Política

Secretária afirma que encontrou cheque de R$ 500 mil entre pertences de Quartiero

A delegada Giuliana Castro afirma que a equipe estava realizando vistoria de rotina em acompanhamento à Casa Civil quando se deparou com o item dentro de uma mochila

Em coletiva de imprensa convocada para as 20h30 de ontem, 26, a secretária estadual de Segurança Pública, delegada Giuliana Castro, afirmou ter encontrado indícios de irregularidades durante uma diligência na tarde de ontem no prédio da Vice-Governadoria, localizado na Avenida Ataide Teive, bairro Mecejana.

Conforme a delegada Giuliana Castro, foi encontrado um cheque no valor de R$ 500 mil com assinatura e carimbo do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado estadual Jalser Renier (SD), “dentro de uma mochila possivelmente de Paulo César Quartiero”. O cheque não era nomimal e foi datado para domingo, 28 de janeiro.

Junto do cheque foi encontrado, segundo a titular da Sesp-RR e membros da Casa Militar e Casa Civil, um cartão de banco com o nome de Paulo César Quartiero, cópia do discurso de renúncia do ex-vice-governador, cálculos de supostas dívidas e anotações de nomes de deputados estaduais, federais e senadores.

“Aqui existem todos os indícios que houve a venda do cargo de vice-governador e é isso que a gente já começou a apurar. Estamos instaurando um inquérito policial contra o Paulo César Justo Quartiero por crime de corrupção e estamos solicitando ao Tribunal de Justiça de Roraima para instauração de inquérito policial em desfavor de Jalser Renier Padilha devido a todos esses indícios”, apontou Giuliana Castro.

Além do cheque, a titular da Sesp diz ter encontrado, em uma das salas do prédio, caixas com dezenas de processos originais da Prefeitura de Pacaraima, datados da época que Quartiero era titular da administração municipal. “Isso por si só configura o crime de peculato. Fizemos a apreensão desse material e já iniciamos o processo”, pontuou Giuliana.

A delegada informou que, por falta de tempo, ainda não foi feita uma averiguação da caligrafia das anotações e da assinatura do cheque, mas que os documentos serão encaminhados aos técnicos habilitados. Sobre as anotações, a delegada informou que as informações ainda estão em sigilo e que precisam prioritariamente ser encaminhadas e analisadas pela perícia da Sesp. Somente depois da análise, que o resultado será divulgado à população.

“As anotações tratam especificamente da renúncia do cargo de vice-governador, de valores, de nomes, de negociações e especificamente da negociação do cargo de vice-governador. Elas serão divulgadas para informar a população, para que tenha conhecimento desse grande complô político arquitetado possivelmente por políticos de Brasília para prejudicar o Estado de Roraima”, completou Giuliana.

MOTIVAÇÃO – Questionada sobre o motivo da vistoria realizada na Vice-Governadoria, a delegada informou que a ação era de rotina e que foi solicitada pela Casa Civil, em ofício assinado pelo titular, Frederico Linhares. No documento, consta o recebimento às 11h51, pela própria delegada Giuliana, pouco tempo depois do fim da sessão extraordinária, em que Quartiero oficializou a sua renúncia do cargo.

“A vistoria em geral durou mais ou menos três horas. A gente jamais imaginava que ia se deparar com um conteúdo desses. Fomos fornecer a segurança da Casa Civil porque a gente percebeu que poderia acontecer alguma desestabilização por parte do ex-vice-governador”, completou a secretária de segurança pública. (P.C)

Jalser diz que cheque foi “plantado”

Em nota, a Superintendência de Comunicação da Assembleia Legislativa de Roraima informou que o presidente da Casa, deputado Jalser Renier (SD), refutou as acusações feitas pelo Poder Executivo e disse que o referido cheque foi “plantado” na Vice-Governadoria do Estado.

“O Presidente Jalser desconhece o referido cheque, cuja conta bancária está sem movimentação e o respectivo talonário está extraviado há anos, e adianta que vai pedir investigação sobre o uso da força policial para uso pessoal da senhora governadora Suely Campos”, alegou.

A nota diz ainda que “o Governo do Estado se utilizou da máquina pública para promover um clima de terrorismo em Roraima e que o deputado irá tomar as providências jurídicas cabíveis para que a delegada Giuliana Castro responda pelas acusações que fez à imprensa”.

Defesa de Quartiero questiona diligência

O advogado Luiz Valdermar Abrechet, da assessoria jurídica de Paulo César Justo Quartiero, também encaminhou nota de esclarecimento informando que a delegada Giuliana Castro não autorizou que o assessor jurídico do ex-vice-governador ou qualquer outro servidor do órgão acompanhasse “a suposta operação de busca e apreensão, que aliás, não contava com mandado judicial ou requisição de autoridade policial competente”.

A nota diz que Quartiero desconhece a existência do suposto cheque apresentado e que a coletiva de imprensa foi convocada pelo Governo do Estado para “tentar enlamear a imagem do ex-vice-governador de Roraima”.

Por fim, a assessoria jurídica completou que já estão sendo tomadas as providências legais para que “os responsáveis por essa ação difamatória e criminosa respondam por seus atos, inclusive a formalização de notícia crime contra o ato da secretária de Segurança Pública do Estado”. “O ato de renúncia do senhor Paulo César Quartiero é fruto de uma decisão pessoal, irrevogável, e que deveria ser respeitado pelo Governo do Estado e seus membros”, finalizou a nota.

ATITUDE ARBITRÁRIA – Membro da assessoria jurídica do ex-vice governador, o advogado Pedro Duque acrescentou que esteve no Ministério Público Estadual na tarde de ontem, 26, onde conversou com o Procurador Geral de Justiça, Alessandro Tramujas Assad e adotou um procedimento específico haja visto o que preconiza a Constituição Estadual.

“A titular de Sesp tem foro privilegiado, então, encaminhei para a Procuradoria Geral de Justiça que é o órgão controlador de Justiça para adotar as medidas cabíveis a espécie. Ela tomou uma atitude arbitrária, algo muito sério. Formalizei uma declaração e vou fazer uma representação e também já estou preparando uma tutela de urgência e estou verificando a possibilidade de processo. Isso não se faz”, pontuou.

Servidores da Vice-Governadoria reclamam de “visita” de policiais

No início da tarde, os servidores da Vice-Governadoria acionaram a Folha para denunciar que não estavam tendo acesso ao prédio do órgão. A equipe informou que trabalhou normalmente na manhã de ontem, e que se ausentou do local para acompanhar o pronunciamento de renúncia de Quartiero. 

De lá, fizeram pausa para o almoço e, ao retornar ao prédio, perceberam que as fechaduras haviam sido trocadas e que o prédio estava cercado por viaturas da polícia. “Quando fui dar volta nos fundos, estava a equipe da polícia. Eu não me atentei pela viatura. Achei que eles estavam do lado de fora. Eu vi o carro e tudo, mas não imaginei que eles não tinham entrado no prédio”, disse Sabrina Silveira, secretária executiva que trabalha há 15 anos com Paulo César Quartiero. “Dei a volta, entrei lá e disseram que eu não podia pegar nada, que tinha denúncia de crime. Isso foi o que a secretária de Segurança Pública me disse. O advogado tentou entrar para fazer o acompanhamento e não deixaram”, completou.

Sabrina informou que a equipe estava realizando o levantamento do material para entregar na segunda-feira, 29, e que no prédio da Vice-Governadoria havia itens pessoais, como televisão, geladeira e computadores, documentos e materiais de cunho afetivo. “Tenho coisas minhas pessoais, o computador que eu uso é meu, mas disseram que eu não podia pegar nada, não apresentaram nenhum documento, nem nada”, lamentou.

No local, a equipe da Folha tentou acompanhar a ação, mas foi barrada por policiais da Casa Militar e policiais civis. Um chaveiro foi acionado e entrou nas dependências. À Folha, ele informou que trocou todas as fechaduras do local. (P.C)