Cotidiano

Projeto prevê construção de nova orla e leilão de área para iniciativa privada

Conforme a Prefeitura, área terá calçadão, equipamentos de mirante e uma marina flutuante em um complexo para gerar emprego e renda

Passado o primeiro momento do projeto de revitalização da área Caetano Filho, o Beiral (veja matéria na página 06A), a Prefeitura de Boa Vista informou ontem, em entrevista coletiva com a imprensa, que está previsto, nas próximas etapas, a construção de uma nova orla e recomposição de um novo espaço público, com ajuste do nível das águas para prevenção de enchentes, calçadão e instalação de equipamentos que promovam a atração do público, do turismo, da geração de emprego e renda.

Além disso, será instalado no local um mirante e uma marina flutuante. “O espaço vai receber todas as pessoas que trabalham com turismo do Rio Branco e outras formas de turismo. Será um espaço organizado, adaptável à elevação e baixa do rio”, disse Teresa.

Outro ponto levantado pela Prefeitura foi o leilão de terreno no Centro voltado para empreendimentos da iniciativa privada. “Queremos que as pessoas interessadas possam investir nesse espaço, para construção de prédios, escritórios, consultórios, aqueles que queiram trabalhar em um espaço administrativo”, informou a prefeita.

“Dessa forma, vai estar revitalizando não só esse espaço, mas também toda a área da [Avenida] Jaime Brasil, que perdeu muito espaço com a chegada dos shoppings. Vamos trabalhar revitalizando a Jaime Brasil, temos também a construção de mais um centro comercial perto do Terminal de Ônibus, ou seja, eu acredito que ainda não dá para mensurar o quanto nós vamos melhorar e gerar emprego e renda naquela região”, frisou.

Questionada se a Prefeitura não poderia utilizar os recursos da indenização para construção de novos projetos habitacionais no local reestruturado para abrigar os moradores da área, Teresa afirmou que este não é o papel do Município.

“A Prefeitura não tem condições de construir prédios ali e nem é papel da Prefeitura fazer. A Prefeitura tem que incentivar a economia, fazendo com que as pessoas invistam na área, dentro daquilo que elas acharem importante. Então, por exemplo, se a área médica achar por bem construir ali escritórios, então eles vão investir. A gente tem que fazer espaço público, não espaço privado”, disse. “Agora, quem vai atuar na parte da construção de prédios são pessoas que se interessem pelo negócio, através do leilão, que é a forma legal de se fazer”.

Moradores divergem sobre Proposta de indenização

Presentes à coletiva com a imprensa, cerca de 20 moradores da área do Beiral e do bairro Calungá receberam as informações sobre as mudanças anunciadas pela Prefeitura e avaliaram as condições propostas.  A princípio, o técnico de enfermagem Rui de Oliveira Nunes, morador há 25 anos do Beiral, estava descontente com a decisão, porém, mudou de opinião após a apresentação.

“A cidade que nós queremos é essa, que venha gerar renda. Mudou todo o meu conceito como morador. A prefeita Teresa não tinha nenhuma obrigação de assentar a gente, mas, conforme a nossa situação, vão nos indenizar. Estou satisfeito. Vou parar por aqui, assinar o termo. Eu vi o projeto e nós precisamos disso”, avaliou.

A análise não foi a mesma para as vizinhas Janaína Pereira Nogueira e Cibele Maria, que moram na Avenida Sebastião Diniz, no Calungá. Para elas, os moradores não foram ouvidos no momento do planejamento da obra, há um ano, e nem agora. Além disso, elas relatam que os moradores estão sendo impedidos de entrar nas suas residências.

“O período chuvoso está intenso agora, mas não é todo ano. A minha casa, por exemplo, não entrou água, mas chegou perto. Ficou só aquela sujeira da água, mas bloquearam a rua, ninguém consegue entrar em casa, desligaram a energia. Estão coagindo a gente para sair, pelo preço que eles querem pagar”, reclamou Janaína.

“Disseram que a gente não podia voltar, que tinha que assinar o termo, senão a casa ia para o chão”, frisou Cibele. A moradora ainda reclamou da forma da assinatura dos termos de entrega das casas. “Se eu for comprar qualquer produto, eu só compro se eu tiver o dinheiro na mão. O povo está assinando o contrato e não está pegando o dinheiro. Como é que eu posso ir atrás de uma casa assim? A gente não está se recusando a entregar, só queremos que paguem a gente e que deem um prazo para a gente poder procurar um lugar para a gente ir. Ninguém aguenta ficar pagando aluguel caro enquanto o dinheiro não cai na conta”, criticou.

Moradoras reclamam de preconceito e generalização

As moradoras Janaína Pereira Nogueira e Cibele Maria também reclamaram da generalização dos residentes da área do Beiral, conhecida pelo consumo e tráfico de drogas. Elas alegam que esse também seria um dos motivos para a demolição do local, como uma forma de erradicar o problema.

“Ficam dizendo que lá só tem marginal. O meu filho é universitário. Eu estou criando outra filha. Então, não é todo mundo que é marginal ali. Tem, mas todo canto é assim, todo bairro é assim”, informou Janaína. “Quem compra mais drogas no Beiral não são os moradores da [Avenida] Sebastião Diniz. Vem gente de fora, os ‘filhinhos de papai’ que moram nos bairros nobres. Eles que sustentam aquele lugar”, acrescentou Cibele. (P.C.)