Polícia

Quadrilha planejava executar agentes penitenciários e policiais

Uma ação conjunta desencadeada pela Força Tática da Polícia Militar e a Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) prendeu, na tarde de ontem, três integrantes de uma facção criminosa: Francisco Idelvane Lopes da Silva, 31 anos, vulgo “Bobby” ou “Cabeça”, que tem passagens pela polícia, mas não estava foragido; Renato Santos Alencar, 27 anos, foragido da Casa do Albergado desde 2015; e Francisco Elko Bezerra, 32 anos, que desde maio do ano passado está foragido também da Casa do Albergado.

O bando estava refugiado numa chácara do Distrito Industrial, zona Sul de Boa Vista, onde a prisão aconteceu. Eles planejavam a morte de policiais militares e agentes penitenciários, os quais já estavam com os endereços mapeados. Um áudio que estava no celular de um detento da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) revelou o plano dos criminosos. Com eles foram encontrados armas de grosso calibre, munições, droga, dinheiro e utensílios para manutenção do armamento.

Para chegar até os elementos, o grupamento da Força Tática avistou, na manhã de ontem, um carro Voyage, cor vermelha, placa NUI-6921, transitando com três indivíduos em atitude suspeita pela área Caetano Filho, o “Beiral”, no Centro, e decidiu abordá-lo. O carro estava sendo conduzido por Francisco Idelvane, que levou os policiais até o local onde ele estava se escondendo.

O comandante da FT-18 explicou que o elemento apresentou falsa identidade no momento em que foi abordado. “Diante da falsa identidade dele e de outros dois suspeitos, a gente os conduziu para a Dicap. Depois de várias horas tentando identificar quem eram, descobrimos que se tratavam de foragidos da Justiça. Diante das informações que foram prestados por um dos suspeitos, nos dirigimos a um endereço no Distrito Industrial, onde foram localizadas duas armas de fogo, 50 munições de ponto 40 e calibre 12. Agora estamos entregando os elementos na Dicap e levá-los à delegacia responsável para que as medidas cabíveis sejam adotadas”, disse.

INVESTIGAÇÕES – O chefe da Dicap, Roney Cruz, em entrevista à Folha, ressaltou que desde a semana passada as investigações foram iniciadas. “Esse trabalho teve início dias atrás com a apreensão de um aparelho celular dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Esse celular foi analisado pela equipe de inteligência e lá continham ordens de uma organização criminosa para efetuar morte de agentes públicos de segurança, como agentes penitenciários e policiais. Então as equipes trabalharam para identificar esses criminosos. Algumas operações realizadas e eles foram presos”, disse.

Na segunda-feira, dia 20, parte das prisões programadas pela Dicap já tinha sido feita, quando dois elementos foram presos portando pistola 9 milímetros e um revólver calibre 38, que é utilizado pela facção. “Quando prendemos os dois, percebemos que faltava um dos elementos, que é o ‘cabeça’. Nós descobrimos qual era o veículo utilizado por ele, passamos para as equipes e localizamos o carro no Caetano Filho, onde encontramos Francisco Idelvane com mais dois foragidos do sistema prisional”, destacou Cruz.

Como as equipes de inteligência já haviam feito levantamento de possíveis endereços utilizados por eles, diligências foram feitas tanto no Distrito Industrial quanto na ocupação João de Bairro, no bairro Cidade Satélite, na zona Oeste, locais onde armas e munições calibre ponto 40, de uso restrito da polícia, foram encontradas.

As investigações ainda estão em curso para que nos próximos dias outros integrantes da quadrilha sejam presos. “Já tínhamos identificado que o Francisco Idelvane, o ‘Cabeça’, tinha essa missão aqui fora de levantar os endereços e recrutar alguns e até mesmo participar da morte de policiais. Vale ressaltar que no ano passado tivemos a morte de três policiais militares e de um policial civil, por ordem dessa organização criminosa. E nós estamos atentos para tirar esses elementos de circulação. Alguns chegaram a confrontar com as equipes e não tiveram sorte. O trabalho continua, é diário e temos que ficar vigilantes todo o tempo”, enfatizou o chefe da Dicap.

Os três homens foram apresentados ao Departamento de Operações Especiais (Dopes) que participa do trabalho de desarticulação das organizações criminosas, para que a autoridade policial tome providências e dê a imputação criminal destinada a cada um dos presos.

Áudios revelam conversa de presos tramando a morte de policiais e agentes

O secretário de Justiça e Cidadania, Uziel Castro, reforçou que o telefone encontrado com o elemento conhecido como “Cabeça” tinha ligações direcionadas para um presidiário, além de outro celular apreendido na Pamc, que também continha áudio relativo a conversas entre os criminosos falando sobre execução de policiais e agentes penitenciários. Outras escutas serão analisadas pela Dicap nos próximos dias.

“Os áudios determinavam que fossem mortos policiais e agentes penitenciários. É muito claro no áudio. Devido a esse fato grave, a equipe da Dicap, juntamente com as equipes da Polícia Civil, Federal e Militar caiu em campo, fazendo levantamento. “Identificamos esses três hoje e creio que evitamos o mal maior. Eu acredito que o grupo é muito maior. Essa é uma organização criminosa grande, diversificada que age dentro e fora dos presídios”, frisou

ÁUDIO – Entre as conversas guardadas nos aparelhos celulares apreendidos com Francisco Idelvane, o “Cabeça”, e com o “Mapeador”, que está preso na Pamc, há um áudio em que eles tentam acertar detalhes de como irão agir, apontando onde os agentes de segurança podem ser encontrados e quem deveria participar das mortes. A conversa foi divulgada pela Dicap.

Em um dos trechos do áudio, ele afirma que é fácil encontrar e matar um agente penitenciário. “Agente Penitenciário dá de a gente ‘pegar’ ele bacana, tá ligado? A gente pega ele tranquilo, tranquilo. ‘Vamo’ tá jogando na tua mão um mandogue [arma de fogo] carregado, uma camisa, tá entendendo, mano? E uma granada, tá entendendo, meu parsa, tá ligado? E vai outro mulé [moleque] aí contigo, nosso irmão “Passa Mal”, ele vai tá contigo para desenrolar esse ‘baratinado’, tá entendo meu faixa? […]”.

Em outro trecho, “Mapeador” fala em executar um policial militar. “Aquele bicho [policial militar] do mercado do açaí, eu passei lá na frente dando uma telada lá, mano. Só que essa parada eu não falei nem dia e nem hora que vai ser ‘feito’, não”. (J.B)

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