Cotidiano

Venezuela volta a exigir cartão de vacina contra febre amarela

Para entrar na Venezuela, brasileiro precisa ter tomado a vacina contra a febre amarela com pelo menos dez dias de antecedência

O Brasil vive o maior surto de febre amarela dos últimos 37 anos. Desde janeiro, o país tem registrado, em média, cinco novos casos e quase duas mortes por dia, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). A preocupação chegou à Venezuela e o país vizinho voltará a exigir ainda essa semana, provavelmente a partir de sexta-feira, o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP) atualizado, na fronteira com Pacaraima, Norte de Roraima.

A informação foi repassada por meio de um decreto oficial das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB). De acordo com a secretária-adjunta de Relações Internacionais do Estado, Fátima Araújo, os brasileiros precisam ficar atentos em relação à vacinação. Quem não estiver com a vacina em dia poderá ser imunizado pelos agentes do Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributaria da Venezuela (Seniat), presente em Pacaraima.

No decreto, a FANB deixa claro que o acesso à Venezuela será restrito a pessoas que tomaram a vacinação no prazo de no mínimo dez dias. Além disso, será fixado um ponto de imunização na Praça Bolívar de Santa Elena de Uairén (VE) para os próprios venezuelanos. O decreto garante ainda que um ponto de controle seja ativado para fiscalizar as pessoas que entram no país através de “trilhas”. Caso essas pessoas não tenham o cartão de vacina ou estejam com o mesmo desatualizado, serão enviadas ao Seniat pelos guardas nacionais.

GUIANA – A Folha procurou o Consulado da República da Guina, em Boa Vista, e conversou com a cônsul-geral, Shirley Melville. Segundo ela, o país tem conhecimento do surto de febre amarela no Brasil. “Não há, até o momento casos confirmados da doença na Guiana como um todo, mas temos postos de saúde disponibilizando a vacinação para adultos e crianças. Os hospitais oferecem também os Dias Clínicos, quando são ofertadas vacinas para várias doenças. Na nossa fronteira com Roraima [município de Bonfim, Leste do Estado], ainda não estamos exigindo a carteira de vacinação, mas pelo agravamento da doença no país, vamos pensar em ações para prevenir a doença”, disse.

CASO SUSPEITO  
Macaco morre com suspeita de febre amarela em Rorainópolis

Mesmo com o surto de febre amarela no país, Roraima ainda não registrou nenhum caso confirmado. No entanto, de acordo com a coordenadora-geral de Vigilância em Saúde do Estado, Daniela Souza, na semana passada um macaco morreu no município de Rorainópolis, Sul do Estado, na divisa com o Amazonas, após ter contraído uma epizootia, enfermidade contagiosa que ataca um número inusitado de animais ao mesmo tempo e na mesma região e que se propaga com rapidez.

“Pode ser um indício de febre amarela, mas nada foi confirmado até o momento. O caso do macaco ainda está para análise. Aconteceu em uma vicinal em Rorainópolis e estamos aguardando os resultados”, informou a coordenadora. Segundo ela, a responsabilidade pela prevenção e combate à febre amarela é de cada município.

“O Estado está fazendo a sua parte. Reunimos todos os coordenadores de vacinação, prefeitos e secretários dos municípios há um mês e listamos o que precisava melhorar. Estamos apoiando e monitorando as ações, investigando casos suspeitos, monitorando a cobertura vacinal em menores de um ano nos 15 municípios, entre outros”, disse.

Em relação aos municípios fronteiriços, Daniela afirmou que, desde dezembro do ano passado, o Estado tem solicitado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a reativação do posto de vacinação em Pacaraima. “Esta semana mesmo, a governadora [Suely Campos, do PP] reiterou um documento ao ministro da Saúde, mas não obtivemos resposta até o momento. Estamos solicitando isso desde dezembro de 2016, quando a imigração venezuelana ganhou grandes proporções”, frisou.

ANVISA – A Folha entrou em contato com a Anvisa para saber quais medidas em relação ao surto de febre amarela estão sendo tomadas e como funciona a emissão da carteira de vacina. Através de um link, a agência informou que as Coordenações de Vigilância Sanitária nos estados coordenam, acompanham, controlam, avaliam e supervisionam as ações dos postos em aeroportos, fronteiras e portos.

“Os Postos de Vigilância Sanitária são responsáveis pela execução das atividades de controle sanitário em meios de transportes, viajantes, infraestrutura, produtos importados e exportados, serviços e bens produzidos, bem como a vigilância epidemiológica e o controle de vetores em portos, aeroportos, fronteiras, terminais de passageiros e cargas e estações aduaneiras correlacionadas, em articulação com os órgãos de saúde dos níveis estadual e municipal bem como com outros órgãos federais”, informou a Anvisa.

Para sair do Brasil é preciso emitir o Certificado Internacional de Vacinação

O Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP) é um documento que comprova a vacinação contra doenças, conforme definido no Regulamento Sanitário Internacional. A lista com os países que exigem o Certificado está disponível na internet no sítio da Organização Mundial de Saúde.

Para que o cidadão possa obter o Certificado é necessário primeiro tomar a vacina exigida, disponível gratuitamente nos postos de saúde. Em seguida, realizar o pré-cadastro na Anvisa, no endereço www.anvisa.gov.br/viajante e clicar na opção “cadastrar novo” ou no link “cadastro”. O procedimento não é obrigatório, porém agiliza o atendimento prestado para emissão do Certificado.

O terceiro passo é comparecer ao estabelecimento que emitirá o documento. Vale ressaltar que é imprescindível a presença física do interessado, uma vez que a emissão está condicionada à assinatura do viajante.

Recomenda-se entrar em contato diretamente com o Centro de Orientação mais próximo para saber seu horário de funcionamento. Na Capital há um Centro no Aeroporto Internacional de Boa Vista, outro na fronteira com Pacaraima e outro na fronteira com Bonfim. Vale ressaltar que é necessário apresentar a documentação necessária para emitir o certificado: Cartão Nacional de Vacinação e um documento de identidade original com foto. Crianças a partir de nove meses já começam o esquema de vacinação. A população indígena que não possui documentação está dispensada da apresentação de documento de identidade.

Vacina contra febre amarela está disponível nos postos de saúde

Em números parciais, no mês de janeiro de 2017 foram aplicadas mais de 1,5 mil doses da vacina contra febre amarela em Boa Vista. A primeira dose deve ser tomada aos nove meses de idade e um reforço aos quatro anos de idade. Quem toma a segunda dose está imunizado para o resto da vida.

Pessoas que nunca tomaram a vacina e estão programando viagens para regiões silvestres, rurais ou de mata dentro das áreas de risco devem se vacinar dez dias antes. A vacina contra febre amarela está disponível na rede municipal de Saúde. Em nota, a Prefeitura de Boa Vista afirma que há um estoque suficiente de vacinas para garantir a imunização da população contra a febre amarela.

“Boa Vista possui uma cobertura vacinal de 92,6%, ou seja, quase 100% da população está imunizada, segundo dados de 2016. Os usuários podem procurar uma unidade de saúde mais próxima para fazer a vacinação todos os dias. É importante apresentar um documento com foto, o cartão do SUS [Sistema Único de Saúde] e o cartão de vacina”, informa a nota enviada à Folha.