Cotidiano

Roubos e furtos envolvendo imigrantes aumentam 1.300%

Dados repassados pelo Comando da Polícia Militar de Roraima revelam o registro de 118 casos em 2015 e 1.660 em 2017

Os dados de ocorrências envolvendo imigrantes venezuelanos aumentaram consideravelmente desde o início do fluxo migratório no país. De acordo com a Polícia Militar de Roraima (PMRR), o percentual de casos cometidos por venezuelanos de 2015 para 2017 subiu 1.306% no Estado.

Alguns dos dados foram repassados pelo comandante da PMRR, coronel Edison Prola, em audiência pública realizada pela Comissão Externa da Crise de Imigrantes Venezuelanos no Estado de Roraima, ocorrida na manhã de ontem, 18, na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR).

Conforme a PMRR, foram atendidas 118 ocorrências envolvendo venezuelanos em 2015, ano que começou o fluxo migratório no Estado. Em 2016, o índice subiu para 428. No ano passado, em 2017, já foram 1.660 ocorrências. A previsão é que o número continue a crescer, considerando que, no primeiro trimestre de 2018, foram atendidas 991 ocorrências envolvendo venezuelanos. As ocorrências variam, podendo ser brigas, roubos, furtos e até homicídios.

ARMAS DE FOGO – De acordo com dados da Polícia Militar, a rotatividade de armas de fogo também cresceu em Roraima nos últimos anos. A média é de praticamente uma arma de fogo apreendida por dia durante as ocorrências, sendo que costumava se apreender de uma a duas armas por semana.

No quesito de apreensões, a PMRR revela que em janeiro foram contabilizadas 24 ocorrências com arma de fogo em posse de venezuelanos. Em fevereiro, foram 33 ocorrências e 45 ocorrências em março, tudo isso somente em 2018.

Uma das evidências para o aumento das armas de fogo no crime é o confronto com a polícia. Antes, segundo a Polícia Militar, eram raras as situações de troca de tiros entre as guarnições e os criminosos e agora está cada vez mais comum.

Venezuelanos estão migrando para mundo do crime

Em entrevista à Folha, o comandante da PMRR explicou que também houve aumento real no número de ocorrências de furtos, roubos, tráfico de drogas e também alguns homicídios cometidos por venezuelanos.

O impacto do fluxo migratório nas ruas do Estado, segundo a PMRR, também é percebido no aumento da prostituição, no comércio de entorpecentes, no envolvimento de venezuelanos com o crime organizado, atuando no garimpo ilegal na terra Yanomami, no número de mendigos e casos de invasão de prédios públicos.

O comandante disse que existem dois tipos de delinquentes venezuelanos: aqueles que ‘vieram bandidos’ e aqueles que ‘se tornaram bandidos’, por conta da falta de emprego, de oportunidade e da necessidade de mandar dinheiro para a família que ficou na Venezuela. Conforme apuração da Folha, o salário mínimo na Venezuela gira em torno de R$ 218.

MÃO DE OBRA BARATA – Para o comandante, tanto o tráfico, quanto as facções criminosas e os que atuam em operações ilegais, encontraram nos venezuelanos uma mão de obra barata e muito fácil de ser cooptada para fazer parte deste tipo de ação. “O sujeito passando necessidade, fome, morando na rua. Vem para cá com uma expectativa que não é a realidade que encontra em Roraima, principalmente quem não tem uma profissão definida. Essa pessoa acaba migrando para o mundo do crime”, avaliou Prola.

O coronel ressaltou que o Estado não é contra a vinda de venezuelanos e tem ciência da necessidade das famílias que passam fome, sofrem com falta de medicamentos e de comida. “A gente sabe o caos que as pessoas vivem e que causou essa migração, mas dentro desse grupo, veio uma turma de marginais”, afirmou.

Prola completa que não se pode afirmar que somente os estrangeiros são responsáveis pelo aumento das ocorrências. Ele afirmou que as duas causas para o aumento da criminalidade em Roraima são: em primeiro lugar, o crescimento do poder das facções criminosas e, em segundo, a migração venezuelana.

PM necessita de mais viaturas e munições

Para atuar com maior firmeza no combate à criminalidade no Estado, a PMRR precisaria de um apoio do Governo Federal para dobrar a quantidade de armas e receber pelo menos 50 viaturas, 50 pick-ups e 50 motocicletas para atuar na Capital e nos municípios, apontou o comandante.

Precisaria também de dois ônibus para transporte das tropas, três micro-ônibus para operações no interior do Estado, munição para treinamento da tropa, munição não letal, como gás lacrimogêneo e bala de borracha.

O comandante afirma ainda que, até agora, a PMRR não recebeu nenhum valor do Governo Federal para combater o aumento da criminalidade. Prola explicou que muitos dos equipamentos e materiais recebidos pela força policial são oriundos de convênios antigos, firmados antes do fluxo migratório.

Prola reforçou que tanto os dados da PMRR, quanto os de toda a segurança pública do Estado são repassados para o Governo Federal, porém, a situação ainda é tratada com pouca importância. “Essa maneira como o Governo Federal analisa os dados estatísticos de segurança não condiz com a realidade. Eu espero que a Comissão Externa, com vários deputados aqui de Roraima, possa fazer tratativas com a Presidência da República e com o Ministério da Defesa para que recursos possam vir para a Polícia Militar”, sugeriu.

Por fim, o comandante disse que a Polícia Militar é quem melhor compreende a sensação de insegurança vivida pela população do Estado e que não se pode cobrar uma melhoria sem dar condições. “Quem trabalha na rua não é o Exército Brasileiro, a Polícia Federal, ou a Agência Brasileira de Inteligência. É a Polícia Militar. Nós sabemos a realidade da violência deste Estado”, frisou. (P.C)