Cotidiano

Roraima registra queda no número de gestantes com sífilis

Mesmo com queda de casos, Secretaria Municipal de Saúde alerta para prevenção, principalmente com período do carnaval se aproximando

Indo na contramão de vários estados brasileiros, em Roraima, os casos de sífilis em gestantes diminuíram nos últimos dois anos. Em 2015, somando todos os municípios do Estado, foram registrados 112 casos. No ano passado, o número desceu para 95, de acordo com balanço da Secretaria de Estado da Saúde de Roraima (Sesau). Em Boa Vista, as notificações de sífilis congênita, quando a bactéria passa da mãe para o bebê através da placenta, também diminuíram durante o mesmo período: de 24 casos em 2015 para 11 casos em 2016, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA).

Ainda conforme dados da SMSA, até o momento nenhum caso foi registrado este ano. A diminuição das notificações, ao menos em Boa Vista, aconteceu a partir da intensificação de ações de prevenção e acompanhamento das gestantes nas 36 unidades básicas de Saúde, segundo relatou o coordenador municipal de DST/HIV/AIDS, Sebastião Diniz.

“Começamos a fazer um monitoramento mais preciso em relação à sífilis. As notificações que chegam até nosso conhecimento são investigadas e, se doença for confirmada, passamos a acompanhar essa gestante. É importante sempre orientar o casal e deixar claro que se a gestante iniciar o tratamento sem o parceiro estar ciente, ela corre o risco de ser infectada novamente e precisar repetir todo o processo de tratamento.

Com a nossa presença, inclusive participando dos grupos de autoajuda dentro dessas unidades, as grávidas têm toda a orientação necessária para a cura e saúde do bebê”, explicou Diniz.

A presença da coordenadoria de DST/HIV/AIDS em todas as unidades básicas da Capital ocorre uma vez ao mês e, segundo Diniz, não há um mapeamento de quantos casos são identificados por bairros ou zonas. “Esse é um levantamento mais específico e temos que levar em consideração a questão populacional de cada bairro. Existem unidades que atendem mais pessoas do que outras. O importante é que todas as grávidas do município que identificam a doença recebem o tratamento de forma imediata à base de Benzetacil [antibiótico penicilina benzatina]”, garantiu.

A preocupação maior, que leva ao tratamento imediato após confirmação da enfermidade, é o fato da probabilidade de transmissão da mãe para o feto ser alta. “Existe cerca de 80% de chance de a gestante passar sífilis para o filho. Por isso é de suma importância o pré-natal. É durante esse período que identificamos, tratamos e orientamos as mamães”, enfatizou.

O investimento para o tratamento da doença é proveniente de recursos do Ministério da Saúde, repassados ao município. “Os investimentos são com os testes rápidos, disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Cada gestante precisa fazer dois testes. É importante informar a todos que estamos com o tratamento de penicilina benzatina garantindo até o final de 2017. Não corre o risco de o município ficar sem o antibiótico”, garantiu o coordenador.

SÍFILIS – Sífilis é uma doença infecciosa transmitida pela bactéria treponema pallidum. A transmissão ocorre, basicamente, durante a relação sexual ou de mãe para filho, pelo sangue, durante a gravidez. Isso pode ocorrer em qualquer fase da gravidez e em qualquer estágio da doença. A sífilis pode passar despercebida na primeira fase, quando aparece apenas uma ferida nos órgãos sexuais que, normalmente, não arde e não coça. Se não for tratada, pode comprometer vários órgãos do corpo e até matar.

CARNAVAL – Com a proximidade do feriado de carnaval, a Prefeitura de Boa Vista já iniciou os planejamentos para orientar os foliões sobre os perigos da relação sexual sem o uso de preservativos. Ainda conforme informações de Diniz, durante as quatro noites de carnaval na Avenida Ene Garcez, agentes de saúde do Município farão uma “blitz” de orientação.

“Nosso intuito é informar sobre a prevenção, atingir o máximo de pessoas possível. Vamos trabalhar conscientizando no meio da folia, informando os perigos de adquirir uma doença sexualmente transmissível. Vale lembrar que sífilis tem cura, mas o HIV não tem. Prevenção ainda é o melhor remédio”, disse o coordenador, garantindo ainda que cerca de 20 mil preservativos serão distribuídos gratuitamente durante as noites de folia.

“É válido também orientar as pessoas que vão pular o carnaval sobre a questão dos preservativos. Muitos costumam brincar com a camisinha durante a festa. Isso não é certo. Vamos ter conscientização e utilizar da maneira correta”, pediu. (C.C)

De 2005 a junho de 2016, mais de 170 mil grávidas tiveram sífilis em todo o Brasil

Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2016, o mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, entre os anos de 2014 e 2015, a sífilis adquirida teve um aumento de 32,7% no Brasil, a sífilis em gestantes 20,9% e congênita, 19%.

Em 2015, o número total de casos notificados de sífilis adquirida no país foi de mais de 65 mil. No mesmo período, a taxa de detecção foi de 42,7 casos por 100 mil habitantes, a maioria homens, 136.835 (60,1%).

Entre 2010 e junho de 2016, foram registrados quase 228 mil casos de sífilis adquirida. Em 2015, houve 11,2 casos de sífilis em gestantes a cada 1.000 nascidos vivos, um total de 33.365 casos da doença. Já de janeiro de 2005 a junho de 2016, foram notificados quase 170 mil casos.

Com relação à sífilis congênita em bebês, em 2015, foram notificados pouco mais de 19 mil casos da doença, uma taxa de incidência de 6,5 por 1.000 nascidos vivos. De 1998 a junho de 2016, foram notificados 142.961 casos em menores de um ano.

Brasil pretende reduzir casos de sífilis congênita até outubro de 2017

Em outubro do ano passado, foi assinada com 19 associações e conselhos de saúde uma carta-compromisso estabelecendo ações estratégicas para redução da sífilis congênita no país, com prazo previsto de um ano. Isso aconteceu durante a Reunião Ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT).

Estão previstos o incentivo à realização do pré-natal precoce, ainda no primeiro trimestre da gestação; ampliação do diagnóstico (por meio de teste rápido); tratamento oportuno para a gestante e seu parceiro; incentivo à administração de penicilina benzatina, considerada o único medicamento seguro e eficaz na prevenção da sífilis congênita.

Também haverá ações de educação permanente para qualificação de gestores e profissionais de saúde. O prazo de um ano corresponde ao intervalo entre o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, celebrado no terceiro sábado de outubro.