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Psiquiatra explica os desafios de quem vive com autismo

Segundo pesquisas do governo dos EUA, o autismo tem prevalência de 1 a cada 68 crianças, equivalente a 1,5% delas

Um fato podemos comemorar: nunca se ouviu falar tanto na palavra autismo quanto nos últimos anos. Muita gente, claro, ainda não sabe do que realmente se trata, mas aos poucos estamos conseguindo desmistificar o assunto, e, com isso, de alguma forma também obtendo melhorias para a vida das pessoas com o espectro e de suas famílias. No último domingo, 2 de abril, celebrou-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) desde 2008.

O objetivo é, anualmente, conscientizar a sociedade a respeito desta complexa síndrome, para que haja mais suspeitas, mais diagnóstico, mais tratamento, mais respeito e menos preconceito. Para isso iluminam-se de azul prédios e monumentos ao redor do mundo. O azul foi a cor designada para o autismo, por ter uma prevalência bem maior em meninos que em meninas — mais de 4 para 1.

 De acordo com o psiquiatra, Alberto Iglesias, o autismo é um transtorno de desenvolvimento que geralmente aparece nos três primeiros anos de vida e compromete as habilidades de comunicação e interação social.

“Cada criança é uma criança. A frase pode parecer simples, mas é vital para entender o autismo. Se o seu filho receber o diagnóstico, não necessariamente vai apresentar todos os sintomas já descritos por outros pacientes. Por ser um distúrbio com diferentes níveis de comprometimento, recebe o nome de ‘espectro autista’ – para entender melhor, imagine um dégradé, que vai de cores muito escuras, em que se encontram os casos mais graves, até os tons mais claros”, explica.

Apesar de os sinais do transtorno variarem, há três comprometimentos que são considerados mais comuns.

“O primeiro é na interação social, ou seja, no modo de se relacionar com outras crianças, adultos ou com o meio ambiente. O segundo sintoma recorrente é a dificuldade na comunicação: há crianças que não desenvolvem a fala e outras que têm ecolalia (fala repetitiva). Como terceiro sinal, há a questão comportamental: as ações podem ser estereotipadas, repetitivas. Qualquer mudança na rotina passa a ser incômoda para a criança. Imagine que a mãe sempre vá buscar o filho na escola. Certo dia, é o avô quem vai pegá-la no colégio – e altera a rota de sempre. Pode ser que ela, diante dessa mudança, fique agitada e grite, por exemplo. Isso acontece porque a rotina é um ‘mapa’ usado pelo autista para reconhecer o mundo. Se algum traço desse caminho for alterado, a criança vai reagir”, explica o especialista.

Segundo o médico, crianças com autismo já começam a demonstrar sinais nos primeiros meses de vida: elas não mantêm contato visual efetivo e não olham quando você chama. A partir dos 12 meses, por exemplo, elas também não apontam com o dedinho. No primeiro ano de vida, demonstram mais interesse nos objetos do que nas pessoas e, quando os pais fazem brincadeiras de esconder, sorrir, podem não demonstrar muita reação.

“O diagnóstico do autismo é clínico, feito através de observação direta do comportamento e de uma entrevista com os pais ou responsáveis. Os sintomas costumam estar presentes antes dos 3 anos de idade, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de idade”, explica.

Características essenciais de intervenções efetivas para crianças com autismo:

1) Iniciar os programas de intervenção o mais cedo possível;

2) Tratamento intensivo, 5 dias por semana, por no mínimo 5 horas por dia;

3) Uso de oportunidades de ensino planejado repetidas, que sejam estruturadas durante breves períodos de tempo;

4) Suficiente atenção adulta, individualizada e diária;

5) Inclusão de um componente familiar, incluindo treinamento para os pais;

6) Mecanismos para avaliação contínua, com ajustes correspondentes na programação;

7) Terapia cognitivo comportamental;

8) Medicamentos para controlar os sintomas do autismo.

O autismo

O autismo, hoje conhecido por TEA, é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na interação social, na comunicação, nos comportamentos repetitivos e nos interesses restritos, podendo apresentar ainda sensibilidades sensoriais. De acordo com a Organização das Nações Unidas no Brasil, cerca de 1% da população mundial vive com autismo, o equivalente a 70 milhões de pessoas. Eudes faz parte desse percentual e suas experiências mostram que uma pessoa autista é como qualquer outra, ele apenas precisa de uma atenção especial.

Alberto Iglesias é Médico Psiquiatra e Membro Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP.