Cotidiano

Termelétricas apresentam problemas após falha em Linhão de Guri

São mais de 100 apagões registrados. No Final de semana, as termelétricas foram acionadas e tiveram que ser desligadas 6 vezes

A população roraimense sofreu neste final de semana, por conta de um apagão na linha de transmissão Macágua-Las Claritas, na Venezuela, o chamado Linhão de Guri. No início da noite de sábado, o sistema teve que ser desligado por conta de um acidente com quedas de árvores, e só foi retomado às 15h de domingo. O Linhão de Guri abastece Boa Vista e os municípios de Cantá, Rorainópolis, Alto Alegre, Mucajaí, Caracaraí, Pacaraima, Bonfim, Iracema e São Luiz do Anauá, que são interligados ao sistema de transmissão venezuelano.

Nas cerca de 18 horas em que o Estado precisou ser mantido pelas termelétricas ocorreram mais seis desligamentos, que atingiram todos os municípios do Estado.

Em média, a energia retornava 20 minutos depois de faltar, mas em alguns dos casos a demora no retorno passou de 30 minutos.

Nas redes sociais, muita gente reclamou das oscilações que aconteciam a cada 20 minutos, receosos que aparelhos eletrônicos como TV, refrigerador, ar-condicionado, entre outros produtos pudessem danificar com a sobrecarga de energia.

A Eletrobras Distribuição Roraima informou por meio de nota que os problemas com as termelétricas foram técnicos, ocasionados por falhas no sistema de distribuição de energia.

“Foi acionamento do parque térmico da Eletrobras Distribuição Roraima e após quatro horas em operação ocorreram desligamentos de energia causados por problemas técnicos no sistema de distribuição de energia. As equipes que estavam monitorando o sistema trabalharam e restabeleceram o fornecimento de energia pelas termelétricas”, disse a empresa em nota.

Contratos milionários para empresas pequenas

O parque térmico do Estado, com quatro termelétricas, possui capacidade de geração de 220 Megawatts. O consumo de energia em Roraima, segundo a Eletrobras, gira em torno de 180 Megawatts. As térmicas que complementam a energia de Guri são: Monte Cristo com 97,1MW; Jardim Floresta com 40MW; Distrito Industrial com 40MW e Novo Paraíso com 12MW.

Os geradores termelétricos que abastecem o Estado de Roraima de energia são administrados por apenas duas empresas. A Soenergy – Sistemas Internacionais de Energia S/A cuida de apenas um parque térmico. As informações sobre seu capital social não constam no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal.

Já a termelétrica Oliveira Energia Geração e Serviços LTDA., com sede em Manaus, é responsável por todos os demais parques térmicos. Segundo matéria publicada pela revista Veja no ano passado, chama atenção o fato de uma empresa sem projeção nacional ter sido agraciada com o maior contrato. De modesta revendedora de motores de barco, a Oliveira deu um salto a partir de 2009, entrando no mercado de geradores. Tirou proveito do programa Luz para Todos, do governo Lula, e assumiu projetos para abastecer cidades de Roraima e Amazonas com usinas térmicas. Atualmente opera cerca de quarenta dessas usinas. Já faturou mais de 300 milhões de reais em contratos públicos nos últimos anos. Técnicos da Aneel pressionam o Ministério de Minas e Energia para que este reveja as portarias e procure uma solução mais transparente e menos onerosa para abastecer Roraima. Até agora, nada foi decidido.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Urbanitários de Roraima, Roberto Rivelino Benedetti, em entrevista concedida mês passado para a Folha de Boa Vista, a Boa Vista Energia S.A. paga para uma empresa proprietária de uma usina termelétrica local, nada menos que R$ 26 milhões de reais todos os meses, para que não falte energia elétrica quando o fornecimento de Guri é interrompido momentaneamente.

Segundo o sindicalista esse valor é pago, independentemente das horas de funcionamento das turbinas daquela termelétrica. Ainda segundo Roberto Rivelino, o faturamento médio mensal da Boa Vista Energia é de R$ 40 milhões, o que significa que 65% dele está comprometido para o pagamento dessa empresa.

Roraima registra mais de 100 apagões em 4 anos

Único estado do país que não está ligado ao sistema elétrico nacional, Roraima vive uma rotina de interrupções constantes no fornecimento de energia. No acumulado de 2014 até 2017, foram 102 blecautes ligados a falhas no fornecimento de energia elétrica em Roraima, prejudicando os moradores de Boa Vista. E o número tende a crescer. Em 2014 foram 7, em 2015, foram 24, em 2016, Roraima teve 38 apagões e em 2017, foram 33 registros.

Em 2018, antes deste final de semana, já tinham sido registrados três apagões nos últimos dois meses. Já houve ocasiões que o desabastecimento nas cidades durou mais de 10 horas afetando 440 mil moradores, pois quando há interrupção no fornecimento de energia, é comum que também falte água.