Cultura

Sintomas vão além de tristeza excessiva

De acordo com especialistas, a depressão pode apresentar sintomas que interferem no batimento cardíaco, na fome, o sono e o humor

Para os profissionais da saúde mental, a depressão precisa ser pensada como uma doença como qualquer outra. Ela é causada por uma associação de diferentes situações, de causa social, ambiental, genética e biológica. Uma delas é a baixa produção de hormônios de seretonina, um neurotransmissor que atua no cérebro e que regula vários pontos do corpo, como o batimento cardíaco, a fome, o sono e o humor.

Por conta disso, os principais sintomas da doença são justamente a tristeza excessiva, quedas ou aumento do apetite, taquicardia, insônia ou cansaço e falta de força de vontade. Até acreditar que está com baixa imunidade e estar sempre doente é um sintoma.

“A depressão é muitas vezes confundida com a tristeza, só que essa tristeza vai aumentando e tomando proporções incapacitantes. Ela nos tira a nossa habilidade de fazer coisas corriqueiras, como, acordar cedo, tomar banho e ir trabalhar. Fazer a sua higiene pessoal, se alimentar de forma saudável, num ritmo normal, nem comer demais, nem perder o apetite, coisas simples. Tudo perde a graça, perde o sentido”, explica a psicóloga Mariana Pessoa

Inicialmente, por conta das atribuições biológicas, muito dos pacientes atribuem os sintomas da depressão a outras causas e procuram auxílio médico por achar que estão com outros problemas de saúde.

“Quando uma pessoa começa com esses sintomas, antes dela conseguir identificar realmente que ela está depressiva, dão muitas entradas em pronto socorro, achando que estão tendo um infarto ou algo do tipo. Lá no hospital são realizados vários exames e é identificado que uma pessoa não tem nada de cunho biológico, de cunho físico, então, essa pessoa geralmente é encaminhada ao psicólogo ou ao psiquiatra”, completou a psicóloga.

A partir da recomendação médica, de acordo com o nível da doença, será recomendado que o paciente faça terapia com um psicólogo e que receba orientação de medicamentos do psiquiatra, além de outras atividades, como mudança no padrão de vida ou uma aquisição de hábitos mais saudáveis.

Em relação aos níveis da doença, o psiquiatra Alberto Iglesias informou que, eles existem entre depressão leve, moderada, grave sem sintomas psicóticos e com sintomas psicóticos, sendo que alguns casos mais graves, alguns pacientes afirmam até ver vultos e ouvir vozes.

Nos casos mais graves, Alberto reforça que o principal medo do profissional é que o paciente desenvolva os pensamentos de morte ou a tentativa de extermínio. “A gente tem todo esse cuidado pra evitar que o paciente tome essa atitude contra a própria vida ou contra a vida de outras pessoas. Se ele fizer isso ou se tiver o risco muito grande, o tratamento é internação”, explicou.

Em Roraima, a Ala de Psiquiatra do Hospital Geral de Roraima (HGR) oferece seis leitos de internação para os pacientes que apresentam sinais ou pensamentos de morte, explicou Alberto. Segundo ele, até o momento, apesar do número pequeno de leitos, a demanda no Estado é atendida.

Porém, o profissional explica que, em muitos casos, o paciente só procura por ajuda já nos piores momentos da crise. “Não era pra acontecer isso, era pra ter todo um trabalho preventivo de tratamento, para o paciente não chegar ao médico já numa tentativa de morte”, afirmou.

População precisa encerrar preconceito e acreditar que a depressão é uma doença como outra qualquer

Uma das situações levantadas pelos especialistas em saúde mental é o preconceito em relação à doença e os profissionais que atuam nessa área que muitas vezes dificultam e até impedem o tratamento de uma pessoa com depressão.

Para Mariana, quanto antes a população entender que a depressão é uma doença como outra qualquer, mais rápido vai conseguir procurar auxílio médico e obter um resultado mais rápido, antes de passar meses ou anos convivendo com os sintomas.

“A depressão é uma doença, a pessoa não escolhe ter depressão, como não escolhe ter câncer, por exemplo”, disse Mariana. “As pessoas precisam entender que a nossa ajuda enquanto amigo e colega é limitada. Por mais que eu escute o meu amigo, não vai ser como a escuta de um psicólogo. Essa pessoa realmente precisa da ajuda de um profissional. Então, os familiares vão atuar como apoiadores e como facilitadores, facilitar para que a pessoa chegue o mais rápido possível a uma ajuda especializada”, pontuou a psicóloga.