Cotidiano

Projeto ensina português para quem está em situação de refúgio e imigração

Projeto Acolher, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), fez parceria com o Clube dos Livros de Boa Vista para ajudar estrangeiros

Ao lado de um local que é tido como ponto de prostituição de estrangeiras, uma semente de acolhimento e humanização foi plantada no Terminal João Firmino Neto, conhecido como Terminal do Caimbé, localizado no bairro Buritis, na zona oeste. Prestes a fazer três meses, o projeto Português Para Todos foi implantado com a proposta de ensinar português para pessoas em situação de refúgio e imigração. O projeto é resultado de uma parceria do Projeto Acolher, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), com o Clube dos Livros de Boa Vista.

Participantes desde o início do projeto, os venezuelanos Daniel Velasquez e William Castillo frequentam as aulas diariamente. Para ambos, o intuito de participar das aulas é dominar a língua portuguesa para principalmente facilitar a adaptação no país. Além disso, o certificado que será entregue ao final das aulas tende a contribuir com o currículo junto ao mercado de trabalho, provando que os venezuelanos falam, escrevem e compreendem o português.

Daniel Velasquez nasceu em El Tigre, uma pequena cidade da Venezuela. Há cerca de três anos em Boa Vista e já dominando um pouco a língua, ele disse que começou a trabalhar como comerciante, trazendo roupas e calçados do país de origem. Na Venezuela, trabalhava como auxiliar fazendo buracos no chão para tirar petróleo. Atualmente, está empregado e mora de aluguel em um apartamento.

Velasquez ressaltou que não sentiu dificuldades em arrumar emprego. No entanto, o aluno apontou que uma parcela dos imigrantes que vieram morar na capital está realizando um serviço de má qualidade no mercado, o que tem comprometido a empregabilidade dos outros. “Por conta disso, nem todos acreditam que a outra parte dos imigrantes é qualificada e tem responsabilidade de trabalhar”, disse.

William Castillo, de Caracas, capital da Venezuela, disse que por conta das dificuldades que estava passando em seu país em relação a emprego, veio para Boa Vista há cerca de cinco meses com uma amiga, com quem divide apartamento. No seu país, trabalhava em um salão de beleza. Em Boa Vista, não teve sucesso nas tentativas em arrumar trabalho. “As pessoas me diziam que não queriam me dar trabalho, que o mercado está fraco”.

Diante das dificuldades, tanto em relação a emprego quanto a comunicação, os venezuelanos viram no Português Para Todos a oportunidade de provar que têm conhecimento e que não são pessoas de má índole. “Viemos com gana de dias melhores para nós, só isso”, frisou Velasquez. (A.G.G)

Projeto conta com a ajuda de voluntários

Criado com a proposta de fornecer aulas de português para pessoas em situação de refúgio e imigração, o projeto Português Para Todos é uma iniciativa do Acolher, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em parceria com o Clube dos Livros de Boa Vista.

Segundo a coordenadora do Português Para Todos, Marcela Ulhôa, o projeto conta com turmas que variam de oito a 15 alunos, de segunda à sexta-feira, das 15h às 17h. Com quase três meses de funcionamento, ela apontou que uma das maiores dificuldades é a diferença das turmas, tendo em vista a diversidade em ritmo de conhecimento, a facilidade de aprender a língua e a diferença de idade.

Para dar as aulas, Marcela conta com sete voluntários. Normalmente, cada turma tem duas pessoas lecionando, o que permite ajudar melhor os alunos. Outro problema apontado pela coordenadora é a frequência dos alunos. Por não ter turmas fechadas, tem gente nova chegando o tempo inteiro. “Alguns vão todos os dias, outros vão uma vez por semana. A gente percebe que quando eles não estão trabalhando, costumam ir sempre”, disse.

VOLUNTÁRIOS – Marcela ressaltou que os interessados em se voluntariar podem entrar em contato pelo número (95) 98105-2999. A ajuda é importante por se tratar de um compromisso sério, tendo em vista que não há remuneração e os gastos com transporte, por exemplo, são por conta própria.

“Você sabe que todos os dias vão ter alunos que estarão te esperando. Não tem como cancelar em cima da hora ou ir quando der”, disse. Com mais voluntários, Marcela apontou que novas turmas podem abrir e os professores que lecionam sozinhos poderão contar com outro profissional para dividir o trabalho. (A.G.G)