cultura em Roraima é a logística. A única opção de entrada e saída do Estado é a BR-174. Apesar de contar com o porto de Itacoatiara, no Amazonas, em distância inferior a mil quilômetros, a alternativa não é das mais baratas.

O empresário afirmou que a solução seria a conclusão da rodovia que dá acesso à cidade de Linden, na Guiana, onde seria construído um porto de águas profundas naquela região, banhada pelo Oceano Atlântico.

“Essa logística viabilizaria muito a entrada de insumos mais baratos e a saída do nosso produto com menor custo. Em Roraima uma tonelada de MAP, que é o adubo base para o plantio empresarial, fica em torno de R$ 2.300, pois vem de transporte terrestre de outras localidades do Brasil. Para se ter uma ideia, no Centro-Oeste e Centro-Sul, o mesmo produto sai em torno de R$ 1.800. Com o porto no país vizinho poderíamos chegar a esse preço e quem sabe até mais reduzido”, esclareceu.

Empresários estrangeirospassam a investir em RR

Mesmo com os entraves mencionados, Webber afirmou que a recente conquista do certificado internacional “livre de febre aftosa com vacinação”, empresários japoneses, americanos e um grupo alemão, compraram terras em Roraima para investimentos futuros.

Eles não começaram os investimentos em safras devido ao período de fechamento do negócio. Porém, no próximo ano eles devem colaborar para o aumento no percentual de área plantada e de produção.

“A cada ano crescemos entre 25% e 30% a área plantada e em consequência a produção. No ano passado plantamos a soja, nosso principal grão, em 36 mil hectares. Este ano chegamos perto dos 40 mil/ha”, disse Webber.

Ele lembrou que o setor almeja chegar aos 100 mil hectares nos próximos três ou quatro anos. “Esse é o número mágico. Quando estivermos nesse patamar, poderemos receber a agroindústria. Com isso, nossa produção seria beneficiada aqui mesmo, gerando maior arrecadação e geração de empregos colaborando para o desenvolvimento econômico”, disse.

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