Cotidiano

Uber cogita possibilidade de iniciar serviço em Boa Vista e faz cadastro

Empresa norte-americana Uber iniciou o processo de cadastramento de possíveis motoristas que irão atuar na cidade

Considerado um expoente da terceira onda de inovação da internet, o serviço de transporte particular Uber já cogita a possibilidade de instalar-se no Estado. A empresa multinacional norte-americana, detentora do aplicativo, iniciou recentemente, em Boa Vista, o cadastramento de possíveis motoristas. Na região Norte, até o momento, quatro capitais contam com o serviço em funcionamento: Manaus (AM), Belém (PA), Palmas (TO) e Porto Velho (RO).

O cadastramento deve ser feito incialmente pela internet, através do portal Uber.com. Depois de realizado o procedimento, o motorista interessado deve ir até o local onde está sendo efetuada a segunda etapa, em uma sala de um hotel no bairro Cauamé, zona Norte de Boa Vista. Lá, o candidato passa por uma espécie de entrevista e participa de uma palestra de aproximadamente 40 minutos sobre o funcionamento do serviço.

Um professor que realizou o cadastramento disse à Folha que há algumas exigências para se tornar um motorista de Uber: ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do tipo EAR (Exerce Atividade Remunerada), ter um veículo com ano superior a 2008 completo e, de preferência, modelo sedam.

“A primeira coisa é preencher todo o formulário via internet. Não é pago absolutamente nada. Depois precisamos ir até o local onde está acontecendo a segunda etapa. Lá somos direcionados, recebemos as instruções e participamos inclusive de uma palestra. Eles explicam perfeitamente como funciona o serviço, falam sobre a segurança, pagamento e todos os detalhes. Fomos informados também que, depois de passar por essa fase de cadastramento, o veículo será encaminhado para uma vistoria em uma empresa qualificada, que analisará o carro para saber se está apto e seguro a transportar passageiros”, explicou o professor, que preferiu não se identificar.

“Eles pedem ainda muito sigilo. Não podemos gravar, nem filmar nada durante a palestra. Ainda é um procedimento de especulações, para saber se há gente interessada em trabalhar como motorista. Após atingirem uma média de 100 pessoas cadastradas, eles irão para as próximas etapas de vistoria, antes de iniciarem realmente o serviço na Capital. Ainda não nos passaram nenhuma previsão”, disse.

O professor procurou pelo serviço com intuito de complementar a renda. Por ministrar aulas apenas no período matutino, utilizaria o horário vago da tarde para trabalhar como motorista Uber. “É um serviço extremamente interessante e hoje tenho tempo vago. A pessoa não é contratada pelo Uber. Ela atua apenas como parceira da empresa. Não há chefe e podemos trabalhar no horário que temos disponível. O pagamento, pelo que nos foi informado, funciona da seguinte maneira: 25% da corrida vai para o Uber e o restante fica para o motorista. Toda quarta-feira o dinheiro é depositado na conta”, explicou.

Mesmo pelo fato de não “haver um chefe”, conforme o professor, o aplicativo avalia cada motorista e exige algumas especificações na prestação do serviço. “Você precisa ‘seguir na linha’. Após cada corrida, o passageiro avalia o serviço daquele motorista Uber com pontuação no próprio aplicativo. Se o motorista não atender às expectativas, vai perdendo pontos até não poder mais prestar o serviço. É uma espécie de respaldo”, afirmou.

Na manhã de ontem, 24, a Folha foi até o local onde está sendo realizada a etapa presencial do cadastramento. No momento, por volta das 11h30, não havia nenhum interessado presente. A responsável pelo procedimento confirmou a informação. “Está acontecendo o cadastramento, mas infelizmente não somos autorizados a passar nenhum tipo de informação. Apenas a central, que responde nacionalmente, pode falar a respeito”, disse a mulher, que também não se identificou.

UBER – A Folha entrou em contato com a Central Uber e foi informada, por meio de nota, que o procedimento realizado na Capital não significa a entrada imediata do serviço no Estado. “Estamos constantemente avaliando a possibilidade de novas cidades receberem a Uber, como já acontece em mais de 500 cidades no mundo. Parte dessa avaliação, que é feita em vários níveis, inclui buscar talentos e compartilhar informações com os cidadãos que queiram ter uma nova oportunidade de renda com autonomia, flexibilidade e dignidade dirigindo na plataforma da Uber, e não significa a entrada imediata da Uber em Boa Vista. Quando houver algo definitivo, faremos um anúncio oficial”, frisou a nota.

Taxistas já se mobilizam contra Uber

Após ter conhecimento do estudo realizado pela plataforma Uber em Boa Vista, o Sindicato dos Taxistas tomou a primeira providência: reunir a classe para saber como evitar o funcionamento do serviço na Capital.

De acordo com o presidente do sindicato, Marino Jorge, a frota de veículos disponibilizada aos usuários de transportes públicos, como os táxis convencionais e lotação, além dos ônibus, é superior em proporção ao número de habitantes que demandam pelo serviço. A Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) confirmou a informação.

“É necessário um veículo a cada 10 mil habitantes. Em Boa Vista já temos mais de 300 mil. É só fazer as contas: só de táxis-lotação temos 411 e os convencionais somam 378, isso sem contar os intermunicipais, vãs e ônibus. Não há comércio para o Uber em Boa Vista. Vai prejudicar e comprometer toda a classe que já trabalha há muitos anos. Não tenho nada contra o aplicativo, mas em Boa Vista não há como funcionar”, afirmou Jorge.

O presidente da categoria disse que já conversou com alguns taxistas, mas convidou toda a classe a se reunir no próximo sábado, 27. “Todos os ‘placas vermelhas’ precisam vir aqui para o sindicato. Como já está sendo comentado na Capital, temos que ver o que faremos, além de buscar depois reforço com o Município, através da Emhur”, ressaltou.

EMHUR – Sobre o assunto, a Emhur explicou que o serviço de transporte público no município é prestado exclusivamente por ônibus, taxi-lotação e taxi convencional, e que não há legislação municipal que regulamente o serviço de transporte na forma como é oferecido pelo Uber.

Afirmou que não foi demandado a apresentar manifestação técnica acerca da viabilidade de implantação do serviço de transporte privado na Capital, bem como conceder eventual autorização. “A prefeitura não recebeu nenhum requerimento. Se comprovado que a empresa pretende atuar em Boa Vista, a Emhur, enquanto empresa fiscalizadora, tomará as medidas cabíveis, uma vez que para toda exploração de serviço público exige-se necessariamente a anuência do poder público e permissivo legal que regulamente a atividade”, frisou por meio de nota.
 
Projeto que impõe restrições ao aplicativo tramita no Senado

A Câmara dos Deputados aprovou, no início de abril, o Projeto de Lei 5587/16 que regulamenta os serviços de transporte remunerado individual por meio de aplicativos, como o Uber e o Cabify. O texto determina uma série de exigências para que esse tipo de serviço possa funcionar, incluindo uma autorização prévia das prefeituras. O projeto segue em trâmite no Senado.

Os deputados aprovaram, por 276 votos favoráveis, 182 contra e cinco abstenções, um destaque que retirou do texto expressão “privado” logo após “transporte remunerado individual”. Com isso, os serviços serão legalizados apenas se receberem uma autorização das prefeituras, como já acontece com os táxis.

A emenda determina que o serviço por aplicativos não possa funcionar enquanto não houver regulamentação municipal. De acordo com a proposta, passa a ser responsabilidade dos municípios e do Distrito Federal a regulamentação desse tipo de serviço, que também ficarão responsáveis pela fiscalização, cobrança dos tributos e emissão de Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV) de prestação do serviço. Será exercida contratação de seguro de acidentes pessoais de passageiros e do DPVAT para o veículo.

Pelo texto, o motorista terá que se inscrever no INSS como contribuinte individual. A proposta exige que o serviço deverá ser prestado por motoristas com habilitação tipo “B” ou superior “que contenha a informação de que exerce atividade remunerada exercido”. Os profissionais também deverão estar cadastrados nas empresas de aplicativos ou na plataforma de comunicação.

O projeto ainda limita a idade máxima para os veículos e determina a necessidade de autorização específica emitida pelo poder público municipal quanto ao local da prestação do serviço, além de certificado de registro de veículo em seu nome e placa vermelha.

Saiba como funciona

Criado em 2009, o aplicativo Uber vem causando polêmica. Lançado nos Estados Unidos, o app opera em mais de 50 países e busca oferecer um serviço semelhante ao dos táxis, com diferenças nos preços das corridas e no conforto do serviço. No Brasil, o Uber atua desde 2014.

Os carros do Uber devem ser, em sua maioria, novos e com ar-condicionado. O serviço é disponibilizado através do app e o usuário deve incialmente fazer um cadastro semelhante à criação de uma página em qualquer rede social, colocando informações pessoais e informando o cartão de crédito.

Depois de criada a conta, o usuário informa sua localização e para onde desejar ir. Imediatamente, o aplicativo mostra as rotas disponíveis, valores e quais motoristas estão mais próximos, incluindo quanto tempo levará até chegar ao solicitante do serviço. É informado também o nome do motorista, modelo do veículo, placa e cor.

Um dos diferenciais da plataforma é a segurança. O cliente pode avaliar os motoristas e ver a nota que outros usuários deram para ele. E também acontece o contrário, os motoristas avaliam o cliente no aplicativo. Não existem taxas, bandeira 2 ou cobrança a mais por outro município.  O preço é único do inicio ao fim da viagem.

Ainda há a possiblidade de compartilhar o valor da corrida, caso o usuário esteja com um amigo no carro. Em alguns lugares, já está disponível o pagamento em dinheiro pelas corridas, porém, não são todos os motoristas que aceitam essa forma de pagamento.

O aplicativo também oferece algumas modalidades diferentes de transporte, algumas com maior luxo e comodidade, enquanto outras oferecem a opção de o usuário pagar menos.