Cultura

Superexposição nas redes sociais pode ser vício, diz especialista

O médico psiquiatra Alberto Iglesias fala sobre o abuso de exposição na internet

Mais do que compartilhar links, informações e fazer novas amizades, as redes sociais funcionam como diários virtuais em tempo real. São comuns posts de gente narrando a rotina, reclamando do trabalho, mostrando a roupa do dia, o prato do almoço ou exibindo sua localização: na academia, na faculdade, no hospital ou na balada. Isso sem contar os “selfies” (autorretratos).

O que vemos hoje é que todos nós dependemos da internet, querendo ou não, e ainda somos bombardeados por quantidade absurda de informações.

De acordo com o psiquiatra Alberto Iglesias, na psiquiatria todos os anos, criam novas definições de vícios, como vícios de internet, de jogos eletrônicos, sexo virtual e ultimamente vícios de aplicativos de rede social, e a super exposição se transformou em um deles.

“O que começa como uma coisa simples, divulgação de dados básicos pessoais, fotos reservadas e comentários sem maiores consequências, acaba virando em alguns casos exageros, horas e horas gastas por dia nas redes sociais, fotos e vídeos expondo toda rotina e atividade da pessoa”, explicou o especialista.

Mas porque as pessoas estão fazendo superexposição de suas intimidades nas redes sociais? Como todo vício o objetivo básico inicial é gerar prazer, para manter o vício, o cérebro precisa de mais e mais do mesmo ato para manter o mesmo nível de prazer inicial.

“A criação de um mundo perfeito nas redes sociais começa a demorar muitas horas do dia, fotos cada vez mais produzidas ou com efeitos. Atualizar os lugares bonitos e paradisíacos em que estamos tem que ser feito de forma imediata, sem mesmo dar o tempo de aproveitar aquele lugar”, explica.

Segundo Iglesias, a confirmação que as pessoas estão vendo estas novas atualizações e curtindo, gera prazer imediato nas pessoas.

“O que leva a pessoa apenas a contar o numero de curtidas, não mais se importando em qualidade mas sim em quantidade”, relata.

O excesso deve ser tratado como um problema grave e que a tendência é aumentar, gerando graves consequências ao individuo.

“Sabemos que há muitos empregadores querendo contratar somente funcionários que não usem celulares. Nos EUA e outros países que carecem de uma legislação trabalhista, muitas pessoas são demitidas por uso do celular em local de trabalho e postagens “inadequadas” em redes sociais”, comentou.

Para o psiquiatra, as novas tecnologias, para cumprir sua função social, têm de ser tangíveis a todas as pessoas, porém o seu uso não se deve exceder a partir do momento em que as pessoas se dediquem mais às telas dos celulares do que o seu próprio lazer ou momentos de alegria.

“Nesse caso, nossa função é apenas de alertar os “malefícios” desta superexposição nas redes sociais, que podem prejudicar as atividades laborativas, familiares e por incrível que pareça as atividades sociais” finalizou.

Alberto Iglesias é médico Psiquiatra e Membro Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria.