Cotidiano

Projeto criado por aposentado evita que crianças do Operário fiquem ociosas

Ação é mantida com recursos próprios e ajuda de amigos e parentes, mas a falta de voluntários é outro grande desafio

Há três anos, quando começou a residir no bairro Operário, zona oeste da Capital, o professor aposentado Nelson Correia passou a encontrar crianças pelas ruas da região. Parando e conversando com algumas, descobriu que no horário oposto à escola as crianças não tinham o que fazer e, na rua, buscavam um modo de passar tempo. Em sua maioria, elas ficavam sozinhas por conta do trabalho dos pais. Foi nesse contexto que Correia teve uma ideia.

Por morar em um extenso terreno, o aposentado dividiu a área em duas metades e passou a utilizar um lado para desenvolver atividades físicas e pedagógicas junto às crianças. Sob a mangueira do quintal, a Associação Projeto Maria Tereza (Promater) recebeu o primeiro grupo de sete crianças, com idade entre 4 a 12 anos, em um sábado de março de 2014. Três anos depois, o número já chega perto de 45.

Nos primeiros sinais do inverno de 2014 foi construída a primeira sala de aula, a fim de que o trabalho não fosse interrompido pelas chuvas. Hoje, já são cerca de cinco. Nas salas, Correia explicou que são realizados estudos bíblicos para trabalhar a questão da formação do caráter e da cidadania dos pequenos. “Independente de religião, realizamos o estudo com o objetivo principal de evitar que essas crianças participem do cenário de violência, prostituição e das drogas”, disse.

Além dos estudos, as crianças têm aulas de dança, canto e jiu-jitsu. O terreno também possui uma piscina, contudo, o aposentado explicou que falta professor voluntário para as aulas de natação. Também estão sendo implantadas uma sala para aulas de informática e uma brinquedoteca, provenientes de recursos do aposentado e doações. Por se tratar de um trabalho independente mantido com parte do salário da aposentadoria, parentes e amigos, Correia ressaltou que a associação sofre com a falta de voluntários.

Para driblar a situação e contar com qualquer tipo de contribuição, ele explicou que tenta encontrar um padrinho para cada criança. Nesse caso, os padrinhos passam a ser contribuintes voluntários do projeto. Sem contar com as dificuldades de recursos, Correia lamentou que o Promater só funcione durante as manhãs de sábado. “Quando a gente terminar todo o projeto, esse terreno será semelhante ao de uma escola, funcionando todos os dias, de manhã e à tarde”, destacou.

COMO AJUDAR – Diante das dificuldades encontradas para manter o Promater, principalmente em relação aos recursos, o professor informou que, independente da religião, as orações são essenciais para a continuidade da ação. No entanto, para ajudar de outras maneiras, inclusive sendo padrinho, ele pontuou que os interessados podem entrar em contato com o próprio pelo telefone (95) 99152-9161 ou visitar a associação, localizada na Rua OP-VIII, número 261, bairro Operário, zona oeste.

Apesar do tempo de funcionamento, o projeto se tornou associação com estatuto e Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) recentemente. Conforme o aposentado, o próximo passo é abrir uma conta bancária para receber as doações de forma mais fácil. Por ter morado no Rio Grande do Norte, Correia pontuou ter amigos interessados em ajudar, mas como não quer usar conta de terceiros, formalizou o projeto.

O Promater também conta com o apoio de um médico pediatra e uma psicóloga para atender as crianças e suas famílias. Mesmo com a ajuda, o professor destacou que os profissionais que se interessarem pelo projeto também podem entrar em contato ou visitar a associação para contribuir da forma que for possível.

BAIRRO ESQUECIDO – Segundo o professor Nelson Correia, o Promater também é uma forma de ajudar as inúmeras famílias carentes do bairro Operário. “O bairro é esquecido pelo poder público. Na época de inverno, ninguém entra ou sai de alguns locais”, observou ao explicar que a maioria das casas que visita é de madeira e chão batido.

Antigo morador do bairro Caimbé, zona oeste, ele informou que não tinha conhecimento de pessoas carentes na região. No Operário, ele disse que sabe mostrar às famílias que precisam de ajuda. O aposentado relatou que faz visitas rotineiras para acompanhar as famílias e as crianças em suas casas. Para ele, o trabalho interativo é necessário para o desenvolvimento do projeto. (A.G.G)

Professor de Jiu-Jitsu também dá aulas de forma voluntária

Além de genro do professor Nelson Correia, Sandro Serra é o professor responsável pelas aulas de Jiu-Jitsu. As aulas gratuitas da arte marcial começaram há cerca de cinco meses. Desde então, cerca de 15 alunos frequentam o Projeto Maria Tereza (Promater) às segundas-feiras e quartas-feiras. Apesar do patrocínio conquistado, o professor explicou que a maioria dos custos é bancada por conta própria, como a compra dos Kimonos.

Pelo crescimento do projeto e a dificuldade nas compras do equipamento, tendo em vista que cada Kimono custa de R$ 200,00 a R$ 270,00, o professor informou que todo apoio é bem-vindo à causa. Para Correia, as aulas são uma forma de trabalhar a disciplina e o respeito entre as crianças e os pais, que começaram a frequentar o espaço junto aos filhos. Nenhuma taxa é cobrada dos participantes.

“O que é feito aqui não é pra fazer na rua ou na escola. Quando recebemos reclamação, a gente suspende os treinos e as atividades”, frisou Serra. E o esforço tem dado certo. As crianças já começaram a participar de campeonatos estaduais e, com a proximidade de um campeonato regional, a associação busca apoio em relação ao transporte e os equipamentos dos atletas. Para ajudar basta entrar em contato com o mestre Serra pelo número (95) 99115-5499. (A.G.G)