Cotidiano

Serviços de venezuelanos dividem opiniões

Populares pedem atenção aos imigrantes, mas condenam os constrangimentos na oferta de serviços ou ajuda financeira

A onda de imigrantes em busca de trabalho produziu mudanças nas ruas da cidade. Uns oferecem serviços, outros vendem um pouco de tudo. Assim, principalmente venezuelanos, defendem suas rendas nos cruzamentos de Boa Vista. 

Para alguns condutores de veículos, a ação dos estrangeiros é excessiva. Outros não se incomodam e dizem que é a busca pela sobrevivência. O autônomo Carlos Santos diz que para trafegar na capital é preciso evitar os semáforos, se livrando de aborrecimento e atraso em compromissos.

“É preciso oferecer segurança a quem é alvo dos serviços oferecidos por venezuelanos. Nos sinais não temos segurança alguma e a maioria dos condutores, não têm interesse no que é oferecido”, avaliou o autônomo.

O professor Sandro Peres, acha normal que os estrangeiros ofereçam serviços e produtos para se manter quando fogem de uma crise sócio-econômica no país de origem.

“Eu acredito que para retirá-los dos sinais, teria que dar outra condição, proporcionar outra forma de gerar renda para esse pessoal. Eles fugiram de seu país por conta das dificuldades, e querem vencer aqui. Eu aprovo e admiro a força de vontade deles”, diz o professor.

O comerciante Santos Júnior acredita que a forma de ganhar a vida adotada pelos venezuelanos empobrece a visão e o conceito de Boa Vista ser uma das 50 melhores cidades do país para se viver. “Eu acho muito feio, envergonha a cidade. Eles deveriam procurar outra possibilidade de trabalho, que não fosse só limpar vidro de carro”.

A imigrante Katisuka Zamora tem dois filhos. Casada, ela consegue arrecadar cerca de R$ 500 por mês, fazendo limpeza em para-brisa de carro, num dos semáforos da Avenida Venezuela.

Ela conta que foi difícil deixar o conforto de sua casa, para viver oferecendo serviços nas ruas de um país que não é o dela. “Viemos para cá porque estávamos passando fome em El Tigre [cidade venezuelana no estado de Anzoátegui]. Não há nada, não há comida, por isso viemos para cá. Trouxemos todas as crianças e pegamos a permissão”, disse a imigrante.

Ronald Hernandes, a esposa e os filhos também vivem de limpar para-brisas de carros nos sinais da Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, ele disse que é muito difícil sobreviver da atividade, a Guarda Civil Municipal (GCM), sempre fiscaliza e os retira dos semáforos.

A renda que consegue é pequena. Dá apenas para alimentação e por isso dormem na rua. Ele sonha em conseguir um trabalho com carteira assinada no Brasil. Questionado sobre os produtos que usa para realizar o serviço, ele não quis falar.

“Migramos para buscar melhorias para a família. Quero conseguir um trabalho, cuidar da nossa família, sair dos sinais o mais breve possível. Sobre o produto é muito bom, mas não gostaria de falar sobre este assunto”, relatou Hernandez.

PREFEITURA – A Secretaria Municipal de Gestão Social (Semges) através de Nota informou que tem promovido abordagens sociais nas ruas e praças da capital orientando os imigrantes quanto à permanência deles nesses locais, além de fazer os encaminhamentos necessários.

As abordagens têm como base expectativas da população, quanto à retirada de estrangeiros dos espaços públicos, para evitar constrangimentos aos condutores e a depredação desses locais.

A Prefeitura diz que realiza ações de amparo aos venezuelanos em áreas como educação, matriculando as crianças nas escolas; de saúde, com atendimentos nos postos de saúde e Hospital da Criança Santo Antônio e no social, com o levantamento e cadastramento junto aos programas sociais, porém, a inclusão em programas e projetos sociais depende de documentação de permanência no país. Além disso, busca junto ao governo federal a criação de abrigos para atender aos imigrantes. (E.S)